O que o vento vai dizer...
O novo clipe do Los Hermanos, da (maravilhosa) música "O vento", é hermético como o disco. Numa primeira audição/visão parece tosco. E é. O clipe é bem tosco. Fico me perguntando: Se a minha banda fizesse um clipe daquela qualidade, com aquela "linguagem", seria indicado ao VMB???
imagem tirada do site do VMB2005
De qualquer forma, o clipe mostra que a banda continua coerente. A postura é a mesma já descrita aqui no site. Por preguiça, vou recuperar (viva o Ctrl+C) um trecho do que já escrevi. Cabe perfeitamente aqui. Ser diferente não é uma escolha, é uma conseqüência. "É difícil perceber até onde os caras ainda são naturais ou até onde se esforçam para manter um discurso bobo que montaram para si e do qual não conseguem mais fugir". "Esse suposto relapso, dessa vez, soa tão falso, bobo e infantil, que me faz acreditar que o grupo virou prisioneiro do próprio personagem que criou para si".
O total relapso do clipe segue a linha "vamos-fazer-diferente-do-que-todo-mundo-faz", simplesmente pra 'ser diferente'. O que adianta ser diferente se não é bom? Essa noção de recusar o sucesso, de só querer levar uma parte de todo o pacote que envolve o fato de se estar numa banda de rock famosa nacionalmente, é perigoso. A banda tem que ter a noção de que de tanto recusar esse sucesso, o sucesso pode, em um dado momento, os recusar também. É aquela mesma história dos times cariocas que flertam todo ano com o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Tanto flerta, que uma hora conquista. Eles têm que ter essa noção de que se um dia o público deixar de tratá-los como uma banda do primeiro escalão do rock nacional, isso terá sido consequência natural de todas as posturas que eles vêm tomando ao longo dos anos. Assim como fazer sucesso por meio de playbacks em programas de auditório é ser fácil, fazer o oposto para fugir daquela situação também é muito fácil. Difícil, é saber se valer das ferramentas do sistema para construir a carreira sempre com a maior qualidade possível. Talento, é indiscutível que eles têm. Não há porque recusar o que de bom o "star-system" oferece para fazer sua obra se comunicar com o público. A arte tem que falar com alguém. Não existe arte para si. O clipe de "O vento" não é feito para falar com ninguém.
Mas fala. Para mim falou.
Numa primeira aferição, não gostei e pronto. Da segunda vez, a coisa mudou. Gostei do clipe por motivos muito particulares. Quem passou 2005 no Rio de Janeiro, vai me entender.
O clipe se passa ao longo de um dia lindo, com um sol retumbante e pesado, torrando nossas cabeças e asfaltos. Esse ano, os dias na cidade do Rio foram especialmente bonitos. O sol foi mais generoso do que nunca. As nuvens estiveram muito longe daqui. Sem nenhuma estatística, ouso chutar que em 80% dos dias de 2005, eu não vi nuvens no meu céu. Os dias foram especialmente lindos e isso me afetou profundamente. Esta é a principal marca que vai ficar na minha memória quando pensar em 2005. Assim como no auge da minha 5ª série, tive a sensação de que o mês de maio daquele ano (1993) foi o mês mais longo da minha vida. Não houve nenhum motivo especial. Não fiquei triste, não foram dias ruins, mas simplesmente o mês não passou. Demorou muito! Até hoje eu guardo essa lembrança de que maio de 1993 foi o mês mais longo da minha vida. Da mesma forma, 2005 vai ser o ano mais ensolarado e bonito (plastica e paisagistacamente falando) da minha vida. O clipe me remeteu a isso. A esses dias seguidos de sol, de não-nuvem. Cariocas não gostam de dias nublados e eu sou carioca. Este ano, trabalhei muito em casa, de frente para janela, vendo esse tal sol todos os dias. Assim como Beto Guedes fala do "sol de primavera", no clipe de "O vento" eu vejo o meu "sol de 2005". Por isso, eu gosto deste clipe. Ele continua sendo mal-feito e muito. Mas eu gosto, porque ele fala comigo numa coisa que só eu sei.
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Nada contra o diretor do clipe, mas assim como elogiei a postura de Zezé di Camargo e Luciano de terem ido buscar grandes nomes para fazerem o filme, e não um diretor amigo lá dos tempos de Goiás, acho que o Los Hermanos acaba ficando muito restrito a um universo de pessoas. O argumento é de que eles se identificam com a forma como essas pessoas enxergam a arte. Isso também me incomoda. Dá a sensação de que as outras formas de enxergar a arte, com as quais não necessariamente você precisa se identificar, são menos relevantes. Outras formas de encarar arte e de encarar as ferramentas da arte, podem levar a obra a um novo lugar, provavelmente mais interessante. O que teria acontecido se Chico não tivesse se juntado com Caetano e Gil no início da década de 70, por "não se identificar com a forma que eles vêm a arte"? Certamente, a arte estaria menos rica. Esta postura, pra mim, é restritiva, pretensiosa e egoísta. Pouco generosa. Acho que se outros nomes, com outras visões, passassem a trabalhar com esta ótima banda, a arte tenderia a ganhar. E muito.
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Cada dia eu gosto mais das canções de "4". Mas ainda sim, acho "o disco" equivocado.
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Não vejo a hora de voltar a escrever sobre Magic Numbers. Não tarda. Afirmo, com toda a força dos verbos imperativos, que é a melhor banda de todos os tempos. Da última semana, é verdade. Mas não deixa de ser.
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Eu ainda adoro Los Hermanos. É importante deixar isso claro. Continua sendo, para mim, a melhor banda brasileira em atividade, musicalmente falando. Nunca daria tanto espaço para um grupo que eu não admirasse demais. Não gastaria meu tempo escrevendo sobre algo que eu não tivesse carinho. Não aqui. Só acho que a melhor forma de gostar é se permitir discordar, criticar. É a discordância que permite uma dialética maior, e isso é bom. É assim que o pensamento se move. Dialeticamente.
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Até mesmo por isso, costumo dizer que adoro quando alguém deixa um comentário discordando de mim. Prefiro (muuuuuiiiiito mais) que discordem de mim, do que o contrário.
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Concorda?
6 Opine:
Discordo de várias coisas, mas o que me interessa aqui é o seguinte: http://pedroalexandresanches.blogspot.com/ , dia 31, dá uma lida e me fala o que pensas. Lê também, não precisa ser tudo, vai pulando, os comentários.
Tem umas coisas que batem um pouco com o que vc diz, e outras não.
Penso que eu escrevi antes dele mais da metade das coisas que ele falou.
Diria que ele foi preciso. Só não digo, porqe]ue seria pretensioso e pouco humilde da minha parte, já que nossas leituras foram tão parecidas.
E vc? Discorda de quê?
Pra mim, ser diferente é buscar o novo. Como objetivo e meta, é nobre. Quando dá errado, ei, é um erro, ou se perdoa ou se lastima, cada um que avalie e opte.
Quanto ao diferente que não é novo, bem, não é diferente.
A parte do flerte, só posso entender como um choro de vascaíno. O que é o sucesso? Um pacote pronto? Vou sempre e insistentemente brigar contra essa idéia louca. Vou sempre admirar quem buscar a tranquilidade sem abrir mão de crescer, e sem abrir mão dos próprios parâmetros. Qualquer outra forma (abrir mão do sucesso, ou dos parâmetros) me parece medíocre. E desprezível.
Quando, dentro dos parâmetros, está o risco, minha admiração é maior ainda. Por isso gosto de filmes independentes, que fogem de testes de audiência, em que o diretor tem corte final, em que o roteiro desobedece uma escola rígida - seja ela sundance ou doc comparato.
Claro que nada disso indica qualidade, mas estou falando de postura, não estou fazendo crítica. Coisa que aliás, gosto muito de fazer e de ler. E tento sempre correr riscos, e me expor.
Não gosto quando você liga a escolha de um diretor amigo a hierarquização das formas de ver a arte. Acho que afinidade e conforto com uma coerência de idéias não são sinônimo de hierarquisação da arte, sendo a própria a privilegiada. Acho muito pior a seleção de grandes nomes, simplesmente pelo tamanho deles. Não sei em que isso dá, a não ser numa grande repetição de fm. Voltando ao cinema, gosto muito de Walter Carvalho como fotógrafo, mas gosto muito de quem ousa (Conspiração é outra discussão) escolher um outro talento. A busca de grife não tem nada a ver com arte, e isso não quer dizer que o W Carvalho deve ficar desempregado no que depender de mim. Talvez os diretores e produtores devessem só ser mais criativos, e ampliar o mercado. O próprio W Carvalho é um que trabalha bastante com gente próxima. É um motivo que o torna um grande cara.
O que é ruim, sem dúvida, e você concorda comigo, tenho certeza, vou repetir, é a repetição.
Repetição é muito chato.
Repetição é muito chato.
Não me lembro absolutamente de nada de maio de 93. (Mas isso é só implicância).
Vou ler depois o texto do cara.
Mas esse clipe é MUITO ruim, e das coisas mais pretensiosas que eu já vi na vida.
Não vi o clipe, não ouvi o disco com calma.
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