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9.8.07

Show: Satchmo Summer Fest, em Nova Orleans (dia 2)

What a Wonderful World II





      A introdução da reportagem de capa da revista Offbeat de agosto é tão boa que eu vou só traduzi-la para começar esse texto aqui:

      "O jazz viajou pelos caminhos da tecnologia e da estética do século XX até o ponto de ter, hoje, milhões de caras pelo mundo. Em Nova Orleans, Louis Armstrong é a cara do jazz."

      Não foi ele quem inventou o jazz nos clubes onde negros se reuniam para dançar, beber, e se apaixonar. Mas desse começo, quando os brancos já davam os primeiros passos de swing nas pistas de danca, foi ele que deu o salto para se tornar o primeiro solista de destaque. Sem forçação, foi o primeiro popstar da história, afinal o jazz era a música pop da primeira metade do século.
      Nessa condição, passou tambem a cantar. E a atuar. Negro, maconheiro, transmissor de emoções com uma facilidade e um alcance sem igual. Os olhos, o sorriso, a voz. Tudo era instrumento para sensibilizar e cativar. Carisma, é assim que alguns chamam. Satchmo foi um embaixador do bem viver. Cantou a comida da Louisiana, as mulheres, os cigarrinhos, e o que mais bem entendeu. Tinha um descaso quase provocador ao que especializados e patrulheiros politicos pensavam. À esquerda e à direita, defensores do bom gosto, todos falaram mal dele.
      Já velho e limitado, gravou a música que demoraria vinte anos para virar a marca dele nos EUA e no mundo. What a Wonderful World foi lançada em 1967, fez algum barulho na Inglaterra, mas só no fim da decada de 80 foi parar na lista de mais executadas do pais de Pops - a propósito, outro dos apelidos com que é carinhosamente tratado. E foi por causa da trilha de um filme que tenta achar um lado positivo em um momento de guerra, Bom Dia Vietnã.
      Hoje, dois anos depois do Katrina, Nova Orleans tenta achar o que há de bom em um momento de tragédia. What a Wonderful World é a trilha da cidade.





      Kermit Ruffins é claramente o atual embaixador do bem viver. E a comparação não é só essa. Ele é também trompetista, negro, maconheiro, e entre a disciplina da técnica e a irresponsabilidade do improviso, gargalha e foge do que é esperado.
      Para aproximar um pouco a figura folclórica da gente, no Brasil, Kermit fez um showzasso no Satchmo Fest à la Tim Maia. Cumprimentou, do palco, a todos que reconheceu na platéia. Virou-se de costas para brincar com quem estava atrás nos bastidores (a Rebirth BBand inteira, Trombone Shorty, a familia). Bebeu cerveja. E não deixou de comandar a celebração.




      Só nao reclamou do som, porque não rolava essa possibilidade. Mas recebeu a pequena Gabrielle, do show da Soryville no dia anterior, e ela por pouco não ficou em cima do palco para sempre. Em seguida, outra menininha que estraçalhou What a Wonderful World para desespero da banda que acompanha Kermit, a Barbecue Swingers. E ainda a filha dele, de 15 anos, "embora nao pareça, sabe? Ela é baixa para a idade." Bem, tambem teve um tal de Silent Giant, e ainda outro trompetista para puxar (adivinhem?) What a Wonderful World.
      Claro, deu tempo de ouvir If You Want Me To Stay (Family Affair), You Don't Know What It Means To Miss New Orleans, Palm Court Strut, Do Watcha Wanna, When The Saints Come Marchin'In, Skokiaan (a de Pops que Kermit mais gosta) e ... What a Wonderful World.
      Quando chamou Trombone Shorty para o tradicional encerramento do festival, o moleque não foi encontrado. Uma pena. Pensando bem, um detalhe que não tirou o brilho de um mundo ali, naqueles curtos instantes..., mmm, ...um mundo com um que de maravilhoso.

      E já vinha sendo maravilhoso, antes do encerramento. Peguei os últimos três ou quatro minutos do hype de Trombone Shorty, ou Troy Andrews. Como tinha uma cerveja de sapo na mão, vocês queiram entender que essa foto eu não fiz. Mas imaginem uma praça lotada, eufórica, e um palco com três senhoras vestidas de antigamente, e um menino magrinho com oculos escuros Dolce Gabana descendo para o meio do público para comandar uma fila de músicos em uma pequena parada improvisada. Os aplausos foram intensos, pode acreditar. E foi essa a apoteose que antecedeu a entrada de Kermit em cena.



      O show inteiro de Shorty, eu perdi por um bom motivo: Rebirth Brass Band - a minha maior curiosidade na viagem. E os caras são muito bons. Mesmo dividindo público com Shorty, levaram bastante gente para o fundo do US Old Mint. O ânimo foi abaixo do da apresentação da Soul Rebels, na véspera, porém não dá para não perceber que o fôlego da Rebirth é maior.



      São dois saxes tenor, dois trombones, dois trompetes, uma tuba e dois que se dividem em caixa, pratos e bumbo. O principal vocalista é Derrick KABUCY Shezbie, que toca segurando a bochecha direita. Mas todos cantam. Diante de 25 anos de história, são os defensores incansáveis do funk, e a referência maior disso que são as brass bands de Nova Orleans.




      De volta ao palco contemporâneo, Edward Anderson and the Bleu Orleans (Bleu em francês, não Blue em inglês) fizeram um show de solos estupendos. O saxofonista do Alabama, Nelson Mandellia (deve se escrever assim), era um monstro nas improvisações.
      Em uma crítica direta e sem sutileza a um jornalista que o tinha entrevistado, Anderson anunciou que tocaria a clássica e boba Bye Bye Blackbird. Apresentou um número incrível, com viradas harmônicas e momentos em que ficava difícil reconhecer a música, para em seguida voltar o tema e resolver a tensão. Experimental, sim, da melhor qualidade. Quanto à provocação, a história é que Anderson assumiu há pouco a diretoria do curso de música da Universidade Dillard, e em entrevista publicada na Offbeat de agosto, disse que o turismo afasta o jazz de Nova Orleans de um nível superior, porque os musicos ficariam satisfeitos em tocar as mesmas What a Wonderful World e Bye Bye Blackbird para garantir a gorjeta. A resposta não foi bem recebida, e justamente ou não, Anderson disse que não disse aquilo. Botou a culpa no repórter.
      O público ganhou, no mínimo, uma excelente versão de uma velha canção.


      Abrindo o dia, ou pelo menos o meu dia, o show de John "Kid" Simons passou batido. Jazz lento, sem brilhos maiores.

3 Opine:

At 14:20, Blogger Bernardo Mortimer said...

Olha o que eu perdi: http://www.youtube.com/watch?v=JK4evYZi_Zg

 
At 16:31, Blogger Bruno Maia said...

Excelente cobertura... esse site é bão, né nao? :P

 
At 16:49, Blogger Beni Borja said...

morrendo de inveja... como eu adoro Nolins...

 

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