Experiência no Parque Lage
Sábado à noite, céu aberto, o Redentor guardava debaixo da mão esquerda um grupo de pessoas em volta da piscina do casarão do Parque Lage. Um lençolzão branco servia de tela para projeções, e um combo de músicos Binário transformava em som o resultado das reações químicas que a história via se liberando, como se fosse fumaça.Lucas Vasconcelo faz as bases na guitarra se repetirem em loops, e grita poesias remetendo há anos de cep 20.000. Na outra guitarra, Fábio Lima dá um toque de cool jazz em frases cruas. Ruídos de um mundo diferente ao das pessoas convencionais saem sintetizados da mente de Eduardo Manso. No baixo, com linhas em primeiro plano, a metade da versão carioca de Sly and Robbie, Bruno Di Lullo. E, para completar a cozinha jamaicana, Bernardo Palmeira mantém o ritmo quebrado e Rafael Rocha colore as batidas.
O Binário experimenta pelo jazz, drum’n’bass e dub, a tal da música sensorial. Faz parte do show o trabalho de Paulo Camacho, que insere ao vivo, como num live pa, as imagens que substituem os músicos na visão dos participantes da história toda. O que importa são as notas e o que resta delas, aos olhos que se distraiam com imagens impressionistas digitais, de quem já aprendeu os segredos dos ccds há tempos. Flares, focos doces e detalhes fechados que desconstroem o todo entram na dança.
Sinestesia: som sugere imagens, que sugerem viagens, que voltam ao som, temperaturas variam, cheiros se levantam, a idéia é um som exalado que altere a relação platéia/artista para algo próximo a uma instalação plástica. Uma peça de arte que só acontece em um dado momento, um sinal do efêmero que rege os dias contemporâneos, e louva a solidez da memória dos sentidos até a próxima – ver de novo o Binário é sempre uma boa.
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