Canastra no Canecão (abertura: Lasciva Lula)
Clima de BaileO Canecão recebeu o Canastra com um público jogando a favor. Não eram tantos quanto no mesmo evento de um mês atrás, quando o Moptop recebeu o Móveis Coloniais de Acaju, mas dava para dizer que para uma terça-feira, estava bonito. E até surpreendente, sendo os dois shows de bandas cariocas com cd lançado recentemente, o que significa estarem as duas tocando bastante e seguidamente.
O Canastra preparou um show maior, com participação fixa de um violinista, e com dois integrantes extra no naipe de metais: um segundo saxofonista (barítono) e um trompetista. No caso desse último, o guitarrista Fernando Oliveira ficou sem tocar praticamente o seu trompete. A troca não melhorou tanto a pressão da metaleira, até porque Fernando segura bem a onda nas frases simples e certeiras das músicas da banda. Agora, que um sax barítono dá outro peso ao conjunto, ainda mais do lado de um trombone, isso dá. Ou seja, se o formato for mantido, mais ensaio. Até para Fernando também definir a guitarra nas horas em que empunhava a corneta lá dele. Quanto ao violino, muito bacana.
Dito isso, os elogios. Uma coisa é pegar cento e cinquenta pessoas onde cabem cento e cinquenta pessoas e botar todo mundo para dançar. A outra, é convencer até três ou quatro vezes isso a se mexer onde cabem duas mil. E o Canastra foi bem. A movimentação de palco, os deslocamentos de todos, inclusive de Edu Vilamaior e o pesado contrabaixo, os revezamentos nos microfones, as piadas de Renato Martins... Tudo isso contou. Mas o que definiu foi um repertório voltado cada vez mais para o baile. São suingues, namoros com Jovem Guarda, misturas de country e surf music, e uma melancolia de samba antigo que se juntam para formar um universo próprio, algo retrô e outro algo animado.
Portanto, tudo conta, como eu disse. Os uniformes de camisas coloridas, os topetes hillbillies e a mesa de carteado no saloon criam um cenário de parque temático, com uma diferença: a música entra com a alma. Por mais que o que se ouve tenha muito de Squirrel Nut Zippers, também se reconhece ali toda uma série de influências e até de clichês pop reaproveitados e rearranjados. Um show deles é uma chance de reconhecer gravações no subconsciente. E o que o tamanho do Canecão podia atrapalhar nisso, os fãs trataram de ajudar.
Sem muita diferença entre as músicas do primeiro e as do segundo disco, a reação do público vinha em muitas palmas, e em coros em vários trechos das letras. A primeira metade do show teve mais danças, é verdade. A participação teatral de Nervoso em uma versão meio cubana da tomwaitsiana O Bom Veneno, bem no meio do show, pode ter marcado simbolicamente o início da segunda metade, quando o bpm da apresentação caiu e o clima de baile se moderou, sem de desfazer por completo. Daí, vieram as mais lentas e as covers, tanto umas quanto as outras bem recebidas pelo público cúmplice. No fim, a sugestão do baterista Marcelo Callado e de Nervoso por um bis não teve como não ser aceita.
Cheguei na metade do show, o que não me credencia para nada, mas vou dizer: foi o melhor show do Lasciva que já vi. O melhor, e o terceiro ou quarto, portanto tá dado o meu parâmetro. Felipe encarna o seguidor de Pixies com personalidade, e letras de muita personalidade - ainda mais se você souber que aquele vocabulário e preocupação com os fonemas vêm de um cara que revisa textos em uma editora. Os outros três quartos da banda acompanham essa história de personalidade que vai de um indie anos 90 até uma psicodelia anos 70, sem saudosismo chato. E o público, já que o texto tanto fala deles, cantou junto para caramba.
Mais fotos de um e de outro show, aqui.
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