CD: Idealism, Digitalism
Pedaços De Pessoas Que Amam
Duas frases ficam na cabeça depois de ouvir a Idealism, o primeiro disco da dupla alemã Digitalism: a afirmação We have the biggest party ever (nós temos a melhor festa de todos os tempos) e a pergunta retórica Am I not always be wanting this? (Não era isso o que eu sempre quis?). Repetidas e gritadas sobre o novo electro, elas são parte da carta de intenções de Jens Moelle e Ismail Tufekçi, e misturam um humor já visto com o LCD Soundsystem em Daft Punk Is Playing In My House à auto-suficiência do hip hop americano. Eles não devem estar falando sério, mas a brincadeira que eles escolheram foi essa, e isso explica muita coisa.
Ao lado dos franceses do Justice e dos ingleses do Simian Mobile Disco, o Digitalism é a geração européia que vem depois do Daft Punk. São o novo electro, que atende sob os mais engraçados apelidos: electro rock, new rave (eu adoro esse), blog house... Ao misturar Internet, pista de dança e rock n’ roll, eles aceleram em uma estrada que tem no mesmo sentido, em direção contrária, o Franz Ferdinand, o Rapture e o Klaxons.
Ainda por cima, um pouco como um Tarantino da música, os dois foram vendedores de discos em uma cidade parada e sem graça para quem ainda não tinha vinte anos, Hamburgo, e aproveitam hoje esse passado para transformar em disco os diversos pedaços de pessoas que amam. É muita referência cruzada junto, mas não dá pra se perder. Os dois são uma das pontes disponíveis entre os vampiros dos anos 80 e os robôs dos 00, e sim, a idéia aqui é the Cure e Daft Punk. O nome Digitalism é uma homenagem ao coletivo de produtores Africanism. Há algo de batidas de Happy Mondays também. E, no contemporâneo, tem hora que parece o afinal pouco humano Daft Punk, o debochado LCD Soundsystem, o festeiro Rapture (ouve só aquela Pogo), os distorcidos Justice ou os receptivos Simian.
Então, recapitulando, tem We have the biggest party ever, Am I not always be wanting this? e a história do blog house. Quando eles falam em ter a maior festa de todos os tempos, os dois estão bem perto do espírito da época dos blogs, das raves, dos mp3 e etc. Para ter um blog, há que se ter ego, e para ser dj então... Auto-afirmação e sentimento de que aquilo ali realmente importa não faltam ao disco, e é isso o que move o som nas caixas e nos fones de ouvido. A ligação da cena eletrônica européia, de onde eles surgiram, com (sub)culturas como a do rap underground e a dos hiperlinks da rede de sites independentes de música é feita assim, botando na mesa a coragem da pouca idade e esperando o troco.
E daí para a terceira frase: I had the idea that you were near (Eu tinha uma idéia de que você estivesse perto). É basicamente o refrão da faixa-título, e mostra algo do isolamento artificial do blogueiro no mundo, no caso, dj-blogueiro, que justamente alimenta os sonhos de grandeza. A um clique de tudo, e o clique nunca é satisfatório. Andando pra frente com esse combustível, os sintetizadores substituem as guitarras, a edição salta à frente entrecortando palavras ao ponto de impedir qualquer compreensão semântica que não a do som sem língua, só filtros e aditivos. E, todo mundo reconhece o dono da voz na homenagem, Robert Smith do the Cure. Não é novo, mas é bem feito e marrento. E mais: esfrega na cara que é melhor você dançar, se divertir, se jogar. Deve soar assim a melhor festa desde sempre, eles repetem subliminarmente.
Se dá certo? Bem, o Daft Punk é mais robótico negão, o Justice é mais distorcido, o LCD te faz rir mais... E o the Cure só é mais velho e apegado àquelas coisas elétricas de seis cordas, acho que guitarras é como se chamavam. Mas o Digitalism só começou agora. Aqui e ali surgem expedientes que já cansaram como a busca por clímax com o botão de volume (o efeito está para o house como o amen break para o drum n’ bass), por exemplo. Mas ainda assim, a marra dos alemães é excelente, principalmente nas músicas com letra. Depois de tanta volta por computadores, sons inorgânicos e outros discos, são os bons e velhos refrãos repetidos que fazem o som deles ficar pulsando na mente e no corpo. Cuidado só para não se esgotar e perder o compromisso.
Duas frases ficam na cabeça depois de ouvir a Idealism, o primeiro disco da dupla alemã Digitalism: a afirmação We have the biggest party ever (nós temos a melhor festa de todos os tempos) e a pergunta retórica Am I not always be wanting this? (Não era isso o que eu sempre quis?). Repetidas e gritadas sobre o novo electro, elas são parte da carta de intenções de Jens Moelle e Ismail Tufekçi, e misturam um humor já visto com o LCD Soundsystem em Daft Punk Is Playing In My House à auto-suficiência do hip hop americano. Eles não devem estar falando sério, mas a brincadeira que eles escolheram foi essa, e isso explica muita coisa.
Ao lado dos franceses do Justice e dos ingleses do Simian Mobile Disco, o Digitalism é a geração européia que vem depois do Daft Punk. São o novo electro, que atende sob os mais engraçados apelidos: electro rock, new rave (eu adoro esse), blog house... Ao misturar Internet, pista de dança e rock n’ roll, eles aceleram em uma estrada que tem no mesmo sentido, em direção contrária, o Franz Ferdinand, o Rapture e o Klaxons.
Ainda por cima, um pouco como um Tarantino da música, os dois foram vendedores de discos em uma cidade parada e sem graça para quem ainda não tinha vinte anos, Hamburgo, e aproveitam hoje esse passado para transformar em disco os diversos pedaços de pessoas que amam. É muita referência cruzada junto, mas não dá pra se perder. Os dois são uma das pontes disponíveis entre os vampiros dos anos 80 e os robôs dos 00, e sim, a idéia aqui é the Cure e Daft Punk. O nome Digitalism é uma homenagem ao coletivo de produtores Africanism. Há algo de batidas de Happy Mondays também. E, no contemporâneo, tem hora que parece o afinal pouco humano Daft Punk, o debochado LCD Soundsystem, o festeiro Rapture (ouve só aquela Pogo), os distorcidos Justice ou os receptivos Simian.
Então, recapitulando, tem We have the biggest party ever, Am I not always be wanting this? e a história do blog house. Quando eles falam em ter a maior festa de todos os tempos, os dois estão bem perto do espírito da época dos blogs, das raves, dos mp3 e etc. Para ter um blog, há que se ter ego, e para ser dj então... Auto-afirmação e sentimento de que aquilo ali realmente importa não faltam ao disco, e é isso o que move o som nas caixas e nos fones de ouvido. A ligação da cena eletrônica européia, de onde eles surgiram, com (sub)culturas como a do rap underground e a dos hiperlinks da rede de sites independentes de música é feita assim, botando na mesa a coragem da pouca idade e esperando o troco.
E daí para a terceira frase: I had the idea that you were near (Eu tinha uma idéia de que você estivesse perto). É basicamente o refrão da faixa-título, e mostra algo do isolamento artificial do blogueiro no mundo, no caso, dj-blogueiro, que justamente alimenta os sonhos de grandeza. A um clique de tudo, e o clique nunca é satisfatório. Andando pra frente com esse combustível, os sintetizadores substituem as guitarras, a edição salta à frente entrecortando palavras ao ponto de impedir qualquer compreensão semântica que não a do som sem língua, só filtros e aditivos. E, todo mundo reconhece o dono da voz na homenagem, Robert Smith do the Cure. Não é novo, mas é bem feito e marrento. E mais: esfrega na cara que é melhor você dançar, se divertir, se jogar. Deve soar assim a melhor festa desde sempre, eles repetem subliminarmente.
Se dá certo? Bem, o Daft Punk é mais robótico negão, o Justice é mais distorcido, o LCD te faz rir mais... E o the Cure só é mais velho e apegado àquelas coisas elétricas de seis cordas, acho que guitarras é como se chamavam. Mas o Digitalism só começou agora. Aqui e ali surgem expedientes que já cansaram como a busca por clímax com o botão de volume (o efeito está para o house como o amen break para o drum n’ bass), por exemplo. Mas ainda assim, a marra dos alemães é excelente, principalmente nas músicas com letra. Depois de tanta volta por computadores, sons inorgânicos e outros discos, são os bons e velhos refrãos repetidos que fazem o som deles ficar pulsando na mente e no corpo. Cuidado só para não se esgotar e perder o compromisso.
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