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26.10.05

Paralamas Novo

Era para esse texto ter saído antes, mas o strokatrina que passou pelo Rio no fim-de-semana, atrasou os trabalhos.

O novo disco dOs Paralamas do Sucesso é uma das gratas surpresas do ano. Para quem imaginou - como eu - que a capacidade de compor de Herbert Vianna tinha ficado no mar de Mangaratiba, o engano bate à porta. Para mim, não é tão importante analisar o teor ou as qualidades da letra, até pode se fazer isso, mas não é tão relevante. O que vale mesmo é ver que o talento continua ali, os traços, as idiossincrasias, a forma de compor... é só ouvir para reconhecer: "É o Herbert!".

Paralamas é aquele tipo de banda que me comove pelo simples fato de existir. Ao ouvir que o disco e constatar que a banda continua a existir, meus olhos não choraram, mas minha alegria veio ao rosto. Como naqueles filmes em que a criancinha vibra ao ver o herói dar a volta por cima, eu vibrava ouvindo. Assim como para muitos, Paralamas é a banda da minha vida. E isso é muito, né não?!

O disco começa com "2A". Uma letra esquisita, é verdade, mas que mostra que Herbert tá ali! Afinal, alguém que compôs "somos do interior do milho", também pode compor "Então xinga/ Com 2A de Caatinga/ Ou então pára/ Seja 2A de Saara"... Bem, não entendi. Mas como eu vi que era ele ali, sorri. Antes dessa parte tatibitate os versos que abrem a música lembram Marcelo Camelo "Meu destino não me deixa em paz/ de coração, eu não sei se posso amar/(...) /Pruma princesa eu entreguei meu coração...". Lembra ou não? Vale a pena ressaltar que nos últimos anos, as duas bandas estiveram muito próximas, fazendo vários shows juntas.

A segunda é "Pétalas", uma linda letra de Nando Reis, tem um clima meio "Nove Luas" (1996), numa série de acordes menores que crescem no refrão e traz um instrumental conduzido pelas palhetadas corda-a-corda, pelos metais e a batera. "Sou um homem que tem sobre a pele pétalas (...)/ que dorme na escuridão dos milagres/ e cresce na geração dos seus filhos/ Minha mãe trago em mim também/ Sem sua mão vou buscar caminhos/ E o amor que desfaz meu ódio/ Nos meus olhos retrato vivo". Boa, Nando. Ainda não ouvi o ex-titã cantando isso, mas acho que, assim como na maioria de suas músicas, esta também ficará melhor com o outro intérprete do que com ele.

Aí vem o petardo que já está nas rádios. "Na pista" abre com o naipe de metais meio circense, meio... Los Hermanos (?)... (de novo?!?)... Mas Los Hermanos quando era maneiro! A letra é rasa? É, mas precisa ser profunda? Não! É Paralamas. Isso é o que importa. "Soledad Cidadão" traz um trecho versado (muito bem) por Manu Chao. A grande marca desta música é a letra totalmente herbertiana. O que dizer de versos como "soledad cidadão/ solidão en la ciudad" ?! "Passo Lento", de novo vou me repetir, é para acabar com qualquer dúvida sobre a capacidade recuperada de Herbert. A música é diferente das outras, mas aquele jeito de cantar, quase falado é fatal! Nesse sentido, lembra "Pólvora", mas o refrão "hoje eu não te vejo/ainda sim te mando beijos/ por sentir tanta amplitude no desejo", lembra a de um sucesso recente "Cuide bem do seu amor" ("Te mando beijos em outdoors pela avenida/ e você tão distraída/ passa e não vê"). O tom confessional que já se rascunhava nas primeiras faixas ganha força neste refrão. Herbert está vomitando seus fantasmas. Não bastasse a evidência de tais versos, que indicam estarem falando com sua mulher Lucy Needham (morta no acidente de ultraleve em 2001), os anteriores a ele confirmam isto. "Não quero estar em seu lugar/ Onde eu for local/ E você for só uma estrangeira". Lucy era inglesa.

"De perto" começa com um verso parecido com a da faixa anterior. "Não quero estar nesse lugar/ E ver você partir". Na verdade, parece uma continuação lírica. Esta faixa também tem um clima de "Nove Luas". Se os Paralamas não evoluíram consideravelmente neste disco, pelo menos não retrocederam muito. Os teclados de João Fera estão mais presentes e essa é uma das faixas que deixa isso evidente. Os timbres são aqueles que estão na moda no pop-rock brasileiro. Você pode ouvi-los tanto no "Cosmotron", do Skank, quanto no "Ventura", do LH, no "Ao vivo", do Jota Quest e mais num montão de discos. O solo de guitarra no final, confirma, de novo, o autor da música.

"Ao acaso" é deliciosa. Mais uma vez, um verso se repete "Hoje eu não te vejo e, ainda sim, te mando beijos". É, os beijos dele são freqëentes. Mais confissões? Toma: "Já vai longe o dia em que eu me entregava ao choro/ e nada via/ me anulei demais/ mas em dado instante/ despertei e pensei/ como é importante/ o que o vento traz/ ao acaso/ não vê que a casualidade é uma força/ inesgotável". Com certeza será uma das melhores ao vivo. A entrada da bateria no refrão indica isso.

A partir da oitava música, o disco cai um pouco. O que só comprova, mais uma vez, ser Paralamas. Disco dos Paralamas que não caí de qualidade de repente, não é disco dos Paralamas. "Hoje eu não sei/ se foi o que eu vi/ou se eu viajei/ numa onda de amor entre você e eu/ sorrio, mas é claro que não me calei" são versos que descem tortos, logo com um segundo de faixa. Esquisito. Herbert. "Eu gosto, mas eu sei que não faz bem/ a mistura homogêna/ meu leite, teu mel". (?) "Fora de lugar" traz, de novo, um quê daquele modelo de rockzinho que os Paralamas fizeram até dizer chega no início da década de 1990. "220 desencapado" é o melhor nome de música, mas a sonoridade está mais para choquinho. De novo, as letras sem métrica, sem arredondamento, faladas em cima de uma base, mas sem ser rap. Estas três músicas soam meio "Os grãos" (1991), meio "Severino" (1994), saca?!

"Ponto de vista" é puro rock'n roll, guitarrona distorcida, um bom riff, com mais uma letra vomitada: "Você aí em pé/você não deve saber/ como é o mundo aos olhos/ de quem sofre ao se mover/ eu vou seguindo na luta/ com problemas normais/ (...)/ olhando para o céu/com muita dor no coração". No final, Herbert manda uma ótima frase: "Mas faltam cordas novas no meu violão". Faltam mesmo, mas só de o violão estar sendo tocado, já valeu. O novo ainda deve vir.

"Deus lhe pague", de Chico Buarque, é a penúltima faixa. Ela foi escolhida pelos fãs no site, vencendo, entre outras, "Todo Carnaval tem seu fim" do Los Hermanos (tô falando, tô falando...) e "Para Lennon e McCartney", de Lô Borges (mas gravada por um montão de gente). A versão ficou legal, digna. Com menos elementos do que a original, com o naipe de metais sendo o grande responsável pelo climão, que no disco"Construção" (1971) é feito originalmente pelo baixo, pelos tambores e pela flauta. A versão paralâmica fica devendo bastante à original, mas fica bem assinada pela banda. Depois, pra terminar, uma versão dublight de "Ao acaso". No encarte vem assim: "Ao acaso (dub)". Isso é ou não é nome de música dos Paralamas?! É, os Paralamas do Sucesso estão de volta na capital...

Não é o melhor disco do grupo, mas não era essa sua função. Basta saber que o Herbert está ali. Não importa se ele está cantando pior do que nunca. Sim, este é o disco em que Herbert Vianna pior canta, mas e daí? A música é menor que a vida.

Não é?!?!

*********************
28 a 30 de outubro, no Canecão.

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Só para terminar. Como eu não entendo mesmo nada sobre música, alguém pode me explicar porque nos dois shows dos Strokes no Rio, a música que começou a tocar imediatamente após o fim das apresentações foi "Could it be love", do Bob Marley?!?! Tanto no sábado, quanto no domingo. Será que em SP e PoA também foi assim? Fiquei sem entender essa.


Leia mais sobre Os Paralamas do Sucesso:

Leia mais sobre The Strokes:

4 Opine:

At 23:55, Anonymous Anônimo said...

Querido Bruno,

Os versos "Te mando beijos em outdoors pela avenida/ e você tão distraída/ passa e não vê" pertencem à música Seguindo estrelas e não Cuide bem do seu amor.

Como disse, você realmente não conhece música.

Narcisista e prolixo, torna seus textos chatos e confusos.

Um abraço,
P. Vaz

 
At 00:14, Blogger Bruno Maia said...

Querido "P"
Mais uma vez, você tem razão.

 
At 16:08, Blogger Bernardo Mortimer said...

A música do Bob é 'Could YOU Be Loved'.
E, se for pensar, tem a ver com 'It Must Be Love', do Madness, que tocou enquanto eles entravam no palco, pelo menos no primeiro dia. Vai ver é o que eles têm ouvido, geralmente é assim, né?

Parece que em Porto Alegre o show foi insano, guitarra quebrada e tudo.

 
At 15:05, Anonymous Anônimo said...

P. Vaz,
Mais vale a boa vontade e atitude que a crítica ofensiva e vazia.

Apesar de nao ter lido os outros textos, não achei o texto do bruno prolixo. Talvez seu vocabulário e semântica precisem melhorar um pouco.
Errar, todos erramos; melhorar a cada dia é que é importante.

"Ah o que que há de errado em mim?
Será o preço de tanta indecisão?
Não desejo a ninguém nada de ruim
Mas faltam cordas novas no meu violão!"

Abraços.

 

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