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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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26.5.08

Entrevista :: Paulo Coelho

Esse foi o papo que tive, por e-mail com Paulo Coelho. Fui avisado de que só poderiam ser cinco perguntas. Ao ler as respostas, tentei enviar uma sexta que surgira a partir desta leitura. A resposta foi negativa. Cinco eram cinco. Mas não dá pra reclamar. Paulo Coelho respondeu com desenvoltura às questões que serviriam de base para as aspas dele na matéria que eu fazia para a Rolling Stone sobre as estratégias do mercado editorial para enfrentar as mudanças trazidas pela internet. Ciente da dimensão de sua obra, ele demonstra que está atento ao que falam sobre ele, vide os links que me enviou ao fim do e-mail.

Ícone pop e astuto, Paulo Coelho não costuma dar mole. Um dos principais tópicos da conversa é a iniciativa Pirate Coelho, na qual ele próprio se 'pirateia'. A conversa segue exatamente como os e-mails, sem correções de digitação, nem de português, nem muito menos edição de frases. Até os links que aparecem foram inseridos pelo escritor no próprio corpo do texto. Ia comentar mais, mas acho melhor vocês tirarem suas próprias conclusões.

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Bruno Maia: Observa-se recentemente uma nova dinâmica de interação do mercado editorial com novas mídas. Trailers de livros que inundam o YouTube, sites que vão além do caráter promocional (e chegam até a ser parte dos livros), DVDs agregados que demonstram visualmente o conteúdo escrito, etc. A seu ver, trata-se apenas de uma tomada de consciência do poder promocional que estas mídias têm ou, de fato, uma nova fronteira se abre para a literatura, atribuindo-lhe novos sentidos e dinâmicas?


Paulo Coelho: Creio que existe um pouco de ambos. As editoras e gravadoras estão acordando para essas novas mídias como meios de promoção enquanto que artistas estão usando cada vez mais essas mídias em suas criações.

Ao meu ver ainda existe muita reticência – a gratuidade da internet ainda apavora muita gente. Mas, pouco a pouco, o bom senso esta se impondo. Depois de minha revelação do Pirate Coelho para a comunidade internet em Janeiro, durante a DLD em Munich (Digital Life Design) vi minha editora nos Estados Unidos, a Harper Collins, lançar um novo software para leitura de obras integrais em linha. Meus livros alias estarão sendo postos em linha durante todo o ano (veja em meu blog : www.paulocoelhoblog.com). A Barnes & Noble igualmente esta seguindo esta estratégia.

Mas nao devemos perder de vista que isso ainda esta longe das potencialidades que essas novas mídias podem oferecer. Acredito que serão sobretudo os artistas que iram determinar os novos rumos para esses meios de comunicação.


BM: O que motivou o senhor a fazer tal promoção com o YouTube para o lançamento de seu filme?

PC: Tudo começou de maneira muito intuitiva e depois do lançamento do meu livro. Eu estava um dia vendo blogs de leitores no myspace e me dei conta da enorme reserva de criatividade que estava diante de meus olhos. Pensei imediatamente que uma colaboração com os leitores seria uma aventura fantástica e decidi assim pôr em pratica esta idéia. Abri no meu blog uma pagina de inscrição (http://colunas.g1.com.br/paulocoelho/bruxa-experimental/)– e pedi que os cineastas colocassem seus vídeos no Youtube e os músicos suas composições em seus perfis myspace. Essa experiência ainda esta aberta a inscrições (vai até dia 31 de Maio 2008).

BM: A iniciativa do Pirate Coelho se assemelha com a recente (e alardeada) ação do Radiohead, de oferecer ao consumidor a opção de quanto ele quer pagar e de que forma ele quer se relacionar com a arte. A seu ver, iniciativas desse tipo motivam o consumo tradicional dos seus livros (e das obras de arte em geral)? Qual a reação que as editoras das obras vêm tendo em relação à sua decisão?

PC: O Pirate Coelho (http://piratecoelho.wordpress.com/) - como alias li ha algumas semanas atrás em um blog de leitor, é uma ação muito mais anárquica do que a que foi apresentada por Radiohead. Vale lembrar que eu coloco a integralidade de minha obra em linha para download, enquanto que Radiohead só disponibilizou (temporariamente) seu mais recente disco. A base de Pirate Coelho esta em sites de Peer2Peer como Bit Torrent enquanto que Radiohead disponibilizou seu cd em seu próprio servidor. É verdade, a gratuidade é a mesma, mas como ela é posta em pratica é diferente.

Acredito que a oferta em linha gratuita de livros estimula as vendas no mundo ‘real’. Tive uma experiência no final da década de 90 na Rússia que me abriu os olhos para isso. Estávamos com dificuldades de vendas e sempre vinha a explicação que a distribuição era muito difícil nesse território. Em 1996 havíamos assim vendido somente 1 000 livros. No final de 1997 porém Brida apareceu traduzido em sites de Peer2Peer e as vendas começaram a decolar. Em 1998 – tínhamos vendido 10 000 exemplares, em 1999 100 000 exemplares e em 2000 mais de 1 milhão de exemplares! Isso nao foi coincidência – a internet permitiu que o efeito “boca a boca” se criasse e a partir dai os leitores começarão a exercer uma pressão nas livrarias que por sua vez começaram a pedir mais exemplares... Nao sei se isso se aplica a musica – já que o próprio formato mp3 já suplantou a necessidade do objeto físico do CD.

Em relação a minhas editoras – todas estão aceitando minha decisão.

BM: Estes desdobramentos multimídia são um caminho natural para o escritor literário deste século? Pode haver uma mudança na dinâmica do processo de criação em função de dispositivos como estes?


PC: Não posso prever como as novas mídias irão influenciar o trabalho literário no século XXI. O que sim posso dizer é que já estamos vendo mais interatividade entre leitores e autores. A emergência dos blogs permite esta troca que a meu ver é extremamente enriquecedora.

Mas nao acredito totalmente em um processo de criação coletiva na hora de escrever um livro. Vi experiências nas quais leitores palpitavam durante o processo criativo de um autor e achei o resultado muito fraco.

Acredito na interatividade uma vez a obra finalizada por seu criador, nao antes.

BM: O senhor acha que iniciativas como os trailers de livros - que já trazem algumas das cenas da obra, inclusive com atores em cena - podem interferir no poder da imaginação e da particularização das interpretações que, para muitos, são as grandes armas atemporais da literatura?

PC: Acho que trailers de livros devem ser como bons trailers de filmes – algo que atiça a curiosidade e nao algo que revela tudo. Penso assim que se trailers são feitos com tato e sensibilidade de maneira alguma irão interferir no poder de imaginação dos leitores. Recentemente a HP, que é nosso principal patrocinador no projeto da Bruxa Experimental fez um trailer para os participantes que põe em pratica esta idéia. Veja aqui : http://www.youtube.com/watch?v=OeFLCQY6ysc

Artigos gerados pela conferencia no DLD (podem digitar em um mecanismo de busca:


Fernando Meirelles & José Saramago

Já que o Brasil se rende novamente às premiações internacionais de cinema, que parecem ser a única forma do próprio país se dar conta da dimensão de alguns artistas e o único parâmetro de qualidade para avaliar um filme por aqui, aproveito para postar esse vídeo.

Maior do que qualquer Oscar, Urso ou Palma, eis o prêmio máximo de um cineasta.


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E poucas coisas são mais sinceras e bonitas do que um beijo na testa.

22.5.08

Seu Chico

Esse papo de "a grande revelação do ano" é sempre chato à beça. Mas a Mallu Magalhães pelo aspecto comercial e o Vitor Araújo pelo musical (stricto sensu) são as duas coisas mais relevantes que vi até aqui.

Na ida ao Recife, para o Abril Pro Rock, entrevistei o Vitor para a matéria que está na Rolling Stone desse mês e para umas outras coisas que, qualquer hora começam a pintar por aqui. Fora o trabalho próprio, o cara já é lenda na cidade pela banda Seu Chico, na qual ele se junta a três integrantes da Mula Manca & a Fabulosa Figura para interpretar só músicas de Chico Buarque. Mais um daqueles projetos paralelos com cara de baile que os músicos pernambucanos adoram ter. E a banda é foda.

Aliás, falando no Mula Manca, do Myspace deles sugirto "Terra, água e sal". Bela canção.

Segue um tiragosto de Seu Chico, com direito ao Vitor destruindo mais uma vez. É pra ficar de olho nessa rapaziada toda.

Seu Chico - João e Maria


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Falando nisso, neguin anda muito apreensivo, nos marcando em cima pra perguntar da festa de 3 anos do SOBREMUSICA. Vamos mudar de assunto, galera... Não aguento mais ouvir essa pergunta: "Qual vai ser?"

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Mas e aí, qual vai ser???

21.5.08

Videoclipe :: Fino Coletivo, "Tempestade"

Na correria, meio que passou batido, mas só pra registrar o lançamento do belo videoclipe que a rapaziada do Fino Coletivo fez para "Tempestade", uma das melhores músicas do bom álbum de estréia dos caras. O vídeo é simples, singelo e bonito. Pouco recurso, mas uma idéia e uma leitura interessante da música do diretor Pedro Zoca. É isso, não precisa de mais.

Fino Coletivo - Tempestade



20.5.08

Show: Repercussão do Abril Pro Rock

In ou Dependência? E É Isso Que Importa?


      A cobertura da Folha de São Paulo para o Abril Pro Rock voltou com a tal discussão sobre o patrocínio de empresas públicas para atividades culturais independentes. A discussão é um tanto emprestada das críticas que se fazem ao modelo de fomento ao cinema nacional: é justo ter dinheiro de impostos sustentando o que não se sustenta por si?
      Na minha modesta opinião, a pergunta é um tanto quanto cretina, ainda mais no caso da Petrobras (que é pública mas tem capital aberto, atuação internacional, etc). Mas vamos deixar minha opinião de lado e ouvir dois envolvidos na situação.
      No podcast do Bruno Nogueira, ele que foi assessor do Abril Pro Rock critica o papo meio "crítica pronta" de quem nem se dá ao trabalho de conhecer as bandas de que fala mal.
      No podcast do Terron, Evangelista e José Flávio, o convidado dos caras é o Thiago, repórter da Folha que detonou o acalorado debate, é bom dizer, em sua coluna. Não em uma reportagem.
      Tire a própria conclusão.

15.5.08

Aleatório na Revista Continente

O jornalista Bruno Nogueira fez uma reportagem sobre novas mídias, para um especial da Revista Continente sobre o bicentenário da imprensa no Brasil, e achou que o modelo do Aleatório servia para ilustrar esse assunto. Assim, ele fez a matéria que está na edição deste mês. A revista tem circulação mais expressiva no nordeste, mas pode ser encontrada em alguns distribuidores do resto do país também.

Se quiser ler, mas não conseguir a revista, é só esperar um pouquinho. O autor dela prometeu reduplicar o texto no (excelente e recomendadíssimo) PopUp, assim que a revista estiver fora de circulação.

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Falando em Aleatório, estou em dívida com os setlists recentes do programa, mas já já eles voltam aí...

14.5.08

Rolling Stone :: Além do livro (abril/2008)

O texto que publiquei na Rolling Stone de abril começou aqui no SOBREMUSICA, em março. A coisa andou tanto que até o Paulo Coelho apareceu para falar! A forma como o mercado editorial tem encontrado para não se tornar obsoleto é curiosa. Ao contrário do que acontece na indústria fonográfica, as editoras não têm tanto pudor em admitir que a somente sua "matéria-prima" não será capaz de mantê-la funcionando por muito tempo. Trabalhando com a idéia de valor agregado e apropriação direta de novas mídias, os editores se movimentam de forma interessante e é bom acompanhar os próximos passos dessa história. Já que a edição não se encontra mais nas bancas, reproduzo o texto aqui.

Além do livro
A cultura digital muda o jeito de se fazer literatura

O Youtube anda cheio de trailers de livros. Mais do que um aparente paradoxo, esta é só uma das novidades que sinalizam mudanças na dinâmica do mercado editorial. Uma mudança lenta e quase silenciosa, imposta pelos novos hábitos que a internet trouxe à vida cultural dos dias de hoje.

O escritor Flávio Izhaki optou por um desses trailers para servir de condutor da campanha de marketing de seu primeiro livro De cabeça baixa. “Usamos uma linguagem de cinema, com atores, trilha sonora, fotografia, mas aplicado à idéia de anunciar o livro”. O trailer tem pouco menos de três minutos e foi dirigido por Débora Pessanha. Para ela, as características do projeto influenciavam diretamente na sua criação. “Era preciso encontrar o equilíbrio entre fazer a propaganda de um livro e não revelar muito sobre ele. Por ser algo para internet, levamos em consideração o pouco tempo de atenção do espectador e uma qualidade de imagem desfavorável”, diz a diretora.

Além dos trailers, há outras fronteiras multimídias sendo experimentadas por escritores e editoras, como sites que completam o sentido da obra escrita - oferecendo áudios e imagens do que se lê -, ou ainda DVD’s que são encartados junto com os livros. Há ainda quem junte tudo isso com a criação coletiva propiciada pela internet. Paulo Coelho anunciou um concurso para que leitores façam seus próprios vídeos ou trilhas sonoras, em cima do livro Bruxa de Portobello. “Tudo começou de maneira muito intuitiva, vendo blogs de leitores no Myspace e me dando conta da enorme reserva de criatividade que estava diante de meus olhos”, conta Paulo Coelho. O tal concurso vai até o fim de maio.

O escritor mais vendido na história da literatura brasileira também embarcou recentemente numa frente de livre distribuição de suas obras na internet. A iniciativa, chamada Pirate Coelho, foi anunciada ao mundo em janeiro, na Digital Life Design, na Alemanha. “Como li no blog de um leitor, a Pirate Coelho é muito mais anárquica do que a iniciativa do Radiohead. Nela eu coloco toda minha obra em linha, para download, enquanto eles disponibilizaram temporariamente o seu mais recente disco. A base do Pirate Coelho está em sites p2p, enquanto o Radiohead o fez em seu próprio servidor”. O escritor acredita que a oferta de livros no ambiente online estimula a venda do produto físico. “Tive uma experiência no final da década de 90 na Rússia. Em 1996 havíamos vendido apenas mil livros por lá. Porém no fim de 1997, Brida apareceu traduzido em sites p2p e as vendas começaram a decolar. Em 1998, vendemos 10 mil. Em 1999, 100 mil. Em 2000, mais de 1 milhão! Isso não foi coincidência.”. Segundo o escritor, todas as suas editoras estão aceitando sua decisão e algumas até já reagiram positivamente. “Depois que anunciei o Pirate Coelho, vi a Harper Collins, minha editora nos EUA, lançar um novo software para leitura de obras integrais em linha. A Barnes & Noble também está seguindo esta estratégia”.

Na outra ponta desta cadeia produtiva, os responsáveis pela pequena Editora do Bispo também produzem vídeos para seus lançamentos e oferecem, em sua homepage, o download das obras. Para Xico Sá e Pinky Wainer, responsáveis pela editora, isto é uma divulgação para o trabalho do autor. “Acreditamos que o cara que baixa não é o mesmo que compra”, diz Xico Sá. “Não se pode ignorar que muitos jovens lêem apenas no computador. Criamos a TV do Bispo, que produz pequenos filmes para o YouTube, trailers e provocações em geral”, explica Pinky Wainer.

Segundo o diretor-geral da editora Objetiva, Roberto Feith, para investir nessa linguagem multimídia é preciso pensar em agregar informação e dinamizar o conteúdo do livro. “Isto representa um novo horizonte no planejamento das ações”. A editora além de possuir vários trailers em um canal próprio no YouTube também investiu recentemente em outras frentes multimídias, como o hotsite para Vale Tudo, a biografia de Tim Maia. “Colocamos as músicas citadas no livro para embalar a leitura, recolhemos fotografias que não puderam entrar no livro e criamos um fórum para os leitores contarem histórias deles com o Tim Maia. Acho que no mundo midiático em que vivemos, ações como essa só enriquecem a experiência da leitura”.

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Qualquer hora pinta a íntegra da entrevista com Paulo Coelho aqui. Acho que, pelas aspas aí de cima, dá pra sentir que tá bem maneira...

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Quem anda pelas ruas do Rio de Janeiro (dizem até que em outras cidades também já se ouviu), não volta pra casa sem ouvir a pergunta do momento: E a comemoração dos 3 anos de SOBREMUSICA?!?!? Qual vai ser?!?!

13.5.08

With Lasers nova fase


O With Lasers, blog dos mais dinâmicos e intensos feitos por aí, sob a batuta do gente boa Paulo Terron, está de casa nova. Junto a Paulo, mais três nomes relevantes entram para o time do iG, portal cada vez mais focado na linguagem dos blogs: Ricardo Calil, Ricardo Lombardi e Sérgio Rodrigues.

Apesar da carreira de Paulo pré-WL, a contratação dele faz acreditar que algum dia será mais comum um jornalista se afirmar apenas por sua própria página, tornando mais palpável a quebra do monopólio das fontes de comunicação. E isso é legal. Boa sorte nessa nova etapa do With Lasers!

10.5.08

MySpace: Orquestra Contemporânea de Olinda

De Banda Com o Brega



      O artista brasileiro gosta de brega. Não faltam exemplos de quem tenha abraçado o gênero, do Rei até um replicante gaúcho, um catatau psicodélico, maluquinhos tropicalistas, djs pernambucanos e etc. Isso, claro, sem contar os próprios artistas exagerados, cornos à flor da pele, emergentes assumidos, e aí vão de um Reginaldo e um Odair até os Aviões do Forró e o Calypso. O público brasileiro também costuma gostar, e isso nem precisa de ilustração.
      No entanto, não há fora do Nordeste qualquer demonstração, que não solitária, de aproximação do brega a estilos musicais outros. É difícil não posar de excêntrico ou irônico ao tentar entender e acompanhar, fora do NE, o que é que o brega tem, afinal. De onde vem a falta de vergonha dele, que a uns e outros tanto... envergonha.
      Pois, desde o nascimento de certos caranguejos, lá se vão uns quinze anos, Recife e Olinda viraram o centro simbólico e diplomático de um brega menos corno e mais safado. De Recife para o mundo, ou pelo menos pro Sudeste, isso veio em ondas de maior ou menor repercussão. Teve a cultuada trilha de Céu de Suely, os discos do DJ Dolores, a cover de Loirinha Americana (do paraense Mestre Laurentino) pelo mundo livre s/a, só pra citar as que me vêm à cabeça assim.
      E agora chega a Orquestra Contemporânea de Olinda. Mais do que uns paralelos como a Academia da Berlinda ou a Tanga de Sereia, a big band tem o brega como um dos caldos do repertório de influências, lado a lado sem hierarquia ou piada com os tão na moda dub ou samba antigo de gafieira. Fora, claro, o mangue bit. Tente ouvir Brigitti, o impulso é o de se entregar à farra serena, de timbres agudos da ponte aérea Belém-Caribe. Boa parte é culpa de Isaar de França, voz convidada que agora tenta vôo solo, mas que tem no currículo Orquestra Santa Massa e Comadre Fulozinha.
      Os arranjos de metal da Orquestra chamam atenção pelo pouco uso de tons médios, leia-se saxofones. Não que eles não existam, são dois saxofonistas, mas eles não desempenham a tradicional função de preencher os espaços entre os extremos de qualquer naipe de metais. A tuba, instrumento tão incomum aqui no Brasil, ao invés de só acompanhar a bateria na cozinha rítmica, lidera os vários graves que são responsáveis pelo balanço, pelo incentivo ao baile. Junto com a tuba há dois trombones, e o sax barítono reforçando o efeito sub woofer. E, distante e quase dissonante, o sax alto na região mais aguda com o trompete meio displicente, meio cool jazz. Peraí, cool jazz em uma banda tropical? É sim, embora o som não seja chegado a humores baratos, quem abraça o brega não se furta a um quê de deboche.
      Outro ponto que não passa despercebido é Maciel Salu, o filho do homem do baque, Mestre Salustiano. Outro que participou da Orquestra Santa Massa, Salu canta em boa parte das músicas e toca rabeca em algumas delas, o que não tem como evitar a incorporação de elementos de cocos e maracatus rurais na contemporainedade da Orquestra. Em geral, a tradição popular pernambucana vem junto a naipes funkeados, o que já tinha sido ouvido nos discos Afrociberdelia e CSNZ, do Nação Zumbi com e sem Chico, respectivamente.
      Mas não são só os metais que vêm de uma escola de James Brown, há a guitarra que se sobressai vez-ou-outra como em Não Interessa Não. Tenho sérias dúvidas se dá pra dizer que uma guitarra dessas ainda é um sinal de influências estrangeiras, tal entranhado que está o groove de orgulho black na memória coletiva de qualquer rua, ainda mais de periferia.
      O que é certo é que elegante e sem safadeza, a Orquestra Contemporânea de Olinda defende com propriedade o bloco de quem dança a céu aberto no meio do povo, sem vergonha de cara feia. Afinal, cara feia é coisa que se assusta fácil, fácil, com uma algazarra ou uma zoada. E, isso, tá logo ali. Ninguém precisa contar pra eles.

      Pra ouvir, ou espera o disco que tá saindo pela SomLivre Apresenta, ou vai diretó pro myspace onde tá tudo lá.



Nada a ver

      Se liga nas opções de sábado. Se fosse um desses em cada dia, seria uma semana ótima. Todos no mesmo dia, dá um monte de coisa pra gente pensar...






Nada a ver

      E o Kassin na Pitchfork, se ligou? O mais engraçado é a conclusão do texto: "what accounts for the appeal of the music is that no matter how far afield Kassin and crew go, it's Brazil and in particular the rhythms of Rio that remain foremost in their hearts. Moving away from those roots may potentially mean even greater fame, but what might get lost are the ineffable charms that draw listeners to gems like Futurismo in the first place". Não vejo o problema no Futurismo, mas é um toque interessante.
      Folheando a Rolling Stone desse mês, finalmente uma das melhores edições recentes, fica a impressão de que as novas bandas/projetos paralelos só querem saber de nomes e remixes em inglês. Será que é a boa?

9.5.08

CD :: Columbia, "O que você não quis dizer" (parte 1)

Há alguns meses, o Bernardo me entregou esse cd para ouvir e resenhar. Demorou por vários motivos, mas isso acabou sendo ótimo. Nunca perdi de vista que deveria (e queria) escrever sobre o álbum de estréia do Columbia, então para não me distanciar, fiquei ouvindo constantemente o trabalho e pensei muito a respeito. Vou tentar discorrer umas idéias aqui.

É sempre muito bom – e cada vez mais raro – ouvir uma banda de música pop ser o que ela de fato é. Mais do que uma frase evasiva, trata-se de uma constatação, já que quase sempre o pop é pautado por palavras como “tendência”, “momento”, “da vez”, “hype”, etc. No caso do Columbia, ouve-se um grupo que é imaturo e pretensioso, sendo que ambas as características tomam contornos positivos. A base é o rock-pop de sempre, com forte base no brit-pop, mas sem esquecer que se aprendeu a tocar violão ouvindo Legião e que os últimos heróis usavam barbas e cultuavam Chico Buarque.

O disco abre com “O que você não quis dizer” e seu refrão bom e grudento. Triste e sorridente. Antes do refrão, frases que buscam uma poesia incompleta, com “lacunas” a serem preenchidas, como Camelo ensinou: “diga onde vai, que o digo o seu nome” ou “bobagem é não falar do que não te aborrece”, essa segunda usa a tática do uso da negativa, na frase que faria mais sentido sem. A paradinha na volta do primeiro refrão vai se repetir ao longo de outras faixas, afinal, quem não quer subir no palco e ter uma deixa no auge pra galera explodir?! É o sonho como mola legítima. E ter banda de rock-pop faz muito mais sentido com esse sonho.

Quando vai pra faixa dois (“Nove horas”), surge o Oasis. Para ser mais preciso (e cruel? :P), a faixa dos ingleses é o lado b “Stay Young”. Dá até pra começar a cantar no fim do solo ou abrir aquele sorrisinho (de sarcasmo ou curtição, depende do ouvinte). Na verdade, o Oasis já tinha surgido no nome da banda. Afinal, eles não passaram imunes aos grudes que saiam das guitarras de Noel Gallagher nos primeiros álbuns do Oasis. Ali na frente, vai vir o “ah ahhh ahhhhh” que eu não preciso te dizer de onde eles tiraram, né? A Inglaterra ainda cheira a isso. O rock-pop sempre cheira a isso.

A terceira, “Antes que eu fuja” começa quase emendada com a bateria no fade da faixa anterior, com o bpm parecido. Fica meio esquisito, mas tem uma intenção ali, seja ela qual for. E aí é o começo dos romances de apartamento, com flerte no imaginário indie. “Vai dizer que não reconheceu quando alguém te disse que era eu dançando no meio do salão vazio com o vestido azul que você mesmo comprou pra poder se despedir sem dizer meu nome”. Reparou no vestido azul que ele comprou? Reparou que ela dançou no salão vazio? E que ele se despediu dela sem dizer o nome? Pois é, um romance que está além da adolescência, mas que ainda mora no apartamento dos pais. A quarta faixa é uma balada que pinta o mesmo cenário, “não quero mais estar aqui porque sei o discurso todo, palavra por palavra, tenho certeza que agora vai dizer ‘eu não quero mais brigar’”. Ora, cara-pálida, você sabe do que ela está cantando, mas não consegue fugir da sensação de que aquilo te soa pueril. O tecladinho ali do fundo te confirma isso. E isso é você. E aí, o que é que te resta? Condenar a ingenuidade da banda ou assumir a inocência que te guia? É estranho ter vinte-e-poucos anos e esse retrato se ouve bem nas letras do Columbia.

Tenta ouvir no myspace deles ou no site oficial, que depois a gente continua essa conversa.

8.5.08

Shows: Fanfarra Paradiso e Bonde Som

Novidades na Música Instrumental Carioca

       Tá, um título desses já começa exagerado, seja porque tanto o Fanfarra quanto o Bonde já tocaram muito por aí, ou porque o funk tem lá suas doses de instrumental eletrônico novo, o chorinho, funk com chorinho, etc. Mas vamos ao assunto: sábado foi dia de ir à Áudio Rebel rever os amigos do Coquetel Acapulco, e ficar mais um pouco para ver a Fanfarra, que se não chega a ser de amigos é de conhecidos.
       A julgar pelo show que mostraram, os meninos se preparam para o lançamento do primeiro disco pela Midsummer Madness de ouvidos atentos muito mais para paisagens sonoras em arranjos cheios de camadas do que para um som de baile simplesmente. A banda é reconhecida como de ska, ou de swing (em inglês mesmo), mas está mais para uma mini-orquestra de trilha sonora, namorando até com um indie etéreo dos anos 90 - desde que você não esqueça a formação com cinco sopros da banda. Mas justamente pela expectativa lugar-comum de que uma frente de saxes tenor e alto, trompete, trombone de pisto e flauta transversa vá mais é virar metal pesado, o Fanfarra opta por abaixar o volume e privilegiar a dinâmica. Se é pra pecar, no caso deles, nunca vai ser pelo excesso. Aliás, nem toda apresentação deles conta com todos os integrantes, o que até é bom para tornar cada uma delas um pouco singular.
       Banda formada por amigos que muitas vezes se conhecem desde o colégio, o Fanfarra sofre de um mal que não passa batido: há músicos ali significativamente melhores do que outros. Para compensar, além de um natural destaque nos arranjos para os que se garantem mais, a banda demonstra tocar absolutamente concentrada no que está combinado e ensaiado. Às vezes, falta até sorriso, o que é bem engraçado. E sobram olhares cruzados, o que é sinal de que o papo é sério, pode reparar.
       A grande atração da noite era o Palmeras Kanibales, da Venezuela, mas não deu pra esperar. Depois de uma cervejinha na casa do dj, o destino foi a Casa Rosa. E a surpresa (para o desavisado), o show do Bonde Som abrindo para Rogê.
       O Bonde Som segue a escola do samba jazz dos anos 70, JT Meirelles e os Copa 5, por exemplo, e faz isso sob as bênçãos do saxofonista-modelo Carlos Malta. Não por acaso, Malta vira-e-mexe é o convidado em shows dos meninos. Igualmente não por acaso, grande parte das músicas do Bonde é levada pelos vários e excelentes saxes de Yuri Villar, inclusive "aquela do video game", uma interpretação para o tema de Super Mario Bros. O Bruno Maia ia adorar.
       Mas se o Fanfarra vive um dilema por ser banda de colégio, o Bonde sofre o de ser banda de universidade. E me perdôe os clichês, mas aqui vale o raciocínio. O som do Bonde é por demais referencial a um tempo passado, o que acaba idealizando um pouco os elementos que eles se dispõem a movimentar. Os timbres do teclado remetem ao jazz cubano, e vêm acompanhados pelas contribuições da percussão. Na bateria, as levadas do Beco das Garrafas (pensou Milton Banana?) são ótimas, mas não provocam reação, expectativa ou surpresa. Há qualidade, frescor não. Apesar de bons músicos, e de uma composição de banda mais regular e acima da média do que o Fanfarra, já que o texto é sobre os dois, ainda há invenção ali por fazer. Que o exemplo de Carlos Malta funcione nesse sentido.
       O Bonde Som também está prestes a se lançar em disco, mas pela Bolacha dos SMDs. E o Rogê, me desculpe, eu não fiquei pra ver.

       Só pra fechar, o disco do Tira Poeira que tá prometido pra sair (já saiu?) é também, mesmo sem ouvir, um novo ótimo exemplo do que está se fazendo de instrumental por aqui. A banda que o rótulo acusa de ser de chorinho, se você não ouviu, tem solos de sax hendrixianos, eletricidade nas cordas do violão, e todos mais aparentes paradoxos que soam muito naturais. Neste cd a caminho (já chegou?), há inclusive uma parceria do Tira Poeira com Sany Pitbull, reinterpretando um afrossamba de Baden Powell. Chorinho, bossa, funk: música instrumental.

7.5.08

Blip.tv: O Bom Veneno, Nervoso e os Calmantes

Canarinhos de Petrópolis




Via Otaner.

2.5.08

Dailymotion: Stress, do Justice

La Haine



      Onde começa o mal-estar? E termina?

1.5.08

YouTube: Cachoeira, Do Amor

Playground



Via Melvin Carbonara.


Enfim, a casa própria
Perda :: Dorival Caymmi
Dorival Caymmi :: Compilação de vídeos
Show: Momo, no Cinemathèque
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