contato |@| sobremusica.com.br

Bernardo Mortimer
bernardo |@| sobremusica.com.br

Bruno Maia
bruno |@| sobremusica.com.br

20.9.07

O samba mainstream

A ascensão do samba ao posto de gênero da vez na música brasileira chegou ao auge neste mês de setembro. Quem acompanhou as capas de revistas, jornais de cultura, programas de tv, etc, viu passar por lá nomes como Roberta Sá, Diogo Nogueira, Mariana Aydar, Pedro Miranda, Rodrigo Bittencourt, Edu Krieger, Nilze Carvalho, Moyseis Marques e, no alto desse altar, Maria Rita e Teresa Cristina. Tentar definir o marco que disparou esse processo é complicado, mas arriscaria três possíveis, ainda que o mais provável é que seja uma combinação muito maior de fatores.


Primeiro é a inevitável aproximação com o aspecto da cultura musical regional proposto pela geração dos anos 90 na música brasileira. Os avanços de linguagem se deram definitivamente pela fusão destes aspectos com as referências globais. Mas por mais curioso que seja, nenhum artista pop conseguiu grande projeção à época por reverenciar fontes do samba. Quem passou mais perto disso foi Cássia Eller, mas ainda assim no momento mais underground da sua carreira. Não conta aqui a gravação ímpar de Bezerra da Silva com o Barão Vermelho, com “Malandragem dá um tempo”, combinado?


Já lá na frente, surge outra faísca nessa história. O flerte de Marisa Monte com as referências que vinham de seu pai, Carlos Monte, antigo diretor da Portela, e que aproximam a cantora dos cancioneiros de Madureira. De certa forma, Marisa sempre passeou por aquela área, mas sem fazer dela seu lar em nenhum momento. Isso só foi acontecer de forma mais radical já no final da década, quando ela já era a cantora mais importante do país em termos de vendagens. Ainda assim, o processo de Marisa foi lento e à surdina. Na maioria das vezes, o público só percebia o que se passava na criação dela, depois de tudo estar realizado. Foi o caso, por exemplo, do disco “Tudo Azul”, com a Velha Guarda da Portela, lançado em 1999 ou da pesquisa intensa feita ao longo de anos revirando arquivos e que só se tornou pública com o lançamento de “Universo ao meu redor”. Nessa história, Marisa foi a isca comercial. O sucesso retumbante dela legitimou mercadologicamente esta tendência cultural, que tem mais um viés.


As misturas feitas no underground carioca, pelo hiphop e pelo rock alternativo, encontraram seus primeiros ecos nos trabalhos do Planet Hemp e do Acabou La Tequila. Porém, como nenhuma das duas bandas enveredou mais fundo nessa linha (talvez porque já existia uma “cobrança por resultados” sobre elas, já que estavam em grandes gravadoras como bandas de pop-rock), coube ao filhote Los Hermanos emergir vestindo a fantasia. A primeira referência de Camelo foi Noel Rosa. Seguiram-se os discos e vieram os sambas de Tom Zé, Chico Buarque, Cartola, Paulinho da Viola e Dorival Caymmi, para ficar só nos mais visíveis. O processo criativo do Los Hermanos foi, sem dúvidas, um grande impulso a uma nova geração, marcada pela era iPod – para qual se diluem a distância propostos pelas gândulas das prateleiras de lojas nos anos 90. Zé Kéti passa a ser tão acessível quanto U2: basta um clique – e com a cabeça mais aberta à pluralidade. Foi utilizando o samba como alicerce da mistura que os ligava a Beck, Weezer, Radiohead e Strokes que os Hermanos serviram como álcool na faísca.

Ok, ok. E o processo de renovação da Lapa, o famoso bairro carioca onde o samba se recriou? Sim, a Lapa é o vetor que emerge como resultante da soma dos vetores acima. Foi na Lapa que estes processos todos se catalisaram e fundiram. A Lapa abrigou o hiphop underground, as novas cantoras, os jovens sambistas com cara de roqueiro... A Lapa é causa, mas é sobretudo o palco. Foi lá que os ingredientes se encontraram. Somamos a isso as questões como a organização dos empresários da região em torno da recuperação cultural do local (movida a samba), algumas intervenções do poder público em levar eventos para a região, as novas casas de shows que foram surgindo quase que em cima umas das outras, etc, etc, etc. Todos estes fatores consolidaram o novo samba. Mas o viés desse texto corre mais pelas questões musicais.

O samba é a música da vez. Com as vendas em baixa e a história da “Cauda Longa” rolando por aí, o samba ajuda a preencher o discurso predominante nestes tempos que é “construir carreira”. O samba, em teoria, se permite ao longo prazo, justamente porque nunca chegou a ser propriamente a música da vez, sempre foi um gênero associado a artistas fortes, mas que nunca lideraram as paradas de sucesso. Tudo que vira “tendência”, mais tempo, menos tempo, passa pelo “desgaste”, independentemente da qualidade que haja ali. Com a jovem guarda foi assim, com a “MPB”, com o rock 80, com o sertanejo, com o pagode, com o axé... É fácil ver que será assim com este novo samba. O que hoje é supercool vira aposta de mercado, satura e é substituído. É normal que seja assim. Enquanto isso, a gente brinca de olhar em perspectiva ainda estando dentro do furacão.

E no fim do texto, é uma boa safra de discos e artistas que estamos assistindo emergir.

2 Opine:

At 16:24, Blogger Bernardo Mortimer said...

Engraçado ter ficado de fora a questão da raiz. Concordo que as misturas que a década de 90 propuseram ao samba foram fundamentais para reelegê-lo como o símbolo da identidade brasileira. Mas acho que lado a lado rolaram alguns movimentos que também mereciam atenção.

Um deles é a prolongação do pagode, o dos anos 90, meio paulista, que nego chamava de sambanejo. A partir de determinado momento, os Netinhos e Salgadinhos e Alexandres Pires começaram a se aproximar de figuras como Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Em grande medida, e sem desprezar a importância do projeto Casa de Samba, foram essas aproximações que re-popularizaram esses grandes nomes e viabilizaram parte do renascimento do samba. Até porque ao reinserir Zeca, Beth e Aragão no contexto, eles puxaram junto (via pagode) uma galera, inclusive de músicos.
Outra história bacana é o renascimento do carnaval de rua do Rio, que conseguiu espalhar os ensaios de bloco para rodas e casas especializadas.
Bom, além disso, acho que o forró também deu uma contribuição forte para o samba. No Rio, então, é batata: quem dançou forró no Lagoinha hoje é bamba da Lapa (mas não necessariamente o contrário). E como apareceu o forró? Bem, no mínimo, dois golpes lá do nordeste pesaram: o Grande Encontro, e o Mestre Ambrósio (a parte mais raiz do mangue bit).

Né?

Abraço,

 
At 15:52, Blogger André Monnerat said...

Simpatizei com as teorias aí do Bernardo. Eu acho também que o sambanejo ajudou a puxar o Zeca e o Aragão de volta pra mídia, e que isso foi um senhor impulso pro samba de agora.

Acho até que, talvez, o Zeca tenha ajudado a galera a simpatizar com o samba antes do renascimento do carnaval daqui.

 

Postar um comentário

<< Home


Aleatório :: João Brasil
VMA 07 e Internet
CHAPPA :: Newsletter Agosto
Mark Ronson e (Amy Winehouse)
Show: Pato Fu no Odisséia
Blogs de bandas
La Tequila Acabou na Lapa
Acontece :: CineCUFA
Tim Festival 2007
sessão youtube

- Página Inicial

- SOBREMUSICA no Orkut



Envio de material


__________________________________

A reprodução não-comercial do conteúdo do SOBREMUSICA é permitida, desde que seja comunicada previamente.

. Site Meter ** Desde 12 de junho de 2005 **.