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27.12.06

The Information, Beck

Os Tempos, Eles São Uma Mudança (ii)


      Beck deu uma série de entrevistas para divulgar o lançamento de The Information, e como é regra nos dias de hoje, o disco vazou antes do tempo. Na melhor e mais comentada das entrevistas do artista, Beck contava à Wired que estava atrás do disco infinito, onde a interatividade chegasse ao ponto de que a música fosse apreciada como um videogame. Como é regra nos dias de hoje, a primeira impressão ao ouvir o disco (em mp3, baixado antes do lançamento) é uma impressão pronta: o trabalho era uma volta ao melhor de Beck, Odelay, mas deixava muitos caminhos abertos, faltava fechar o trabalho. Um raciocínio pré-fabricado, esperando só um audição para referendá-lo. Mesmo assim, foi muito publicada por aí, em papel ou um tela de computador.
      The Information não é um disco infinito, e nem pode ser jogado como videogame. No máximo permite a brincadeira do skip, aquela setinha que faz o ouvinte pular de música. Nem no site oficial há versões prontas para serem montadas, e até onde sei não foi lançado nenhum material alternativo para djs, pelo menos em escala industrial, que justifique uma idéia de personalizar o disco para cada consumidor. E isso certamente funcionou de dois jeitos, comercialmente. Atraiu atenção, posts, reportagens, trocas de arquivos, criação de tópicos, mash ups, etc. Mas a atenção gerou uma decepção.
      Nesse novo trabalho, Beck assume uma máscara diferente. Se tinha sido o indie com suingue de negão em Odelay, o gringo entre latinos de Guero, o Prince louro em Midnite Vulture e o turista na Bahia em Mutations, aqui ele vira tudo isso na forma de um leitor atento e perdido de jornais. O nome do disco é A Informação, e a partir de disso ele aponta excessos de textos, faz desenhos (charges?) de sons, sobrepõe texturas e aposta no non-sense de letras imprecisas, mas com certo tom entre o cinismo e a melancolia. Sobre a falta de sentido de tudo. Para que tanta notícia?
      O tempo, para Beck, é de interferências nos sentidos. Em Cellphone’s Dead, por exemplo, samples que soam aleatórios misturam tv ligada com ruídos de propaganda e de rádio. A voz de uma criança cheia de si ameaça arrebentar todos, um por um. A violência, para Beck, é vazia e só choca fora de contexto. A bateria de contra-tempo fechado e o baixo robótico, mas quente, remetem a um soul dos anos 70, seguidor dos primeiros sons de James Brown. Mas a produção de Nigel Godrich (OK Computer e Kid A, do Radiohead, por exemplo) e a intenção de Beck são o hip hop, e não dá pra dizer que não é isso. Também.
      Assim, Beck faz como a referência Bob Dylan e olha para si quando jovem. Só que Bob, em Modern Times, olha para fora – inclusive para o passado. E Beck olha para dentro, para o sentimento indie de desenturmado no mundo, para a eletrônica suja dos clubes baratos e para o hip hop de contadores de histórias, mais psicodélico do que bandido. Não se trata de uma descoberta da Tropicália, do terceiro mundo, nem da discoteca.
      O branquelo desajeitado tem diversos perfis no espaço dele, mas todos com a mesma senha: folk. Em uma época em que o formato canção parece ter ressuscitado em cima do álbum, Beck aposta justamente no contrário. Um disco que é melhor ouvido em conjunto. No fundo, em meio a texturas, samples e eletroniquices, o trabalho se versa sobre um sotaque sulita de americano, preocupado mesmo é com A Informação por trás de tudo. À espera por uma resposta, afinal de contas, hippie. E só. Muito boa de ouvir.



Nada a ver

      Para mim ainda valeu falar de discos, esse ano. Dizem que 2007 vai ser a revolução. Eu acredito. Mas enquanto isso vou te contar, meus olhos puderam ouvir, e o que me deixou algo feliz sozinho (ou acompanhado) nos últimos doze meses foram esses cinco aqui. Sem ordem, numa boa, só para puxar assunto.

      *) Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not; Arctic Monkeys
      *) Modern Times, Bob Dylan
      *) Pieces Of The People We Love, Rapture
      *) The Information, Beck
      *) Radiodread, Easy Star All-Stars

      Nenhum brasileiro, não leva a mal, fica à vontade pra xingar, mas não teve Marisa Monte, Tom Zé, Moptop ou Caetano Veloso que me sensibilizasse mais do que esses aí.

      E aproveitando que você veio até aqui, a lista do que não bateu em mim, em 2006.

      *) Hot Chip (clipes e músicas)
      *) Carioca, Chico Buarque (o disco, o cara ainda é o cara)
      *) Devendra Banhart (o conceito por trás... não, brincadeira, tudo)
      *) Bonde do Rolê (não vejo graça, mas a performance é boa)
      *) Show do dj Shadow na Marina da Glória (caidinho)

1 Opine:

At 22:26, Blogger Fábio Andrade said...

Curioso o texto mencionar todos os discos do Beck exceto o "Sea change" - justamente o meu álbum favorito do homem. Se você ainda não ouviu, corre atrás que vale a pena.

 

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