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1.11.05

Entrevista Sérgio Filho, do Gram (Parte 1)


A banda que fez o melhor DVD de um artista brasileiro, merecia o interesse do sobremusica em fazer uma entrevista com ela. Longa conversa via embratel, num sábado à noite (veja você), e aqui está a primeira (e longa) parte deste bate-papo com o vocalista do grupo.

Sérgio Filho é designer, tem 32 anos e não se deslumbra com o crescimento da repercussão em torno de sua banda. Ainda dependente de outras fontes de renda, ele é um músico contemporâneo que, confirmando a teoria do produtor Carlos Eduardo Miranda, do TramaVirtual, sabe que essa é a realidade de quem quer fazer música nestes tempos de facilidades tecnológicas e gravadoras em crise. Um mercado onde a oferta de artistas é enorme e o espaço, nem tanto.

O vocalista fala ainda da importância do conceito visual e da sua construção junto à identidade da banda. Discorre sobre técnica de animação e resgata influências como exemplos do que pensa. Não precisaria, o trabalho de sua banda já mostra que ele sabe onde está indo.

Entrevista com Sérgio Filho, vocalista do Gram

sobremusica: Você chegou a ler a crítica do DVD aqui no site?
Sérgio Filho: Li, sim.

sm: Você acha que aquelas referências estão bem identificadas e a leitura sobre a postura da banda tem um pé na realidade ou foi devaneio nosso?
SF: Quando a gente recebeu o convite pra fazer o DVD, a gente pensou em fazer o melhor possível, a gente trata tudo como a última chance. Os cinco da banda sempre pensaram assim e quanto à vida mesmo. Foi natural que agarrassemos aquilo com muito carinho e tentássemos melhorar o show. O nosso empresário (Ricardo Cantaluppi) também ajudou a dividir bem as tarefas dentro da banda, deu uma organizada na gente.

sm: E o que é “deu uma organizada na gente”?
SF: Distribuiu bem as funções. Ele conhece muito de produção visual, pois é ele quem cuida dos DVD’s da Deckdisc. Ele apontou onde dava para mexer, o que dava pra fazer, ‘dá pra botar um telão?!’, dá pra botar...

sm: Foi a MTV que convidou ou a Deck propôs para a MTV?
SF: Sinceramente eu não sei. Acho que pode ter partido dos dois lados, pois a MTV sempre gostou da gente e a Deck estava afim de investir na banda.

sm: Como foi o processo de discussão do formato que o DVD teria?
SF: A gente assistiu muita coisa. Vimos um DVD do U2 que não tinha nem amplificador no palco! Os músicos de apoio nem apareciam, ficavam tocando em baixo. A gente achou a idéia de limpar o palco muito foda, mas acabou não rolando tanto. Os amplificadores tiveram que ficar, senão ia deixar tudo muito pelado. Vimos muitas coisas... Teve um também, da Marisa Monte, que tinha um monte de recortes com um pano pendurado atrás, passando umas projeções e a idéia de ter projeções veio dali. Pensamos em usar uns infláveis pra fazer projeções, só que a gente queria algo viável de levar para a estrada e, por isso, o pano foi a melhor opção. A gente projetou os panos, mas quem demos para um pintor finalizar, em cima dos nossos desenhos. Não daria tempo para nós pintarmos.

sm: A banda tem três designers. Em que medida isso é bom ou gera mais conflitos?
SF: Não, imagina. A gente divide bem as coisas. No DVD, eu cuidei mais das projeções, o Marco também fez duas e cuidou do site... o projeto do cenário fui eu quem fez, o Riba ficou com a capa e os layouts, eu também fiz os menus do DVD. Os outros integrantes participaram mais do desenvolvimento do conceito, já que eles não desenham e não teriam muito como ajudar. Mas participaram das reuniões todas. Depois que a gente decidiu que teria que ser em cima do clipe do gatinho, a gente pensou em como botar as pessoas dentro do clipe.

sm: E porque “teria que ser em cima do clipe do gatinho”?
SM: Ah, sei lá. A gente achou que era a última chance de mostrar aquilo que foi tão importante pra gente, seria a última música... A gente sabia que “Você pode ir na janela” ia ser a última música do setlist, as outras nós fomos tentando encaixar. “Toda luz” vem na seqüência de “Seu troféu”, por causa dos clipes. Na verdade, os clipes delas são emendados um no outro, são uma coisa só. Deu o maior trampo pra fazer aquilo, eu desenhei em cima de filme! Aquela mão é minha, o pé é da minha mãe andando na esteira... Eu filmei todas aquelas cenas, joguei no computador e desenhei em cima do filme. É uma técnica diferente, pra não ficar igual ao do gato, que é outra técnica.

sm Que é o quê?
SF: O clipe do gato é uma técnica mais Hanna-Barbera. Você utiliza elementos estáticos e só mexe o braço, só mexe a cabeça, ou a boca.

sm: Eu li que pra cada frame (1 segundo tem 29 frames), você teve que fazer dois desenhos?
SF: É... Pra cada coisa que aparece, eu tive que fazer dois desenhos pra ficar tremido. Já o clipe de “Toda luz”, ele treme porque eu não desenhei com traço firme no papel. Nele, eu desloco o traço de propósito para dar mais movimento. Como são poucos frames, é um desenho mais feito às pressas, então não deu pra fazer com tanto capricho. A Disney, por exemplo, desenha com aquelas mesas de luz. Então eles fazem o traço ficar muito firme, cada movimento você não sente. Mas pra deixar com mais movimento, porque você vai fazer com menos frames, você usa essa técnica onde se dá uma sensação de mais movimento, já que tudo mexe na tela. É um truquezinho sujo...

sm: Quando você vai fazer o clipe, você se baseia na história da música ou cria como se fossem duas coisas independentes?
SF: É... No de “Toda luz” eu pensei na frase que as pessoas mais cantam no show, que é “bem atrás da casa havia uma linda flor e você nem viu”. Então eu resolvi que o protagonista seria a florzinha e que as coisas em volta ajudariam ela a crescer. E depois vem “Seu troféu”, que não é um clipe tão dinâmico quanto o do gatinho. Eles são mais parados porque são projeções, não são clipes de fato. Eles estão compondo um cenário. Você olha para projeção um pouco, depois pra banda no palco e aquilo serve como mais um elemento.

sm: Foi quanto tempo de pré-produção?
SF: Três meses ralando mesmo! No último mês, eu trabalhei 16 horas por dia.

sm: O Gram já consegue viver de música ou vocês ainda dependem de outros trabalhos?
SF: Ainda depende, mas eu acho ok, é uma realidade. É lógico que a gente quer viver só de show, de direitos autorais, mas eu não ligo de desenhar, nem quero parar de desenhar. Eu demorei tanto para chegar num ponto profissional, legal, onde as pessoas me respeitam e me passam trabalhos bacanas... Eu tenho medo de perder o traço, porque você perde mesmo...

sm: Tem algum outro trabalho seu, fora do Gram, que as pessoas reconheçam?
SF: Tem. O “Mesa pra dois”, do Multishow, fui eu que fiz. É um desenho bem tosco, mas é o que eles queriam. Normalmente você tem que fazer o que o cliente quer, no Gram, não! (risos). Fiz o piloto de um desenho animado da “Garrafinha” para a Rede Globo, fiz muita coisa do Iguinho, o site infantil do portal IG. A “Garrafinha” e o “Mesa pra dois” foram trabalhos que eu já fiz com o Gram rolando e o Marco Loschiavo me ajudou com a colorização.

sm: O clipe do gatinho já te ajudou como portifólio?
SF: Não, acho que não. Os trabalhos que eu fiz depois foram com clientes meus já antigos.

sm: Quanto vocês economizam, pra vocês e para gravadora, fazendo todo esse trabalho gráfico?
SF: Cara, se alguém me pedisse para fazer aquele clipe do gatinho, se eu fosse fazer tudo, fazer roteiro, elaboração de personagens, e tal, fazendo sozinho, como eu fiz, eu TERIA que cobrar, como ilustrador, no mínimo uns R$ 40 mil. Não tem jeito.

sm: E quanto tempo de trabalho vai ali?
SF: Eu gastei um mês. Quinze dias para pensar e mais quinze pra fazer. Mas eu trabalhei pra cacete! Eu fiquei aqui sem ver a hora. Era muito prazeroso fazer! Eu não sabia se eu estava dormindo, se estava acordado. Eu nem saía de casa, eu sou muito caseiro mesmo. Até por isso foi rápido.

sm: Mas eu digo em relação a todo o conceito visual. Vocês fazem tudo ou a Deck pega um pouco para a equipe dela cuidar? Isso é uma opção estética de vocês ou é uma decorrência de ser uma banda iniciante?
SF: Por enquanto a gente faz tudo. A gente gosta de fazer tudo e eles gostam do que a gente faz. A gente pretende, por enquanto, manter tudo assim, porque gostamos. O próximo clipe nós estamos pensando em fazer com outra pessoa, para ver como é. Estamos curiosos. Na próxima conversa sobre clipes, nós vamos levantar a idéia de filmar, senão fica chato ser só animação, não é? Eu já tenho inclusive alguns roteiros prontos, tanto para essas músicas do primeiro disco, quanto para as do segundo que nós vamos gravar. O próximo clipe a rolar, ainda deve ser o de “Toda luz”, que está no DVD.

sm: Vocês, enquanto uma banda de designers, como enxergam a importância da conceituação visual da banda? Foi uma coisa que vocês sempre se preocuparam em cuidar ou foi uma demanda gerada pelo sucesso do clipe do gatinho?
SF: Designers têm TOC (transtorno obsessivo compulsivo)! (risos)Quando a gente pega um projeto, a gente quer que tudo tenha a mesma cara. Gosta de trabalhar a coerência com a imagem. Como são as mesmas músicas no CD e no DVD, a capa do DVD e a bolacha do DVD estão diretamente ligadas ao que foi no CD. O site, até então, era laranja, igual ao do disco.

sm: Mas isso já vinha desde os tempos de banda independente ou foi depois de assinar? Vocês já tinham preocupação com cenário, com fazer uma capa de demo com conceito...
SF: A nossa demo é o nosso disco, igualzinho. Só quis regravar duas vozes, que estavam muito ruins, que eu tinha gravado em casa, mas o resto é igual, o encarte, a parte gráfica toda. A Deck só comprou a matriz e remixou. Agora, a questão visual é natural de sermos três designers.

sm: E a questão de cenário de show e de figurino?
SF: Também é conseqüência de terem três designers que gostam de botar a mão na massa. Antigamente, a gente tinha uma imensa cara do gato atrás da gente no palco. Nós gostamos, achamos interessante se trazer além do show, o apelo visual, não só o som. A performance também é importante, cada um tem uma posição no palco. No Gram, a gente tenta sempre formar um “W”, para todo mundo aparecer. Lógico que tem palco que não dá, né,que é muito pequeno. Sempre foi uma preocupação desde a época que nós fazíamos Beatles Cover. Aquilo era mais teatral, até por isso era a imagem era importante. Eu sempre fui muito perfeccionista com as roupas. Eu levava todos os detalhes das roupas dos Sgt. Peppers para minha mãe e minha vó costurarem. Acho que eu puxei daí, pra trazer pro Gram. Os outros integrantes também eram preocupados com isso.


(continua em breve...)

Leia mais sobre o Gram:
O melhor DVD já feito por um artista brasileiro * Gram

1 Opine:

At 04:26, Anonymous Anônimo said...

Amo essa banda, adorei a entrevista.
Mas quando que sai a 2ª parte dela?

Ansioso para ler.

Obrigado ;)

 

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