Androginia e arrogância no Recife (O Placebo esteve lá!)
(de Recife) O mês de abril registrou a passagem de uma das maiores turnês já realizadas no país por uma banda internacional no auge da carreira. O trio inglês Placebo veio divulgar seu quinto álbum, a coletânea "Once more with the feelings", e realizou oito apresentações por aqui, todas em cidades diferentes. O Brasil foi a última escala de uma turnê latino-americana que já tinha passado por Chile, Argentina e México. Esses foram os únicos shows do Placebo previstos para 2005. A turnê brasileira foi viabilizada por uma empresa de telefonia móvel, que promoveu um concurso de bandas novas e deu aos iniciantes o prazer (inimaginável para quem está acostumado a tocar em qualquer lugar) de subir em um palco grande e de er um show encerrado por uma banda do status do Placebo. A grande novidade que a banda trouxe ao cenário nacional foi o uso da tão falada mesa D-Show, da série Venue, da Digidesign (empresa que faz o Pro-Tools). Cercada de cuidados, a mesa, digo, a banda, desembarcou no Brasil via Recife. A apresentação no festival Abril Pro Rock, no dia 15 de abril, foi a primeira no país. Para a bela iluminação do show, a equipe técnica da banda utilizou o mapa de luz do próprio evento, feito por Arthur,da PA Audio e Cia, e uma mesa Whole Hog PC com um laptop acoplado. Todos os presets eram feitos neste laptop e a parte externa servia mais para se ter um melhor controle em tempo real. O excesso de cuidado com o equipamento chegava a soar como arrogância. Os técnicos não falavam com ninguém, apenas com Mário Jorge Andrade, sócio da PA Áudio e Cia, empresa responsável pelo sistema de som do festival, e mesmo assim para utilizá-lo como mediador entre o que eles precisavam e o que era possível se oferecer. Com a imprensa, eles não aceitaram conversar. Nenhum técnico brasileiro estava autorizado a encostar na mesa. "Não passamos nem perto", disse um deles. Ao chegar no Centro de Convenções, onde o evento foi realizado, aconteceu o episódio mais delicado da passagem da banda por Recife. Apesar do áudio do festival estar a cargo da PA Áudio e Cia, os ingleses contavam com a Gabisom, que ficou responsável pelos equipamentos durante a turnê brasileira do grupo. Ao chegarem no Centro de Convenções e verem as 6 caixas milo, da MeierSound, mais oito subs de cada lado colocadas pela Gabisom, os ingleses não quiseram nem testar a potência e a qualidade, simplesmente mandaram descer tudo e trocar. Segundo eles, o acertado eram 12 caixas ao invés das seis que lá estavam. Apesar das argumentações de que aquilo seria suficiente para o local e para o som da banda, não houve acordo. A equipe da PA Áudio e Cia, muito constrangida, disponibilizou seus equipamentos, os mesmos que foram utilizados pelo resto do Abril Pro Rock, e com ele o show foi feito. "Nós não entendemos nada, porque o equipamento que a Gabisom colocou aqui era da melhor qualidade. Pensei comigo: 'Esses ingleses estão malucos!'. Não sei se havia necessidade dessa troca toda. A gente ficou impressionado de eles não quererem nem testar.¿, contou Mário Jorge Andrade. "Nós ficamos apreensivo pois sabemos que os caras só trabalham com top de linha e que o material da Gabisom também era da melhor qualidade, mas no final eles (os ingleses) gostaram, vieram agradecer", finalizou Mário. A estrutura da banda veio toda pronta. Eles só utilizaram o PA do evento e o mapa de luz. o O sistema de monitor veio todo da Inglaterra, por exemplo. A banda não usa caixas de monitor, o trabalho é feito pelo sistema In-Ear da Shure, do modelo PSM-700, com fones E5. Afora isso, a única coisa que eles usaram foram sub-woofers e sides individuais, da Gabisom. Assim, os músicos conseguiam mais pressão e não ficavam dependendo só dos fones. A mesa de som Venue D-Show foi ligada na housemix 1 à mesa Midas XL-200, a principal do festival. Segundo Mário Jorge Andrade, os ingleses não mexeram muita coisa da configuração original. "Eles apenas aumentaram o volume do sub, dos crossovers e tocaram assim. Não mexeram muito.", contou Mário, que além de sócio da PA Audi e Cia, foi o coordenador da housemix 1. Uma das grandes novidades que a mesa traz e que encantou Mário Jorge foi a possibilidade do uso dos plug-ins digitais do Pro-Tools, ao vivo. Apesar disso, a banda continua usando pedais e amplificadores normalmente no show. Poucas horas antes do show, a banda continuou seu desfile de arrogâncias, e mandou a produção avisar aos jornalistas que queria o backstage vazio enquanto eles estivessem por lá. Não seria permitida nenhum tipo de aproximação, nem fotografias além das previamente acertadas, durante as três primeiras músicas da apresentação. Sendo assim, durante o show do Los Hermanos - que subiram ao palco antes dos ingleses - todos foram retirados de lá. O show em si foi um belo espetáculo. O trio se mostrou muito competente no palco, bem como seus técnicos fora dele. Como era de se imaginar, o som do Placebo foi, disparado, o melhor do três dias de festival. Ao contrário do que aconteceu na Argentina, quando houve reclamações do som no início da apresentação de Buenos Aires, em Recife correu tudo bem. O mesmo pode ser dito da iluminação, que como toda boa banda inglesa que se preze, criava mil e um climas, valorizando as canções. Musicalmente, o show foi melhor aos olhos dos fãs que se amontoaram nas primeiras filas e cantaram todas as músicas, do que para os leigos que foram ao Centro de Convenções do Recife para conhecer o som do trio. Depois de uma hora e meia no palco, a banda se despediu, os técnicos de som agradeceram e o Placebo seguiu por terras brasileiras, levando consigo um maravilhoso equipamento, muito talento para utilizá-lo e uma certa dose de prepotência e arrogância. E tudo isso, faz parte do show deles. BOX PLACEBO NO BRASIL 15/04 * Recife (Centro de Convenções) 17/04 * Salvador (Concha acústica) 19/04 * Porto Alegre (Fábrica Máquinas) 21/04 * Florianópolis (El Divino) 23/04 * Brasília (Concha Acústica) 26/04 * Campinas (Red Eventos) 27/04 * São Paulo (Credicard Hall) 29/04 * Rio de Janeiro (Claro Hall)
Organização e muita qualidade no som do Abril Pro Rock 2005 (Revista Backstage - Junho/2005)
(de Recife) A décima terceira edição do Abril Pro Rock começou, no dia 15 de abril e foi até o domingo, dia 17. O local continua sendo o mesmo das últimas oito edições, o Centro de Convenções do Recife e a equipe de som continua a mesma, a recifense PA Áudio e Cia, comanda por Normando Paes, e pelos irmãos Rogério e Mário Jorge Andrade. A estrutura também não mudou muito. São dois palcos se alternando entre bandas novas e grandes nomes já consagrados do rock. Este ano, a festa contou com a cereja do bolo vinda diretamente do subúrbios glams da Inglaterra, o trio Placebo, que fez seu primeiro show em terras brasileiras, neste festival. Além do Placebo, a entrada de duas mesas digitais, uma em cada palco, no rider técnico do evento, refrescaram o ar do evento com novidades. Outra grande novidade que o festival trouxe esse ano foi a entrada de uma empresa de telefonia móvel como patrocinadora. As telefônicas têm investido fortemente em grandes eventos de música pelo país, dando novo ânimo ao setor. Com a entrada da Claro, uma das noites do festival foi dedicada à seletiva do Claro que é Rock!, concurso que promete levar uma banda do anonimato ao mainstream. Todas as oito seletivas realizadas no país foram encerradas pelo Placebo. Paulo André, idealizador e produtor do Abril Pro Rock, que sempre fez questão de manter um rígido critério artístico na escolha das bandas que subiam ao palco do festival, rechaçou as críticas feitas a entrada da Claro no evento e, principalmente, ao fato de uma das noites do festival ser direcionada a um concurso promovido pela empresa . Ele afirma ter participado diretamente da escolha das semifinalistas do concurso e que a participação dos cariocas do Los Hermanos no palco principal abrindo para o Placebo foi uma decisão dele. ¿Avisei a Claro que o Placebo sozinho não tinha condição de garantir bilheteria em uma noite do Abril Pro Rock. Era preciso uma outra banda e eu sugeri os Hermanos¿. O quarteto carioca apareceu para o país depois de participar do festival em 1999. Na época, o show foi tão elogiado que rendeu o primeiro contrato da banda com uma gravadora e, em seguida, o sucesso Anna Julia. A primeira noite do APR 2005 foi, então, dedicada a tal seletiva. As bandas tocaram no Palco 2. Talvez em função do apelo glam que a noite teve ¿ pois foi encerrada pelo Placebo ¿ os paraibanos da Star 61 saíram como vencedores. Os pernambucanos da Rádio de Outono mostraram um som mais original, lembrando a extinta banda gaúcha Videohits, mas o timbre da vocalista incomodou algumas pessoas na platéia. No palco principal, Los Hermanos fizeram o show mais animado da noite. Uma penca de sucessos enfileirados, abertos por ¿Todo Carnaval tem seu fim¿, fizeram a galera cantar durante mais de uma hora. O trio inglês Placebo subiu em seguida ao palco. Com uma potência e qualidade de som impressionantes, eles mostraram que são bons de perfomance. O vocalista Brian Molko, do alto de seu pouco mais de um metro e meio, desfilou a coletânea de hits da banda acompanhada apenas pelos fãs mais próximos ao palco. O show, que serve para divulgar a coletânea Once more feelings. O forte da apresentação foi, sem dúvidas, o espetáculo em si. Uma grande potência sonora, tudo muito claro, uma iluminação precisa, cheia de climas, como normalmente toda banda inglesa gosta. Sábado preto e de som alto A segunda noite foi dedicada aos camisapreta, os metaleiros. Já sem a interferência da Claro na programação, o APR 2005 abriu as portas para a cena metaleira local com as bandas Silent Moon e Chaosphere tocando no palco 2. Muito virtuosismo e volume alto dificultavam a compreensão das melodias, mas a culpa não era da técnica. Depois do Chaosphere, foi a vez dos capixabas do Dead Fish abrirem a programação do palco 1. Uma performance empolgada, com uma legião de fãs cultivadas em 14 anos de carreira cantando todas as músicas, mostrou que eles merecem o espaço que estão ganhando na mídia, desde que a Deckdisc e a MTV resolveram abraçá-los. O único problema da apresentação foi que o som começou irregular, mas foi sendo ajustado ao longo do show. Isso porque a banda não conseguiu chegar a tempo de fazer a passagem de som e entrou no palco apenas com um linecheck rápido. Isso se refletiu em cena. Enquanto rolavam os primeiros shows do Palco 2, os técnicos da banda tentavam passar o som utilizando headphones, mas não foi suficiente. Foram necessárias algumas músicas para que tudo se acertasse. O melhor show da noite coube ao grupo humorístico Hermes e Renato, com sua banda-sátira, Massacration. O grupo do Rio de Janeiro ¿ sim, eles são do Rio de Janeiro, mais precisamente de Petrópolis, e não de São Paulo como dizem o site e o programa do APR 2005 ¿ subiu ao Palco 1 e levou a platéia ao delírio. Com um set básico, que conta com apenas uma guitarra, um baixo e bateria, a banda vai muito bem ao vivo. O som esteve bom, alto e claro durante toda a apresentação. Resultado óbvio: platéia cantando todas as músicas durante pouco mais de 30 minutos de show. O sucesso do Massacration ofuscou os seus conterrâneos do Matanza, que tocaram logo em seguida no palco 2. Com uma performance confusa, com muitos erros de guitarra e um som embolado, a banda tentou salvar-se pelo lado performático. A grande potência sonora da segunda noite viria com o Sepultura. Raimundo Viana, operador de monitor do Palco 1 disse que a banda foi a única que precisou de um tratamento diferenciado. ¿Como eles tocam muito alto, com muita potência, eles pediram um side de bateria, algo muito grande, como se fosse uma caixa de PA, na própria bateria! Duas KF e duas sub. O Andreas Kisser (guitarrista) usou, sozinho, seis amplificadores da Marshall em cima do palco. O baixista (Paulo Jr.) usou seis caixas Ampeg, 8x10¿, para um baixo só também. É tudo muito alto!¿, disse o impressionado operador. A banda era uma das mais aguardadas do festival e foi muito aplaudida. Todo carnaval tem seu fim No domingo, a última noite do evento foi dedicada às atrações mais voltadas para o pop-rock, os trabalhos começaram com os pernambucanos do Superoutro, no Palco 2. A boa banda foi a última a passar o som e teve isso contando a favor. No palco principal, quem abriu a noite foram os paulistanos da banda Gram. Lançando o primeiro disco pela Deckdisc, o quinteto foi bem. Porém, as músicas melancólicas, em tons baixos e cheios de acordes menores que lembram os ingleses do Coldplay, mereciam um cuidado melhor com a voz, principalmente em um festival grande. Isso facilitaria a compreensão das palavras que o vocalista Sérgio canta. Muitas vezes os vocais embolavam com o baixo ou com o teclado, mas isso não comprometeu a apresentação do grupo. No palco 2, a estrutura era excelente, considerando-se que nenhuma banda muito complexa em termos técnicos passou por lá. Contava com uma mesa DDA Forum e uma Yamaha 02R na housemix ¿ comandada por Eduardo Belo e Lindemberg ¿ e uma DDA Forum Monitor no palco. Mario Jorge Andrade, um dos sócios da PA Áudio e Cia, frisou a importância de se utilizar uma mesa digital Palco 2 pelas várias trocas de palco e pelo fato de todas as bandas passarem o som. ¿De uns anos para cá, no Abril Pro Rock, ninguém fica sem passar som. Seja banda consagrada ou nova. Por isso, contar com uma mesa digital é muito bom para nós.¿, disse ele, que também foi o coordenador da housemix do palco principal. Na housemix do Palco 1, foram feitos dois mixes diferentes, independentes, contando com uma Midas XL 200 e uma Yamaha DM 2000. A mesa analógica ficava a disposição da principal banda da noite, enquanto a digital era revezada pelas demais. Foi esse o equipamento do palco principal que serviu bem ao DJ Dolores. Além dessas mesas, o palco contava com um sistema de PA, baseado nas EAW KF 750, cada uma com 2x12", 1x10" e 1x2", todos feitos com componentes da Marca RCF. Eram 12 caixas de cada lado, em flying. Havia ainda 10 caixas de subwoofers 2 x18¿ em cada lado, no chão, também da RCF, baseado nas EAW SB 850. Em cima do palco, contava-se com duas mesas: uma DDA Q2 Monitor e uma Yamaha M3000, no mesmo sistema independente utilizado nas mesas da housemix. Os monitores eram baseados nas EAW SM 400, cada uma com 2x 12" e 1x 2", quase todo da RCF, com algumas originais, somando 16 caixas no total, com amplificadores da Crest Áudio. Quando Dolores acabou sua apresentação, Daniel Belleza e os Corações em Fúria subiram ao Palco 2. Os paulistanos estouraram o tempo de show, obrigando a equipe técnica a cortar o som, quando Daniel ¿ o crooner ¿ tentou começar mais uma música. O episódio mostrou bem a preocupação do festival com a pontualidade. Raros foram os atrasos ao longo dos três dias. No domingo, quando os shows começaram com um atraso um pouco maior, a equipe do evento fez bonito e foi recuperando o tempo perdido com intervalos mais curtos entre os shows. Os cariocas do Leela encerraram as atividades do Palco 2. No início, as guitarras de Rodrigo Brandão, filho de Arnaldo Brandão, ex-baixista do grupo Hanói-Hanói e dono de um estúdio no Rio de Janeiro (que não por acaso se chama Hanói), estavam um pouco baixas. A correção do volume, porém, não foi suficiente para ganhar a platéia, que até prestigiou o show do quarteto, mas não se mostrou empolgada em nenhum momento. Todos ansiavam o grand finale que estava por vir, com a Orquestra Manguefônica. Composta pelos integrantes das duas principais bandas pernambucanas, o mundo livre s/a e a Nação Zumbi, a Orquestra contava com 13 pessoas no palco. Fred 04, vocalista do mundo livre s/a, descreveu bem o sentimento dos músicos que participam do projeto: ¿Rapaz, eu me sinto como se o mundo livre s/a fosse o meu clube e a Orquestra Manguefônica fosse uma convocação para a seleção.¿ A seleção entrou em campo com a partida ganha. A quantidade de músicos e de instrumentos não foi uma dificuldade para os técnicos, já que todos eles viram o movimento Manguebit ¿ do qual as duas bandas são pontas de lança ¿ crescer desde o primeiro Abril Pro Rock em 1993. Na época, a PA Áudio e Cia já era responsável pelo som e, até por isso, eles não encontraram dificuldades 13 anos depois. O único senão ficou por conta da produção da banda, que colocou no palco um setlist errado, oconfundindo os músicos e obrigando Fred 04 a avisar, música por música a cada um dos 13 integrantes. Isso, porém, não estragou a festa. A apresentação foi apoteótica, só ficando um pouco prejudicada pela duração de mais de duas horas. No fim, grande parte do público tinha ido embora, afinal de contas, já era madrugada de segunda-feira, e o batente no dia seguinte aguardava todo mundo. Como diria a música do Los Hermanos que abriu, dois dias antes, o primeiro show, do primeiro dia de trabalhos no Palco 1, todo carnaval tem seu fim. Mas ano que vem tem mais.
O começo
Este blog, que em breve será um site, se propõe a falar das expriências musicais que algumas pessoas comuns tem no seu dia-a-dia... Só isso. Valeu e boa viagem a todos nós...
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