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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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4.11.06

Festival da Marina da Glória

Considerações Finais: So What'cha Want?


      Hora da sessão de análise. O Festival foi bom, mas abaixo dos últimos anos. Para começar, que me perdoe o resto do mundo, mas o MAM é melhor que a Marina da Glória. Não achei ninguém que concordasse comigo, e tentei. É que a minha teimosia é uma arma, pra te conquistar, leitor. Leitor... O MAM fica mais perto da passarela, mais perto da Cinelândia, mais perto do estacionamento do aeroporto, de acesso bem mais fácil. Não sei como funcionou o esquema de vans para quem resolveu deixar o carro em qualquer desses pontos, ouvi críticas e elogios. Mas para quem ia de ônibus ou de taxi, e imagino que teve quem fosse a pé; e ainda mais para quem voltava de taxi ou de ônibus, ou a pé, não deu certo.
      Agora isso é o de menos. Mais importante é que o Village do MAM é muito mais legal do que o de agora. O espaço para se dar um tempo antes do show começar, de circular, ou de encerrar a noite no clima de encontros e desencontros aleatórios da vida 2.0 funcionava mais nos anos anteriores, mais concentrado, sem cara de passagem. Não era apertado. A operadora preferir não se meter no lugar da concorrente é de se entender, e é legítimo. Mas todo mundo entrar na onda, não entendo. Na Marina, ou se ficava no pufe central, descoberto, ou se ficava no meio do corredor, onde tocava um dj. A energia toda daquele povo de um lado para o outro, parecendo highway. O Rio é de esquinas, pessoal. Antigamente eram mais opções, show surpresa, livraria, uma área livre mais agradável. E mais, o dj não parecia estar na praça de alimentação da galeria comercial do Centro da cidade.
      Quanto à cobertura da imprensa, não tive nada a reclamar. Como o sobremusica não conseguiu cobrir o evento, ficou só com os shows que achou imperdíveis, a curiosidade obrigou a acompanhar a tudo pela internet. E francamente, tanto o Urbe, quanto o g1 e o Globo On foram bem. Cada um tem um tamanho e um papel na sociedade, e cada um cumpriu bem com isso.

      Mas, na real, tudo isso é detalhe. Não é o que faz o festival. Aí sim, faltou uma atração de peso para o sábado, o YYY é banda de abertura, não é para fechar um palco principal. Fez um bom show, pelo que ouvi, mas não esgotou ingressos. O Lab também já teve atrações melhores. Kings of Convenience, Cake, Arcade Fire, Wado, Wilco, Mars Volta, Cinematic Orchestra, Panjabi MC, Bebel Gilberto e Libertines têm todos mais apelo do que Bad Plus, Thievery Corporation (esse empata com o Morcheeba, na verdade), Marcelo Birck e Céu - só para citar os que eu gostaria muito de ter visto. E mais, o fato de nenhum show passar de uma hora e meia é no mínimo um absurdo. Para quem já viu o Otto brigando para ficar em um evento anterior versão Project e o Public Enemy se recusando a deixar o palco, fora o Branford Marsalis fazendo um dos maiores bis da vida, em São Paulo, não dá muito para admitir, né? Alguém tirou da tomada os andróides do Kraftwerk? Não que eu me lembre.
      De qualquer forma, é um dos eventos mais esperados do ano, e satisfação garantida. A propósito, o milagre dos seguranças bem-educados é de se louvar.


      Agora, o negócio mesmo, é o seguinte: Beastie Boys. Era o show da minha adolescência. Uma banda que tem um disco perfeito muito diferente do outro. Tem o mais puro rap roqueiro juvenil, em uma releitura instantânea do clássico do mesmo ano 'Raising Hell', Run DMC. Tem o Sargent Peppers da década de 90, via samples e colagens doidas. Tem a volta à old skool. Tem o hard core funk metal cheio de suingue. O rap do futuro, o rap cidadão do mundo. Beastie Boys é muitos. Qual deles viria ao Brasil? Todos? Não dava pra saber. Veio o da velha escola, três mcs e um dj. Um show para fã, que soubesse reconhecer a música sem necessariamente todos os elementos, principalmente sem Money Mark, o tecladista super herói ao lado de Mix Master Mike. Nem todo mundo sabia as letras, muitos não conheciam as músicas, pulavam no começo e paravam. Quer dizer, o publico estava muito a fim de estar ali, muitos pegaram a ponte aérea para isso (ou vieram de ônibus, vá lá), mas talvez não estivesse pronto para um show cru. Só de essência.
      O que segurou as pontas foi a cumplicidade entre o carisma de Ad Rock, MCA e Mike D, e o clima de um show à beira mar no Rio de Janeiro. A gente é foda. Enquanto um dj de oito braços manipulava sons, texturas, scratches, pitches, e muita malandragem – o dj Dolores falou em playback, como sempre alguém fala – os três mosqueteiros denunciavam: instrumentos são legais, mas vocês não estão se divertindo só com isso? Mal comparando foi que nem o Acústico do Nirvana, que revelou que havia mais do que distorção na ponta de lança do grunge. Melodia, sentimento, voz das ruas, idéias, tudo isso tem que estar nos grandes artistas, mesmo que o formato seja o mais simples.
      E olha só, quando veio o set com instrumentos, quatro ou cinco músicas – quem é que tem tanta memória assim? – o jogo já estava ganho. É lógico que o disco Ill Communication tinha que ter uma guitarra de seis cordas mesmo, de verdade, ali. E foi isso, músicas desse e de Licensed to Ill que se viram no meio das desculpas (“It’s the sponsors”) por não estar tocando mais. Uma hora e quase meia de show? Pouquíssimo. Mas passou como a eternidade de quem tem histórias de vida de memória – e nessa hora é, sim, um tanto assim. Que venham outras vezes, tomar sucos de abacáxi (tem gente que ouviu abacate) e de tandjerinea. Da próxima vez, a galera do Leblon há de ser tão receptiva quanto foi Mario Ci, aquele que em português se diz Mario Caldato.

      Ah, e só para não deixar passar em branco: no show mínimo do Daft Punk, quando deu para perceber que tinha acabado mesmo, formou-se uma multidãozinha para gastar os tíquetes de cerveja que não podiam ser usados lá fora. Tinha gente com mais de um para usar. E sabe o que aconteceu? Um cordão de seguranças educados se deu as mãos e foi varrendo o povo para fora. Em outros festivais, algo parecido tinha acontecido, mas sem que o show tivesse sido tão rápido, e porque o palco seria usado de novo para o show dos djs que sempre fechou a noite.

7 Opine:

At 02:07, Anonymous Anônimo said...

Valeu pela cobertura alternativa do site!!
Esse show do BBoys é pra não esquecer jamais - como o de 94. Tá guardada na memória cada virada do DjMixMasterMike, cada inserção de bases e colagens diferentes em músicas do set...foi um show pra fã mesmo, Bernardo!! Quem viu viu, quem não viu reze pra ter outro ou dê uma chegada no Youtube, a 'tv do futuro' - se o google deixar, ne?
ah, eles sairam do palco depois de Intergalatic e tocaram instrumentos em duas músicas, Gratitude e Sabotage - a memória salvou!

 
At 03:11, Blogger O Anão Corcunda said...

O MAM era muito melhor. Neste, a segregação em relação ao resto da cidade foi levada a níveis extremistas, nem de carro dava pra ir. Saudades dos flanelinhas... estacionamento do aeroporto: apenas 14 reais. No MAM ainda tinha gente passando, olhando, interagindo...
E esse negócio de transporte de van não gera nenhuma vantagem para o público...
O espaço era mais cercado que a nova penitenciária federal lá do Paraná... quase perguntei ao maluco da porta a que horas era o banho de sol...
E o público parecia cada vez menos interessado em música. A indústria da música cresce, aponta nosso companheiro de blog. Cresce, mas pra onde?
Noto que o palco dos shows de jazz não foi citado nem de passagem. É sobre música ou sobre música pop? - A resposta é óbvia, eu sei, mas não deu pra não perguntar.
Abraço, André

 
At 11:16, Blogger Bruno Maia said...

André,
Não sei se você viu, mas há um tempo atrás nós já advertimos que não haveria uma cobertura do festival. O sobremusica tentou credenciamento jornalistico e, pelo segundo ano, nao foi aceito, bem como a maioria dos sites independentes. Pedimos credenciamenno para os palcos/dias do Herbie Hancock, Andre Mehmari, Ivan Lins, que seriam shows que eu iria cobrir. Mas não recebemos. Nossa participação não interessava ao Tim Festival.

O site se voltou mais uma vez para a sua disposicao inicial (que vc pode ver no alto da nossa pagina principal, à direita), de refletir sobre as nossas experiencias musicais. E isso passa totalmente ao largo de obrigaçoes jornalísticas ou de generosidade com gêneros. Cada um de nó tem suas preferencias e precisa abrir (beeeem) o bolso para poder consumi-las. O Bernardo foi ao festival pagando seus ingressos, dentro do que mais lhe interessava e dentro das limitaçoes do que ele podia/queria pagar. Não é sobre música pop ou não, até porque, de verdade, nao nos interessamos por essa disputa de gôndola de prateleira de loja. Aqui o lance é música, na forma como ela chega até a gente, na forma que a gente gosta.

Esse papel de cobrir com imparcialidade e igualdade todos os "gêneros", definitivamente nao é uma obrigação aqui nesse espaço. Quando dá, a gente faz. Quando não, fazêmo o que podêmo. Eu mesmo não fui a nenhum show do festival e certamente não foi por falta de interesse.

Agora, se vocês quiserem, podem mandar seus e-mails e msgs, para a InPress, assessoria de imprensa do evento e dizer que esperavam uma cobertura nossa. Quem sabe através do lobby de nossos leitores, eles nao dão essa chance a nós e a vocês no ano que vem?

Valeu?
abs!

 
At 22:18, Blogger O Anão Corcunda said...

Venho acompanhando a movimentação de vocês, que louvo, muito por causa justamente dessa exclusão que os grandes festivais corporativos estão pondo em prática, e que muito me assustou dessa vez. Para onde vai a indústria da música, perguntei-me, parecendo que, muitas vezes, para bem longe da própria música, nem tão estranho paradoxo.

Mas o que eu reparei é que também houve certa exclusão por parte do texto, que se propôs, basicamente, a falar sobre o festival em geral, e acabou por nem citar, nem de passagem, um dos palcos mais importantes. Veja bem: não foi uma cobrança de uma 'cobertura jornalística', mas o apontamento, puro e simples, dessa lacuna, que não acho que tenha sido à toa, muito menos pequena. Mania minha foi o sarcasmo usado no final, admito.

Não falei, em momento algum, de cobertura 'imparcial e igual' de todos os "gêneros", sendo que isso é uma idealização, na medida em que todos só falam sobre aquilo que lhes chega. Tampouco tem a ver com generosidade ou obrigação, mas, certamente, como vc mesmo falou, com preferências, que pautam não só as coberturas e relatos, mas também o interesse do público, que assiste, ouve, lê.

Pondero que o prender-se a denominações de gênero pode ser um erro tão grave quanto esquecer que elas podem nos ser úteis para identificar aquilo sobre o que se fala, o recortar objetos. Não sei se vale a pena descartá-las totalmente e relegá-las ao plano das prateleiras de loja. Acho que o problema está na maneira como se usa essa denominações. Preocupo-me tanto com estreitezas quanto com usos demasiadamente vagos.

Abraço,
André Mendonça

 
At 15:27, Blogger Bernardo Mortimer said...

Valeu o toque, anão. Eu queria muito ter visto o Herbie Hancock, mas não queria arriscar perder nada do Beastie Boys. Quanto ao Roy Hargrove, foi uma mistura de falta de grana com outras obrigações de trabalho. Claro que eu preferia ter ido em mais coisa - e como o Bruno disse, foi uma cobertura de dois shows, não mais que isso. Essas considerações finais é que foram mesmo sobre o que deu para pegar da atmosfera, e tal.

Mas, sem entrar nessa discussão do credenciamento e de que cobertura que é a boa, eu acho que você tá certo em cobrar da gente o jazz. Leitor não tem a ver com os bastidores do site.
No ano passado, sem querer me desculpar, um dos meus shows preferidos foi o do Dr John, dá até para procurar lá em outubro do ano passado, se quiser. Aliás, no mesmo dia que uma aula de nobreza com Dona Ivone Lara. E que o breguinha Morcheeba.

Abração.

 
At 01:49, Blogger O Anão Corcunda said...

Talvez não sirva muito de alento, mas o show do Herbie Hancock eu achei uma bosta, chato pra caralho, no estilo "o groove dos péla-sacos". Sei lá, um sujeito já quase na casa dos 70 tirando onda de vinte e poucos anos, naquela masturbação de improvisos adolescentes... o Ahmad Jamal foi 685769487 vezes melhor.
Também perdi o Roy Hargroove, uma pena, mas eu também, assim como vocês, tive que abdicar desse...
O melhor dos que vi, disparadamente, foi a orquestra da Maria Schneider, na sexta.
Qto a outros palcos, fiquei curioso em relação ao show da Patti Smith, roqueira da velha cepa, que me soava muito incisiva quando o roquenrou era a água de côco da minha praia.
O Dr. John ano passado foi bem legal mesmo, o cara é de uma puta elegância no palco e sua música é de uma honestidade rara. Chegou a tocar, no meio de um solo, Delicado, de Waldyr Azevedo, e o público não teve a gentileza de aplaudir em retribuição.
Dona Ivone Lara dispensa etcs. O palco e o evento não combinavam em nada com ela, mas - o que ela tinha a ver com isso?
Abraço,
André

 
At 01:55, Anonymous Anônimo said...

To com o anão.
HH foi um pé no saco. O show do velho Jamal foi infinitamente superior, experiencia sublime, cheguei, sentei, vi deus e o cacique a quatro. Salvou a noite (musical) e o dia (do pleito) tambem.
Pati Smith foi maravilhosa e YYY me surprendeu positivamente. Ao vivo ganha muita força.
Isso foi tudo o q vi.

O evento no MAM era uma agressão a instituição e ao funcionamento do Museu, um equivoco. O Rio precisa encontrar/criar locais adequados para seus eventos. A Marina é boa opçao. Se nao funcionou adequadamente foi por falta de pensamento/desenho e arquitetura.

abs
Raul

 

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