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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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18.7.05

A Doçura Cotidiana


Quando ouvi pela primeira vez o cd de trilha de Baile Perfumado, mesmo com toda a torcida e expectativa por Chico Science, não tive dúvidas da melhor música do filme. Não à toa, era a faixa-título, com um início estranho, bem 04iano, mas em uma outra voz. “Veneno/ Faz o mundo girar”, um amor violento, árido, uma sedução sangrenta. A voz era de Stela Campos, que pensei na época ser uma pernambucana, disposta a mostrar um mangue bit próprio ao mundo.
Aquele nome (aquela voz) ficou guardado(a) em algum lugar entre o tímpano e o hemisfério cerebral responsável pelo afeto musical, sei lá, e voltava a cada nova audição do Baile Perfumado. Voltei a ouvi-lo (o nome) em entrevistas de Chico Science, que a tratava como a “Billie Holliday de garagem”, e possivelmente a teria adotado como parceira/referência, não fosse um carnaval de 1996, na estrada entre Recife e Olinda.
No terceiro álbum-solo, ao lado de figuras importantes da música alternativa paulista como Catatau, Rian Batista e Maurício Takara, Stela finalmente veio tocar na minha casa. O disco tem jeito de fim-de-dia, de apartamento. O som não é bem de garagem: alto e às vezes abafado. A idéia não é de quintal - expansiva e aberta a quem chegar. A proposta é de apartamento, o que fica bem explícito na bônus track (assim, em inglês) ‘The Girl from 33’, em que vizinhos estranham os hábitos daquela garota fã de Lou Reed, trôpega mas tranqüila, anestesiada e consciente, decidida e satisfeita. Estranha em meio a normais esquisitos das portas ao lado, e confortável com o deslocamento.
Antes disso, o disco começa com uma escaleta meio psicodélica, cercada de loops eletrônicos e hiper tratados ou filtrados. É a história de Edma, uma das hóspedes do título do disco – Hotel Continental, um hospedeiro qualquer de tocadores da vida adiante em São Paulo. “Mas eu não sei mais o que fazer”. Tédio ganha doçura, em um clima que lembra Looper, o projeto paralelo de parte do Belle and Sebastian.
Um otimismo médio, de metrópole cinzenta, colore os passatempos da vida de trânsito, rotina, ritmo incessante e notícias repetitivas no jornal. Assim como 04, Stela é formada em jornalismo. Diferente dele, e ultimamente como eu, vive disso, especificamente na editoria econômica.
Em ‘Bandeira 2’, entra o dj com scratches suaves, em uma eletrônica de poucos beats, melodiosa. Na faixa seguinte, sai tudo isso e entra o inglês como língua, a gaitinha e o violão de aço como folk, e a homenagem a ‘Johnny Cash’.
‘Retrovisor’, ‘Hotel Continental’e, a melhor delas, com um solo de sax fora do tom, ‘Agosto’ são coleções de imagens e contratempos do cotidiano e envelhecimento em São Paulo – não aquela cidade de periferias de luta de classes, uma outra de um coração no cruzamento de uma rua e uma avenida, ou ainda a de uma maloca de estação distante no sistema ferroviário. A cidade de Stela não é frenética nem cansativa, só melancólica e previsível. A felicidade se encontra ali, desde achado o conforto entre a estranheza e a dureza de tantos personagens e não-notícias se cruzando atrás de mais probleminhas que sonhos, de mais desejos que grandes questões. A felicidade pode morar dentro da segurança do mundinho de um apartamento, com o som mais baixo depois que o dia foi embora.
A comparação com a bossa nova, mais um estilo tipicamente urbano e predial, é bem interessante, primeiro porque não dá pra dizer que Stela Campos esteja ao lado de Bebel Gilberto, por exemplo, globalizando uma new bossa que já dialogava - quando era nova - com o cool jazz gringo.
Se for preciso, muito necessário, Stela estará muito mais para Kátia B, por exemplo, embora falte-lhe (a Stela) um pé nos anos 80 de Marina Lima. Os anos 80 de Stela estão muito mais para Nick Cave e Fellini, a banda paulista dos anos 80 que tentou voltar há dois anos no Tim Festival carioca. Stela Campos participou de uma experiência disfarçada de Cadão Volpato, no disco-projeto Funziona Senza Vapori, que deu a Chico Science a segunda cover de Afrociberdelia, ‘Criança de Domingo’. Mas se a bossa nova era de Ipanema, o Hotel Continental é desta antítese.


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