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9.10.07

Livro :: "Vamos fazer barulho - Uma radiografia de Marcelo D2"

Radiografia. Esse é o termo que explica o trabalho de Bruno Levinson sobre Marcelo D2. O livro é um olhar restrito, por dentro do núlceo do próprio Marcelo e, conseqüentemente, muito específico sobre o artista. Um olhar que vem totalmente imerso à amizade dos dois. Se por um lado Levinson nunca nega esse vínculo ao longo do livro – muito pelo contrário, o explicita e até toma partido em prol do amigo em alguns momentos –, isso compromete a relação de observação entre o escritor e o personagem de sua análise. Não se trata de uma biografia. É, definitivamente, um livro de exaltação.

Se a sua curiosidade, leitor, for despertada pela bela capa ou pelo ótimo acabamento do livro, é importante você saber desde o início que se trata de um trabalho que, mais do que investigar um personagem, o admira. De certa forma, “Vamos fazer barulho” é uma celebração da amizade entre D2 e Levinson.

O autor utiliza o formato de entrevistas para construir a obra. A oralidade presente no texto ajuda muito ao ritmo da leitura. É como se Levinson fizesse um documentário no qual tem coragem de se expor como amigo, sem se esconder atrás da armadura de uma suposta isenção. Isso é um pró, mas sem dúvidas traz vários contras juntos. Alguns poucos trechos em primeira pessoa introduzem cada uma das conversas que o autor teve com o próprio Marcelo e com os personagens à volta dele: a mãe, o empresário, o primeiro produtor do Planet, o juiz Siro Darlan e as três mães de seus filhos. O tempo verbal é quase sempre o presente, como se Levinson estivesse escrevendo enquanto observa. Isso torna sua paixão mais visceral, mas às vezes também soa esquizofrênico.

Se fosse para encarar o livro como uma biografia do artista, faltaria muita coisa. Falta, por exemplo, esmiuçar as turnês, falta um maior esmero nas datas de cada fato que envolve D2, falta a suposta isenção jornalística (que uma biografia, sim, exigiria) e, sobretudo, faltam as tretas e inimigos que D2 cultivou ao longo dos anos, por exemplo. Vá lá que Levinson explica que os músicos do Planet Hemp não quiseram falar, o que no caso de um livro baseado em entrevistas, inviabiliza o acesso a outras visões sobre D2. Não há ainda citações ao rompimento recente de Marcelo com BNegão, pelo contrário. No livro, fica a sensação de que os dois ainda se dão bem.

Há ainda alguns pontos porém, nos quais Levinson poderia ter pontuado com seus depoimentos pessoais, mas não o faz. São momentos que não se explicam só pelas palavras do entrevistado. Um bom exemplo foi quando o próprio D2 admitiu não saber muito sobre uma suposta visita de Bacalhau e Ronaldo Pereira (o primeiro produtor do Planet Hemp) à gravadora, na época em que ambos estavam saindo da banda. Nesse momento, Levinson admite que sabe mais coisas, já que ele trabalhava na Sony à época, e diz para D2: “Depois eu te conto. Leia o livro! [risos]”. O leitor segue lendo, mas não acha o que ele prometera. Além disso, por mais que o tom seja de exaltação, há alguns excessos que uma edição mais apurada cortaria, como as perguntas à Manuela, segunda esposa do cantor, sobre a performance sexual de D2.

Levinson cita a expressão criada por Chacal, que fala sobre “memórias contemporâneas”, que consiste em registrar a trajetória de quem ainda está criando e não apenas de carreiras já escritas. Nisso há um grande mérito na empreitada do autor. D2 tem cacife para estar na lista de personagens que merecem uma "memória contemporânea" e, até por isso, sua trajetória ainda deve dar muito pano pra manga. Realmente este gênero é algo que falta na literatura musical brasileira. Começou a melhorar nos últimos anos, mas ainda falta.

Marcelo D2 é um personagem por demais controverso da música popular brasileira e o olhar de amigo de Levinson acaba limitando a profundidade que poderia ter esta apuração. Ao mesmo tempo, como disse, o autor não promete nada ao contrário disso, tanto é que chama de “Radiografia de Marcelo D2” e não de biografia. As regras já estavam claras desde o início. É, pois, um olhar parcial, que mira um lado e não o todo.

1 Opine:

At 22:55, Anonymous Anônimo said...

D2 parece que nunca vai encerrar sua ego-trip

Uma biografia de verdade acabaria tipo a do roberto carlos hehee

 

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