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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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3.10.07

Radiohead e a indústria

E o fim do Arco-Íris?


      A essa altura, você até talvez já tenha comprado o seu, mas vamos lá: o Radiohead gravou sozinho o próximo disco deles, e botou as músicas para encomendar de graça no próprio site, em troca de uma contribuição voluntária. Que pode ser de nada, sim. Mas, segundo o porta-voz da banda de Thom Yorke na BBC, até o momento a maioria dos fãs que clicaram no botão em forma de ponto de interrogação que está onde se esperaria o preço, pagou um valor aproximado ao do que é pago por um cd em lojas do ramo. E olha que o site precisou trocar de servidor para agüentar a pressão. E olha que muita gente tem pedido a caixinha com 2 cds, lps, músicas extra, embalagem e preço alto: o equivalente a R$ 150,00. Isso tudo, segundo o porta-voz.
      As dez músicas que dá para pedir hoje para baixar no dia 10 têm sido mostradas em shows por aí, e já tem quem esteja organizando listas delas no youtube, em versões ao vivo e provavelmente muito pouco fiéis ao que deve ter sido gravado.

      Mas o ponto todo dessa história é o golpe que a maior banda de 90 para cá tramou, e que terá os resultados acompanhados de perto pela indústria e pelos fãs. O Radiohead dispensou gravadora, e achou um jeito novo de cativar o público. Não é vazamento, não é liberar o disco na véspera de lançar o seguinte, não é flertar com o Creative Commons e não é dizer que o myspace é a minha gravadora. É a independência, sem que ninguém considere a alternativa morte. A divisão dos lucros, sejam eles quanto forem, será mais generosa. E os shows continuam só deles.
      O Prince, longe dos tempos áureos, desafiou o esquema com um disco novo encartado em um jornal de domingo, na Inglaterra. Segundo consta, brigou com lojas de discos e lotou a turnê de vinte e uma apresentações que terá pelo país.
      Mas e quem não é o Radiohead e nunca foi o Prince? A Internet usada com esperteza já mostrou que é uma ótima plataforma de lançamento lá fora para casos que vão de Strokes do ano 2000 e Arctic Monkeys até Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê. Ajudou a exportar Céu e o funk carioca. E agora aponta para grandes nomes como uma alternativa de relação mais direta com o público consumidor, embora esses grandes nomes precisem ainda aprender a se divulgar (uma missão que começa mais fácil, sem dúvida). Fica faltando na equação incluir artistas que ainda tem público a conquistar, mas já movimentam uma estrutura que depende da grana que era da venda de discos, e não foi substituída a contento. Entre esses exemplos, daria para incluir o próprio Strokes de 2007, já no terceiro disco, ou o Killers, o Skank, e todos mais que gravam um dvd ao vivo menos de um ano depois do disco de estúdio, sei lá.
      As gravadoras têm percebido a importância do uso da Internet para a distribuição de música, mas ainda procuram um modelo a se estabelecer. O Slacker, uma mistura de iPod com rádio last.fm que ainda não foi lançado, já tem contratos lá fora para transmitir os catálogos de EMI, Universal e Warner. Com a Sony, o contrato já existia há mais tempo. E os acordos com selos independentes seguem sendo feitos. Isso é só mais um exemplo, o Bruno vive falando de vários deles.
      E junto às gravadoras, novos “mecenas” entraram no jogo. A rede de cafés Starbucks começou ontem a distribuir cartões do iTunes para o download de uma determinada “música do dia”, que pode ser de Paul McCartney, Joni Mitchell, Bob Dylan, Joss Stone, Dave Matthews, Annie Lenox ou da Céu, em remix de uma Orquestra Dub de Bombaim. São dez mil lojas só nos EUA, onde a promoção está sendo testada. Mais números? Trinta e sete artistas, um milhão e meio de cartões por dia, cinqüenta milhões de faixas grátis até o dia sete de novembro. Ontem a rede também começou a vender cartões com, não uma música, mas um disco completo. E a estréia foi com a trilha sonora voz e violão de Eddie Vedder para ‘Into the Wild’, que tem sido muito elogiada em blogs lá fora.
      Tem especialista gringo achando que os blogs de MP3 (aqueles que oferecem discos inteiros para serem baixados) podem assumir um papel comercial importante nessa estrada, porque têm audiência, credibilidade, experiência com nova música, e podem oferecer uma divisão de lucros mais interessante para o artista do que lojas grandes como o iTunes. Sem entrar no mérito, e há questões legais e éticas envolvidas, a idéia é só uma mostra de como as coisas estão abertas.

      O fato é que alguma coisa estava errada, daí o Thom Yorke achar que “as pessoas da gravadora até são legais, mas chega uma hora em que você tem que se perguntar porque precisa delas”. Procurando no youtube, tem muita gente reclamando (se quiser uma dica para começar, procura Trent Reznor Australia...). Se música gravada for mesmo para ser legalmente praticamente de graça, ao menos ao consumidor, a pergunta fica mesmo mais complicada.


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