Ainda sobre a tal comunicação da arte
Nos dias de hoje, revelar se você já assistiu “Tropa de Elite” é quase tão obrigatório quanto dizer em quem você votou no segundo turno de uma eleição. Isso te joga de um lado de uma discussão maniqueísta, muitas vezes cínica e, quando não, rasa. Foi justamente por um acesso de cinismo fundamentalista que optei por não assistir à cópia pirata que a rapaziada conseguiu há umas três ou quatro semanas. E como não faço parte dos mil e poucos jornalistas que lotaram as duas sessões que o filme teve até agora (sim, porque se nenhum jornalista viu a cópia pirata, como se lê por aí, todos eles só podem ter estado nas tais sessões), não me proponho a traçar discussões mais aprofundadas sobre as crises institucional e moral que atingem à nossa sociedade. Vá lá que o lide não é uma obrigação prevista no Manual de Redação do SOBREMUSICA, mas acho que já posso dizer o que motiva este texto.
O cinema brasileiro mais uma vez faz com que a arte discuta a realidade das pessoas que a consomem. Não posso entrar no mérito do conteúdo, mas é fato que “Tropa de Elite” se comunica. O filme estabeleceu contato com o público e gerou uma série de reflexões sobre questões do 'cotiadiano nosso de cada dia'. Abriu-se um canal dialético. É a cultura de massa demonstrando que ainda tem força apesar da pulverização dos pólos emissores de informação. Voltamos à grande questão reincidente nos meus últimos textos por aqui: a capacidade da atual “nova geração” da música brasileira em estabelecer diálogo com a sociedade em que ela está inserida. Seria essa uma geração alienada? Quais são os assuntos, quais são as sensações, qual é o nosso tempo? Pode se falar com alguém além dos 30, 40 gatos pingados que estão nos mesmo shows de sempre? A música não parece se preocupar com isso.
A discussão sobre o mérito dessa questão também poderia ser proposta: qual a importância em se falar para muita gente? Afinal, a arte não deve se pautar pelo alcance que pretende ter, mas sim pelo que lhe interessa tratar. Esta teoria também é pertinente. Porém, não deixa de ser inquietante ver que o que interessa aos artistas parece estar passando ao largo dos que interessa à grande parte das pessoas ao redor deles.
Já no meio do turbilhão de teorias dialéticas disparado por “Tropa de Elite”, há algumas semanas o jornal “O Globo” fez uma matéria na qual juntava Selton Mello e Mateus Nachtergaele para falar das novas empreitadas dos rapazes, que assumiram o papel de diretor recentemente. Enquanto lia aquelas linhas, tive a sensação de estar vendo dois caras que daqui a 20, 30 anos vão ser baluartes e referências em carreiras no teatro e cinema. Eles vão ser os nossos equivalentes a Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Othon Bastos, Lima Duarte, etc, etc... Mais do que querer saber “quem vai ser o nosso Chico Buarque”, a pergunta é quem vai ter conseguido falar do nosso tempo nos emocionando, nos estimulando, nos contradizendo, nos propondo olhares.
Foi a importância do grande músico, do grande compositor, que diminuiu com a explosão da internet ou a agilidade das comunicações que aterrou parte da profundidade da música em prol da velocidade? Ou nenhum dos dois?
As linhas dos "cadernos de cultura" (argh!) que tratam “Tropa de Elite” como o primeiro vazamento de grandes proporções na cultura brasileira pós-revolução digital jogam luz em cima da fragilidade à qual a nossa música pop atual está submetida, já que nada que vazou nesses últimos 5 anos (pra ficar barato), causou algum interesse real.
Talvez a pergunta seja realmente a mais cruel de todas: qual a importância da música pop feita no Brasil atualmente? Na verdade, cruel não é a pergunta. É a resposta.
O cinema brasileiro mais uma vez faz com que a arte discuta a realidade das pessoas que a consomem. Não posso entrar no mérito do conteúdo, mas é fato que “Tropa de Elite” se comunica. O filme estabeleceu contato com o público e gerou uma série de reflexões sobre questões do 'cotiadiano nosso de cada dia'. Abriu-se um canal dialético. É a cultura de massa demonstrando que ainda tem força apesar da pulverização dos pólos emissores de informação. Voltamos à grande questão reincidente nos meus últimos textos por aqui: a capacidade da atual “nova geração” da música brasileira em estabelecer diálogo com a sociedade em que ela está inserida. Seria essa uma geração alienada? Quais são os assuntos, quais são as sensações, qual é o nosso tempo? Pode se falar com alguém além dos 30, 40 gatos pingados que estão nos mesmo shows de sempre? A música não parece se preocupar com isso.
A discussão sobre o mérito dessa questão também poderia ser proposta: qual a importância em se falar para muita gente? Afinal, a arte não deve se pautar pelo alcance que pretende ter, mas sim pelo que lhe interessa tratar. Esta teoria também é pertinente. Porém, não deixa de ser inquietante ver que o que interessa aos artistas parece estar passando ao largo dos que interessa à grande parte das pessoas ao redor deles.
Já no meio do turbilhão de teorias dialéticas disparado por “Tropa de Elite”, há algumas semanas o jornal “O Globo” fez uma matéria na qual juntava Selton Mello e Mateus Nachtergaele para falar das novas empreitadas dos rapazes, que assumiram o papel de diretor recentemente. Enquanto lia aquelas linhas, tive a sensação de estar vendo dois caras que daqui a 20, 30 anos vão ser baluartes e referências em carreiras no teatro e cinema. Eles vão ser os nossos equivalentes a Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Othon Bastos, Lima Duarte, etc, etc... Mais do que querer saber “quem vai ser o nosso Chico Buarque”, a pergunta é quem vai ter conseguido falar do nosso tempo nos emocionando, nos estimulando, nos contradizendo, nos propondo olhares.
Foi a importância do grande músico, do grande compositor, que diminuiu com a explosão da internet ou a agilidade das comunicações que aterrou parte da profundidade da música em prol da velocidade? Ou nenhum dos dois?
As linhas dos "cadernos de cultura" (argh!) que tratam “Tropa de Elite” como o primeiro vazamento de grandes proporções na cultura brasileira pós-revolução digital jogam luz em cima da fragilidade à qual a nossa música pop atual está submetida, já que nada que vazou nesses últimos 5 anos (pra ficar barato), causou algum interesse real.
Talvez a pergunta seja realmente a mais cruel de todas: qual a importância da música pop feita no Brasil atualmente? Na verdade, cruel não é a pergunta. É a resposta.
2 Opine:
E eu já comprei o meu boneco do capitão nascimento:
http://www.eupodiatamatando.com/2007/09/30/chegou-o-boneco-do-capitao-nascimento/
importância? Acho o cinema das artes a mais racional. Arte que, se não de indústria, é no mínimo coletiva. Cerebral, e deste cérebro deve partir de regiões diferentes das que provém a música, arte tão impalpável.
A crítica de arte é especialmente complicada na música, a meu ver. É difícil entender os motivos de uma canção. O cinema enquadra coisas, dá-lhes tempos e espaços bem demarcados. É crítico do mundo no seu fazer. A música, pode ser, mas é fluida demais, alcança os admiradores independentemente destes saberem a que ela veio.
Outro dia falávamos sobre isso - e mantenho a promessa de tentar ouvir, para gostar/entender o chico sciense..
acho que a música pop deve ser sim apreendida em seu caráter "político". Mas na maioria das vezes ele não emana da caixa de som.
Emanará dos remixes, das biografias.. em geral gostamos de música por repetição, não é?
e mesmo que os computadores façam mais arte que os artistas, já que falamos dele, isso não deixa de dizer muito - logo é importante! - sobre o nosso tempo.
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