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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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31.10.06

How does it feel?

Nunca imaginei que um dia eu levaria a Gi- sele pra cama. Levei no domingo. Depois de uma rápida passagem na Letras e Expressões (único lugar do Rio de Janeiro em 2006 onde se pode comprar boas leituras em plena madrugada), por R$8,90, eu trouxe a menina. Bom programa.

Não consumi com a voracidade que se podia esperar de alguém que levou Gisele Bundchen pra cama. Mas tampouco me decepcionei com a performance. A primeira capa da nova Rolling Stone no Brasil foi apropriada e cheia de charme. É muito bom acompanhar como a indústria da música – de novo, ela – está crescendo no Brasil. Até dois anos atrás, estávamos sem revistas de circulação nacional expressivas. Bem ou mal, a Bizz voltou e, agora, a Rolling Stone também.

A primeira edição surpreendeu bastante. A versão americana da revista, há muito, deixou de ser estandarte da cultura alternativa e se rendeu aos baluartes do mercado. Como essa discussão sobre ser alternativo e ser ‘mercadológico’ também já passou, o que vale é dizer que, pelo menos na primeira edição, a versão brasileira conseguiu achar um bom lugar. Numa primeira leitura, chama atenção para o editorial de Ricardo Cruz, que coloca a opinião acima de tudo. Sintonia total com o que pensamos aqui nesse site/blog. Opinião jornalística é fundamental. Tomar partido sendo reflexivo com os dois lados da moeda.

Por um lado, isso é um chavão jornalístico. Por outro, é uma resposta a outro chavão da nossa profissão que reza mais pela esterilidade da imparcialidade. A imparcialidade na cobertura de fatos é questão de responsabilidade e de ética. Outra coisa é a omissão. Depois que se apresenta os dois lados da moeda, há que se escolher um. Ou admitir que não quer escolher. Isso também é opinião. Espero que, de fato, isso seja praticado pela revista ao longo dos próximos anos.

A primeira edição tem algumas falhas que precisam ser percebidas. Em tempo de mensagens instantâneas, a existência de uma revista mensal, quinzenal ou semanal é complicada. Essa primeira edição caiu em deslizes algumas vezes por isso. Como só chegou às bancas na última metade do mês, certas notícias, como o interesse do Google em comprar o Youtube, já soam pré-históricas. A venda da Arsenal Music para a Universal também.... Nesse caso, funciona melhor a notinha sobre a chegada do Zune, player da Microsoft, marcada para novembro – ainda que não seja mais uma grande novidade. Ou a entrevista com Ângela Ro Ro falando de sua volta ao cenário.

Há uma coisa que eu ainda não entendi. A reprodução de matérias da Rolling Stone norte-americana se dará com delay ou em simultaneidade? Porque ter a matéria grande com Jack Nicholson é bacana, mas ela já tinha sido publicada lá, em setembro. A outra, com Bob Dylan, também foi capa em agosto! Isso fica esquisito, pois dá um ar meio velho. Não estamos mais em 1990, quando, como bem lembra Soninha Francine, numa das cartas publicas na revista, esperava-se dois meses para receber a Rolling Stone e saber das últimas...

De qualquer forma, a revista é bem bacana. Cria expectativas e faz pensar em providenciar a grana para uma assinatura. O conselho editorial inclui nomes como Fábio Massari e Otávio Rodrigues, o que é ótimo. Por mais que, no caso da maioria do público leitor que a revista vai ter, o inglês não seja mais uma barreira, é inegavelmente confortável ter opção de ler as matérias e artigos, com uma boa tradução, na nossa língua.

A revista também o mérito de ser uma opção para se questionar e aprofundar em temáticas do universo pop norte-americano. É indiscutível a importância e a representação que ele ainda tem hoje, sobretudo na América Latina e nos países de maioria católica. Ter longas páginas sobre Jack Nicholson, mesmo que atrasado, é um estímulo à leitura. Ainda não li, mas chego lá. É muita coisa na frente.

Muita coisa, mas muita coisa bacana. O texto sobre Brasília e o novo quadro parlamentar é puramente opinião, honrando o editorial. É um desabafo fundamental de Ricardo Soares sobre o circo que se institucionalizou na Praça dos Três Poderes. Mais pra frente, a tentativa de Cláudio Tognolli e do grande João Wainer de adentrarem o submundo do PCC é quase complementar ao desabafo de Soares. Ao conversarem com um dos advogados do grupo que vem demonstrando força em São Paulo, vale mais a intenção de se fazer um jornalismo investigativo responsável. Um ou outro leitor pode achar que faltou ação, ousadia. Mas não é. É responsabilidade de informar e noticiar, cuidnado da vida de quem está ali trabalhando no ofício de informar e não como 'quarto poder'. O papel de investigação do jornalismo, nos dias de hoje, tem que procurar outras medidas e a classe tem que se convencer de que não tem poder, nem função de polícia. Cada um no seu cada um. Deixa o cada um dos outros. A matéria não traz grandes novidades e também exagera no tom watergate, criando um “Doutor Anel” para fazer as vezes de “Deep throat”. Mas, como talvez seja o tom certo pra coisa, joga luzes sobre novos exemplos que, se não causam grande surpresa, pelo menos pintam outros cenários. Como as citações do policial que entrou para o crime porque não tinha dinheiro para pagar o parto da mulher e não conseguiu empréstimo em nenhuma instituição ‘estabelecida’ ou ainda do pessoal da polícia que só faz blitz em raves porque sabe que os filhinhos de papai vão pagar o que lhes for extorquido, mas nunca fazem o mesmo em festas de forró onde o PCC domina. Novidade? Certamente não. Mas novas histórias que personifiquem a teoria ajudam a reafirmar, dentro de cada um, a seriedade do troço. Vale pela tentativa e pelo redimensionamento da função do repórter nessa onda toda.

As tais longas páginas de textos são um desbunde para quem se irrita com as limitações que se impôs ao jornalismo tradicional. Bernardo deve estar se deleitando. O excesso não é bom, mas é melhor do que a falta ou do que o “tamanho padrão”. O negócio é ler com calma e não se impressionar. O guia de cds, dvds, livros, shows também é funcional. Opiniões estão lá para serem debatidas, suscitarem paixões e ódios. Se der, seria só legal rever o nome da seção “Jam Sessions”, afinal esse já é o nome da casa do professor Jamari França no site do jornal O Globo, né?.

Mais do que deixar críticas, fica o apoio. Ter a nossa edição dessa revista sempre foi uma vontade, um fetiche, da galera que trabalha na área. Ainda mais, sabendo que até os argentinos tinham a deles! A iniciativa de se tentar fazer jornalismo junto com entretenimento e informação qualificada é vital. O modelo de sucesso da Playboy no Brasil mostra que isso é possível. Uma olhada no que a Les Inrockuptibles, da França, faz hoje em dia, pode ajudar a achar um tom bom sobre como fazer esse formato funcionar, sem ser dentro dos padrões esteriotipados pela inteligenzza novaiorkina. O acabamento faz jus ao preço e o grafismo - já consagrado na edição da matriz - é um puta charme, moderninho. A Rolling Stone brasileira largou bem. Honesta. Tomara que o motor não quebre e que a mesmice não se instale. Coragem, rapêize!

3 Opine:

At 17:23, Blogger Joca said...

chegou para ficar, se deus quiser...

 
At 00:43, Anonymous Anônimo said...

oi, vim parar no seu site totalmente de bobeira e achei bem legal, suas informações são interessantes e vc escreve bem

 
At 09:25, Blogger Bruno Maia said...

Gracias! Volte sempre!

 

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