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24.10.07

Rolling Stone :: Roskilde 2007

Em 2007, convidado pelo Kunststyrelsen, o SOBREMUSICA esteve pela segunda vez no Roskilde Festival. Além da cobertura feita aqui, escrevi linhas e linhas e linhas para o G1 e para a Rolling Stone. Na revista, os textos foram publicados na edição de agosto. Como já sairam das bancas de jornais, reproduzo-os aqui. Já já, vêm os de setembro.



crédito: NRK.no

Roskilde Festival: a paz como fim

Além de muita música de qualidade, o festival dinamarquês é marcado por iniciativas humanitárias e pelo pacifismo.

Na pequena cidade de Roskilde acontece todos os anos, no início de julho, um dos principais festivais do mundo. Os principais shows da 37ª edição do Roskilde Festival, que aconteceu entre os dias 5 e 8 de julho. Ao todo, mais de 150 artistas de todo o planeta passaram por lá. Entre os que subiram ao palco principal, o Orange estão Red Hot Chili Peppers, The Who, The Killers, Björk, Arctic Monkeys e Beastie Boys.

Os artistas brasileiros já são freqüentadores de Roskilde há muito tempo. A primeira a se aventurar por lá foi a cantora Tânia Maria, ainda na década de 70. Mas a invasão canarinha começou a ficar forte a partir de 1988, quando o encontro entre Sting e Milton Nascimento foi o principal show daquela edição. Desde lá, nomes como Marcos Valle, Skank, Nação Zumbi, Lenine, BNegão, Ed Motta, entre outros, já se apresentaram no festival. Em 2007, é fácil adivinhar: os hypados CSS e Bonde do Rolê cumpriram o que se esperava deles. A surpresa foi o alagoano Sonic Jr, que chegou menos badalado e conquistou a platéia na hora. Com a chuva apertando no momento do show, o galera correu para a tenda Cosmopol e não se arrependeu. “Eu já estou há dois meses viajando por vários festivais aqui na Europa, mas, sem dúvida, o Roskilde é o ponto alto dessa turnê. Foi bom demais!”, disse o músico ao fim da apresentação.

O principal slogan do evento é o "orange feeling", derivado da cor da tenda do palco principal, que há anos é também a logomarca do evento. Segundo Tomas Jacobsen, um dos porta-vozes do festival, a lona laranja foi comprada em 1977, dos Rolling Stones. "Eles estavam numa fase muito ruim da carreira e tiveram que interromper uma turnê no meio por falta de público. A tenda laranja era o palco era daquela turnê. Alguém da produção de Roskilde soube que ela estava à venda por um preço módico e a comprou. Desde então, ela é o nosso símbolo".

O evento é famoso não só por ter a programação musical mais eclética entre todos os grandes eventos de música do planeta, como também por seu posicionamento político e humanitário. Ao longo dos anos, esta reputação foi manchada por uma tragédia durante o show do Pearl Jam, em 2000, quando nove pessoas morreram esmagadas e pisoteadas.

O trauma de sete anos atrás permanece e serve para fomentar os esforço dos organizadores em produzir um entretenimento pacífico. Desde a contratação de voluntários, passando pela reversão dos lucros para causas humanitárias internacionais, até o engajamento dos artistas que são convidados a estarem aqui, tudo é feito com este direcionamento. "Nunca houve nenhum tipo de problema por aqui. As pessoas pensam que as mortes de 2000 foram causadas pela violência, mas não é verdade. Havia chovido muito, o chão estava enlameado e a platéia começou a se mover em um grande movimento conjunto. Aqueles jovens acabaram escorregando e sendo pisoteadas. Mas não foi por conta de um ato violento, foi um acidente ", explica Jacobsen,

O festival é produzido e organizado pela Roskilde Foundation, um órgão do município que já funcionava antes da existência do evento, com finalidades assistenciais. Ao contrário da maioria dos grandes festivais, não há nenhuma empresa ou pessoa física por trás do Roskilde Festival. Todos os lucros obtidos são revertidos para as causas apoiadas pela fundação ou para a preparação do festival no ano seguinte. Das 100 mil pessoas que passam por dia na área de shows, 23 mil são voluntários que vêm de todas as partes do planeta para ajudar e para conseguir assistir de graça ao evento.

Bodil Damgaard é uma russa que vive na Dinamarca e há alguns anos trabalha como voluntária. “Faço isso com muita alegria, não para ganhar um ingresso. Sinto que, ao colaborar, estou ajudando e fazendo o bem. Todos sabem exatamente para onde vai o lucro que se gera aqui e que o nosso trabalho não está sendo capitalizado por nenhum oportunista”, diz emocionada. O brasileiro Rodrigo Cerri de Abreu já mora há 5 anos na Dinamarca e participou pela quinta vez como voluntário. “Desde 2005, eu e um grupo de amigos dinamarqueses ficamos sempre no palco Pavillion”. No dia-a-dia, ele trabalha com comércio exterior, durante o evento vira roadie. Tudo em nome do rock.


Resenha de show:
ROSKILDE FESTIVAL
Lama e música no verão dinamarquês

Roskilde, Dinamarca (1-8 de julho de 2007) 4 ESTRELAS
As fortes chuvas marcaram a 37ª edição do Roskilde Festival. Um novo recorde pluviométrico foi estabelecido no evento, superando em mais do dobro a marca anterior. Entre muita lama, cerca de 100 mil pessoas por dia assistiram grandes nomes como The Who, Red Hot Chili Peppers, Björk e Beastie Boys, além de alguns dos mais importantes artistas da Escandinávia, como Nephew, Volbeat e Peter, Bjorn & John...

No palco principal, o Orange, Pete Townshend e Roger Daltrey desfilaram todos os sucessos que tornaram o The Who uma das maiores lendas do rock e justificaram a expectativa dos fãs por este revival. Já os californianos do Chili Peppers, na reta final da turnê de “Stadium Arcadium”, optaram por uma apresentação menos óbvia, com poucos hits e longos improvisos.

O Roskilde Festival é um dos três maiores festivais da Europa e o seu grande diferencial para os demais está na capacidade de juntar nomes do mainstream internacional com artistas de vanguarda de todos os continentes. Entre os brasileiros, CSS e Bonde do Rolê cumpriram mais uma etapa do processo de dominação européia. Mas a grande surpresa foi o alagoano Sonic Jr. Sozinho, carregando seus instrumentos pelas estradas do velho continente, ele chegou ao festival depois de dois meses excursionando por vários países e fez uma apresentação visceral e competente. Outro destaque foram os romenos da Fanfarre Ciocarlia que lotaram a tenda Astoria ao som de animadas fanfarras ciganas.


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