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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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7.11.07

Autoramas e A Geração Informada

Ouvido Para Esses Tempos


       A minha geração não aprendeu a ganhar dinheiro. Quem me falou foi o chappa volta-e-meia linkado aqui, Raul Mourão. Criamos, temos banda, somos fotógrafos, webdesigners, escrevemos, fazemos crítica e reportagem e futurosofia, indicamos leituras, mixagens e vídeos do youtube, mas para ganhar dinheiro ainda corremos atrás do que dava alguma coisa há dez anos. Essa vida dupla – um monte de coisa sem grana e um monte de tentativa pra se virar no fim do mês – é a maior característica de quem está nos vinte e tal anos, com um chorinho para mais ou para menos. É a geração da informação demais, que deixa o entusiasmo competir com o pragmatismo do saldo bancário e reclama imobilizado, meio que achando a circunstância melhor do que já foi. Canta, canta minha gente, que a vida vai melhorar.
       Lá atrás, quando eu apresentei um projeto de fim de curso na faculdade para me formar, a professora Liv Sovik, minha orientadora, disse uma outra frase que ficou gravada. A música é a forma de expressão que traduz com mais agilidade o que estará sendo discutido depois pelas outras artes, pela Academia, pelas pautas dos jornais. Os artistas do som podem até não ver primeiro, mas mostram antes o que será tão visível depois.
       Mas a questão da falência de uma forma de ganhar dinheiro com música, que a Internet e as trocas de informação aceleraram, era na verdade o prenúncio da transformação que não se sabe quanto vai durar, e que vai atingir até quem nem ouve mp3. Os nomes que apareceram na Internet para a literatura, para o colunismo social, para a fotografia e para o que mais for área de interesse de mais de uma pessoa, são os que vão poder definir se a vida dupla, uma máscara remunerada e outra colaborativa, será a marca só de uma geração ou do homem a partir de agora. Porque não vai faltar é necessidade de nova universidade, nova escola, nova empresa, novo governo, nova lei, nova democracia, etc.
       Só que eu não quero fugir do assunto: a vida dupla. Se for parar para pensar, quem tem se dado bem nessa história de novos tempos são os caras que conseguem interligar o trabalho que dão de graça com o que tem preço. Ou melhor: cobrar de um lado o que entregam do outro. Visibilidade e experiência ("investimento na tua carreira, garoto") sozinhos não funcionam, mas com esperteza são o que vai distingüir o sobrevivente do péla-saco. E é o que vai fazer com que as duas vidas se consolidem uma com a outra, sem chegar a ser uma coisa só, porque são por natureza diferentes, mas quase lá. É uma forma sozinha de We're one, but we´re not the same, we care for each other.
       Na música, o hegemônico das últimas três décadas se viu sem direção frente a uma onda de independentes que cortou intermediários para vender menos e ganhar mais podendo estar fora de um plano de estratégia. Dá certo em alguns casos. Na vida, na tua vida, o hegemônico de antigamente - grosso modo um empreguinho em dia útil e um lazer em fim-de-semana – vai ter que ser sacudido. E também não vai ter instituição que dê suporte nessa hora.
       E se o papo quiser seguir para um caminho Matrix, a pílula vermelha seria essa do pânico do sacolejo – a que vai mostrar a liberdade: viver baseado no equilíbrio entre o que é amostra grátis e o que não é, sendo que os dois vão continuar dando um trabalho danado. E se dão uma canseira, que sejam também uma forma de diversão, aprendizado, tiração de onda. As verdadeiras fronteiras a cair são essas: as que separam a quarta-feira de nove às cinco da sexta à noite, na pista de dança. É o que a nossa geração vai ter que aprender a tornar prático e adaptar para virar gente grande, se é que isso ainda vai ser uma transição (papo para outro momento).
       A música que vai nessa trilha pode ser o mash up de um Girl Talk, mesmo escondido às quatro da manhã isolado no palco atrás de seguranças inseguros, ou as guitarras multinacionais do Autoramas: ora paraenses, ora mexicanas de luta livre da tv, passando pelas ruas sujas de uma Tóquio hq, pela praia nublada de Dick Dale, por uma Brasília tarantinesca, ou pelo terceiro-mundo ainda herança do Manu Negra. É muita coisa para a nossa cabeça, mas dá para agüentar, sim.


Mundo Moderno


Era pra eu estar deslumbrado
Com tantas opções que pintam na minha frente
Não consigo ficar acostumado
São muitas novidades que aparecem de repente
Chega de tanta liberdade
Tem gente que nasceu pra ser obediente
Mundo Moderno
Me tirem desse inferno
São tantas coisas novas pra experimentar
Alguém me ponha no meu devido lugar
Mundo Moderno

Convivo com o medo enorme
Que alguma idéia diferente apareça
Então eu preciso de ordens
Antes que algo de ruim me aconteça

Pra tantos lados pode ir minha ambição
Mas vou jogar pro alto o que eu tenho nas minhas mãos

Mundo Moderno
Me tirem desse inferno
São tantas coisas novas pra experimentar
Alguém me ponha no meu devido lugar
Mundo Moderno...




Nada a ver(1)

      Quem teve banda sabe a dificuldade, quem foi a show conhece a raça, mas não dá para não ficar triste com o fim do Lasciva Lula e seu Grite Poesias com o dicionário a tiracolo. Toda banda que acaba é uma surpresa ruim que faz a vida seguir mais devagar, né?



Nada a ver (2)

      Mestre Jorjão, uma das figuras mais criativas do carnaval carioca, vide paradinha e funk, tinha entrado na fila dos que vão tentar o reconhecimento em São Paulo, mas uma jogada de mestre do diretor de carnaval da Boi da Ilha, Cadu Zugliani, botou o cara para comandar a bateria da escola do grupo B. O compromisso dele com o carnaval de São Paulo está mantido, mas que é maneiro ele dar uma força a uma pequena, isso é.

3 Opine:

At 21:47, Blogger URBe said...

ih, que noticia ruim...

cada uma dessas bandas que acaba (ia escrever "fica pelo caminho" mas não estaria correto, afinal, todas tem a sua história) dá uma sensação ruim, de derrota, de que tanta coisa boa que era pra ter acontecido, não aconteceu.

abs,

bruno.

 
At 00:47, Blogger Bernardo Mortimer said...

E aí, Bruninho, quais as novidades?
Cara, fiquei bem triste mesmo. A impressão que a banda me dava era de um momento de questionamento, sim, mas achei também que tava um otimismo bacana. Tanto que me empolguei para fazer uma entrevistinha com o Mão, que publiquei aqui. Não sei bem o que houve, mas imagino que tenha sido uma pergunta do tipo: tá valendo a pena?
Daí, a resposta depende de mil coisas difíceis de julgar de fora, sei lá.

É isso,
Abração

 
At 11:24, Blogger André Monnerat said...

O triste é isso, acho que a disposição de criar não tinha sumido. Tanto que no último show eles ainda tavam apresentando música nova, tentando cover diferente...

 

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