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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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30.11.06

Show :: "Bibi conta e canta Piaf"

To be atriz.
fotos: Bruno Maia

Será que é pintura o rosto da atriz? Com mais de 80 anos, a maquiagem a protege da crueldade do tempo e a aproxima do lúdico de Piaf. No espetáculo "Bibi conta e canta Piaf", a atriz não incorpora como fizera em "Bibi vive Amália". A diferença nos títulos explica bem o que é cada uma das "peças". Se na quinta-feira Amália deixou Bibi no camarim, no domingo Bibi trouxe Piaf para o palco. A diferença talvez se dê pelo idioma. Em Amália, ela estava livre para abandonar seu corpo e entregá-lo à fadista. Em Piaf, o francês seria um problema na comunicação com o público. Mas o rosto da atriz nunca vai te entregar quem é que está ali de fato.

A singeleza da presença de Bibi e a força abrupta que ela traz consigo constrangem. Séra que é de louça? De tão delicado e miúdo, o corpo tenta camuflar a idade. Idade que revela o efêmero do espetáculo. Será que é de éter? A presença fugaz. Vai-se, mas o cheiro permanece e permanecerá. Ali, cerca de 55 minutos. Acá, pouco mais de 80 primaveras. Depois de quatro dias no palco, não há como se cobrar mais do corpo. Será que é loucura? Inverossímel? De quem?


Será que é tragédia? A vida de Piaf gera essa dúvida. Em suas mãos, incontáveis desastres, inúmeras privações. E o sucesso que só é concendido a poucos. O Olimpo só sorri quando quer. Ou será que é comédia?A chanson francesa talvez seja o gênero musical que vai mais facilmente da alegria à tristeza, misturando referências do folclore do leste europeu, com a densidade das artes, sobretudo a literatura e a pintura, da Europa Central. Essa era a pista em que Piaf dançava.


Bibi não ousa tanto quanto em Amália. Ela serve de fio condutor. Por muitas vezes, até narra o espetáculo em primeira pessoa. Essa posição, porém, não interfere na força e precisão da interpretação vocal. Já andando para o final do espetáculo, duas das mais belas e populares canções de Piaf são, inevitavelmente, o auge. "La vie en Rose"e "Non, je ne regrette rien". Andada sem pés no chão.

Será que é uma estrela? Pleonasmo. O brilho que já não está mais ali. Não despenca mais do céu. Todos os pagantes aplaudiram longamente de pé. Nenhum pagante exigiu bis. A vida não tem bis. A vida da atriz não tem bis. Piaf não tem bis. Nem Bibi. No fim, o arcanjo que deixou o chapéu aos pés dela, declarou que a eternidade estava por um triz.

Quando o encantamento se faz, nenhuma crítica ou resenha pode fugir disso. Não é perigoso a gente ser feliz.


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ficha técnica:
Bibi Ferreira
"Bibi conta e canta Piaf"
Rio de Janeiro, 26 de novembro de 2006
Teatro Rival


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