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Bernardo Mortimer
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17.11.07

Show: LCD Soundsystem no Circo Voador

In My House



      Tá certo que o preço era um absurdo (200 que viravam 100 com uma carteirinha, filipeta ou um quilo de alimento), que era meio de feriado, que chovia muito, que a cidade acabou de passar por um festival igualmente caríssimo, e que a fila de convidados era grande, enquanto a de ingressos nem tchum. Tudo isso tá certo. Tá certo também que metade da banda que gravou o excelente Sound of Silver não veio ao Brasil, envolvidos em outros compromissos, como a banda !!!. E se a gente quiser ainda ir adiante, tá certo que James Murphy vem dizendo entrevista atrás de entrevista que anda cansado de viajar, que já tá com saudade de fazer música nova, da amada NY, etc.
      Mas um show metade punk metade disco, com uma banda de nerds na moda que distorce guitarras e sintetizadores com o volume lá em cima e faz o baterista de shortinho e barba 'Robinson Crusoé' parecer uma programação de broken beats com um baixo meio booty bass, tá mais do que certo que um show desses não tem como não levantar a galera - que afinal de contas estava longe de lotar o Circo, mas também não era de se deixae espaço entre os corpos.
      Com um microfone vintage, parecido com o que o Soulwax trouxe para o Brasil há uns anos, James Murphy é o centro de um palco em constante atividade. Ele mesmo é um ex-baterista que virou produtor de estúdio, e que quando não canta bate em uma caixa de bateria, uma pandeirola ou um agogô. O guitarrista larga um pouco as cordas, vez ou outra, para disparar um efeito qualquer, depois batuca o agogô (é, a era do cowbell que o Rapture começou já passou) e os tons na frente dele. O baixista é ainda adepto do teclado e de sintetizadores, a japonesa aperta todo tipo de botão e faz coro em Yeah, yeah, yeah. E o baterista segura a onda orgânica e quente do som, suando atrás da bateria que tem lá também um pad digital. Aliás, nessa onda disco-punk, a diferença entre o lado de cá do Atlântico e o de lá é justamente o som dos harmônicos das batidas, como eu tentei explicar ali embaixo.
      E foi bem assim, um show quente quase sem parar, em que as diferenças do primeiro para o segundo álbum desapareciam quase que por completo. Se lá no anterior ele gritava yeah, yeah, yeah, Daft Punk is playing in my house, in my house e I was playing Daft Punk in CBGBs and they thougt I was crazy, I was, and I'm losing my edge, isso é agora menos dissonante com a força que umas músicas de Sound of Silver ganham, como North American Scum ou Us and Them. Quer dizer, fica tudo meio gritado mesmo, sem que a melodia das mais recentes suma.
      Ou seja, quente, quase sem parar, gritado, sem perder a melodia, e tem mais. Pop com sofisticação, afinal não é qualquer um que abre mão de harmonias (sejam elas beatlemaníacas ou intrincadas radiohédicas) para compor em cima de um acorde repetido, ou de um ruído distorcido de modo a parecer uma sirene. Murphy disse que a gente foi a melhor platéia até agora, e boa parte do agradecimento deve ter vindo dos pedidos de música logo quando tudo parou para o tal baterista de shortinho se ajeitar entre um contra-tempo que andava, e uma estante que ficou frouxa ou quebrada, vai saber. Teve gente gritando João Brasil, teve gente gritando shortinho e topsider, e ele lá em cima, sem pressa nem ansiedade, meio que mostrando que o sucesso internacional depois dos trinta e cinco tem uma ou outra compensação. Resolvido o problema, tudo recomeçou com todos de braço para cima, e acabou um pouco mais de uma hora depois, passado outro intervalo agora de bis, com uma bem-vinda e previsível New York I Love You But You Are Bringing Me Down. Foi bom, éim?
      Do lado de fora, a Lapa chuvosa continuava em festa arrumada, mas agora com estacionamento mais caro, chopps mais bem tirados, e sambistas mais burocratas, cantando a mesma Lapa voltando a ser a Lapa voltando a ser a Lapa. Tinha um pouco a ver, mas eu fiquei dançando ao som do the Twelves sem pensar nessas coisas. Ainda não me chegaram, os pós trinta e cinco.


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