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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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5.12.06

Entrevista: Pedro Sá (1)

Foto: Bruno Maia

Mais uma entrevista do sobremusica com um nome representativo da música brasileira, mas nem sempre iluminado por holofotes que façam jus ao seu talento. Pedro Sá agora está aparecendo mais na mídia após produzir o álbum roxo do Caetano. Neste disco, Caetano tentou se reaproximar da testosterona, da juventude, por um formato de banda de rock. Teoricamente, faz sentido. Mais que isso, Caetano escolheu fazer essa conexão através da geração de seu filho, Moreno, que já vinha cercando seu trabalho há algum tempo. Desde os elogios rasgados que fez a Los Hermanos, anos atrás, Caetano já indicava o encantamento pela música jovem que emergia nesse início de século. A recente desilusão dele com o rap parece aumentar o tesão que sente nos Rocks.

Pedro Sá é um dos melhores representantes que essa geração pode ter. Sua extinta (?) banda, Mulheres Que Dizem Sim, juntamente com o Acabou La Tequila, inaugurou uma nova linguagem e um novo norte estético para as bandas de rock, sobretudo no Rio de Janeiro. É difícil imaginar que o Los Hermanos andaria tão bem nessa estrada, se essas duas bandas não tivessem aberto o caminho. Aos 34 anos, Pedro Sá, além de exímio guitarrista, começa a se firmar como produtor e pensador da música brasileira. O mesmo acontece com seus contemporâneos (e amigos) Moreno Veloso, Kassin, Domenico, Berna Ceppas, Rubinho Jacobina e até com alguns mais novos, que vieram atrás, como os próprios Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.

Pra refletir sobre essa geração e sobre as questões que emergiram junto com o disco roxo do Caetano, pedi uma conversa com ele. Por e-mail, em meio a correria de tocar em vários projetos simultaneamente, ele foi respondendo gentilmente às perguntas. E mais que isso tudo, a principal intenção foi tentar entender a caminhada que o levou ao ponto em que ele está agora. Uma espécie de “perfil”, que deixa mais claro as interferências de uma relação afetiva com a música que vem desde o berço.

Enfim, com vocês, mr. Pedro Sá.
(por Bruno Maia)

sobremusica: Você é de uma família tradicionalmente ligada à música. De que forma seus pais foram dando ferramentas para que vocês começassem a fazer música também?

Pedro Sá: Essa é uma boa pergunta, porque remete a uma história engraçada. Quando eu era criança, o meu pai não tinha, nem queria ter, aparelho de som em casa, isso até os meus 10 anos de idade, que foi justo quando comecei a tocar. Porém sempre tinha gente tocando ao meu redor. A começar pelo meu próprio pai (ne: Ronaldo Tapajós), que é compositor e sempre, todos os dias praticamente, eu acordava ouvindo ele tocar na sala. Ele também escrevia um programa de rádio chamado "Diálogo da Terra" que era difundido em todo o interior do Brasil e dava dicas alternativas de como viver no campo. Sempre tinha uma musiquinha, um tema de cada programa. Eu amava acompanhar essas gravações de estúdio, aí com a presença de vários músicos, guitarristas, baixistas, percussionistas, que era lindo de assistir. Mas eu não tinha intenção de ser músico. Preferia desenhar e escrever, tanto que quando comecei as aulas de violão foi mais por incentivo dos meus pais. Mas desde a primeira aula eu já me apaixonei pelo violão e pela música e descobri que levava jeito pro negócio.

sm: Desde pequenos, Moreno Veloso e você são muito amigos. A relação com a família dele era uma influência musical quando você era criança ou era só a família de um amigo seu?

PS: Me lembro uma vez, quando eu tinha 8 anos, que estava dormindo na casa do Moreno pela primeira vez, aquela coisa de amigo de colégio. Eu acordei no meio da noite (quando eu era criança tinha uma dificuldade tremenda de dormir) e fui beber água. No caminho até a cozinha estava o Caetano, sozinho na sala, tocando e cantando: "Oi Pedrinho, você tá acordado, venha cá um pouco". Aquilo foi lindo, alguém acordado que estava fazendo alguma coisa à noite. Me senti muito aconchegado e fiquei um tempo vendo ele tocando e cantando e conversamos um pouco sobre ter insônia. Depois, na minha adolescência, quando eu já tocava, adorava ir à casa do Moreno ouvir disco, pois tinha tudo lá. Óbvio que teve uma influência na maneira de ouvir e pensar música, mas era mais que tudo a família de um amigo.

sm: Na adolescência suas referências musicais vinham de onde?

PS: Jimi Hendrix, Led Zeppelin, João Gilberto e o disco "Cantar", da Gal Costa.

sm: Você teve alguma banda antes do Mulheres Que Dizem Sim? Se sim, você poderia falar dela(s)?

PS: Tive uma banda na pré-adolescência chamada Tri, que era com os meus primos, e tirou segundo lugar no festival da Escola Parque de 1983 com a música "A guerra", de autoria minha, do Daniel Sá e do Leonardo Toledo.

sm: O Mulheres e o Acabou La Tequila foram bandas que não tiveram uma história longa, mas acabaram definindo uma nova geração musical carioca. Havia alguma relação entre vocês naquela época?

PS: Sim. Havia uma banda chamada GNW (Good Nigth Wasawa) que o Kassin e o Léo participavam, além de mim, do Moreno e do Maurício Pacheco. Fora isso eu toquei no primeiro disco do Tequila e participei de vários shows.

sm: Ainda em torno do assunto "Mulheres q dizem sim / Acabou La Tequila", essa banda GNW me foi uma completa surpresa. Qual era a onda desse trabalho? Kassin e você se conheceram como?

PS: O GNW era uma banda experimental fictícia. Inventamos a história de que éramos do leste europeu e surgimos depois da queda do muro. Então nós representávamos, cada um, um personagem. Fazíamos parte eu (Mike Balloni, guitarrista virtuoso melódico), Kassin (Pete Peters, o nosso Baby Bass, talismã e produtor radical), Moreno (Nino de la Pata, o percussionista Latin Lover), Léo Monteiro (Priscila Vanilla, ex-ator de filme ponô e baterista impressionante) e Maurício Pacheco (Rick Friedman, o lendário vocalista e mítico líder carismático da banda). Conheci o Kassin quando fui estudar o final do secundário no CEL de Ipanema, aliás não apenas ele como boa parte do Tequila estudava lá. Na verdade, o Kassin nem era da banda nessa época, tampouco o Léo e o Nervoso. Os integrantes eram o Donida, o Bacalhau (que depois foi pro Planet Hemp e agora é do Autoramas), o Renatinho (que agora tem o Canastra) e o João Callado (que era o tecladista e hoje toca cavaquinho com o Grupo Semente, que acompanha a Teresa Cristina). Eu e Maurício já vínhamos pensando em fazer o GNW, já tínhamos até inventado os nossos pseudônimos e feito um show com outro baixista, do qual participaram o Nino e o Domenico tocando bateria (cada um em uma música apenas), mas o baterista era o próprio Rick! O engraçado desse show é que era em uma festa da AFS, que promove intercâmbio internacional de estudantes, e acharam mesmo que éramos uma banda do Leste da Europa.

sm: A experiência no MQDS não foi tão longa, mas parece que ajudou a desenhar, junto com o Acabou La Tequila, uma linguagem nova de uma geração musical no Rio de Janeiro. Você concorda? Como você enxerga o papel dessas duas bandas para a renovação da cena carioca? Você citaria ainda mais alguém nessa lista?

PS: Concordo com você. Acho que foram as primeiras bandas a representar a minha geração, da qual me orgulho muito, e que tem muita gente talentosa. Tem muita gente, inclusive de outras partes do país, como é o caso do Diego Medina de Porto Alegre, que sempre foi nosso parceiro. Tem também, da Bahia, o Quito Ribeiro e o Lucas Santanna, que moraram comigo na Gávea, e não poderia deixar de citar o Bartolo e o Rúben Jacobina, que pra mim talvez seja o melhor compositor, junto com o Medina, dessa turma toda.

sm: O que fez com que o MQDS acabasse? Na verdade, trata-se de uma banda que não foi tão ouvida quanto merecia e que, muita gente conhece de nome, mas não sabe do que se trata. Será que você pode contar um pouco dessa história?

PS: Divergências musicais e pessoais. Depois de um tempo de banda houve um descompasso muito grande em relação ao que cada um queria. Mas eu acho o nosso primeiro disco muito legal, mesmo com as imperfeições todas que podemos apontar e de ser oficialmente aquém do que poderia ter sido. Mas o que é, é e tá lá e tenho orgulho também.

sm: Depois do fim da banda - me corrija, por favor, se eu estiver errado - você não chegou a montar nenhum outro grupo com essa linha autoral. A caminhada para o lado de produzir e participar como músico da banda de outros artistas foi algo pensado ou uma decorrência das oportunidades que surgiram?

PS: Olha, eu sou um compositor bissexto. Muita gente cobra um disco meu. Acho que farei alguma coisa, algum dia. Mas o fato é que todas as minhas contribuições como músico e produtor sempre foram muito autorais, digamos assim. Sempre tenho um espírito de banda, por mais profissional que a coisa seja. Na verdade, não sou mesmo muito profissional, sou amador. Sou muito responsável, mas, no fundo, sou amador. Se você for reparar bem quase tudo que faço tem esse "elan".

sm: Eu estou falando aqui há um tempo sobre a 'sua geração', mas nem perguntei se você já reconhece nela um formato estético...

PS:Reconheço uma geração, mas não reconheço um formato assim definido. Talvez você possa defini-lo pra mim!

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Continua em breve... Ainda nessa, ou no máximo na outra semana, vem a parte 2.

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