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Bernardo Mortimer
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Bruno Maia
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31.12.06

Mais Listas Antes Que o Ano Termine

Ah Vai, Deixa Eu Brincar...

      Esse negócio de fazer lista é engraçadão, porque é injusto, simplificador, aleatório, controverso, artificial, às vezes bem técnico, todas as vezes bem impreciso, e acima de tudo inofensivo. Aliás, acima até de inofensivo: viciante. Eu tinha feito uma resolução de fim de ano de que só iria botar lista (sempre uma de cada vez) em fim de texto. Como anexo. Mas já era. Foi fazer a primeira, veio a segunda e eu fiquei mal porque simplesmente passei batido pelo mombojó. Horas lendo os meus cds, na internet, revendo arquivos aqui do sobremusica, esqueci. Já foi, sem sofrer. Aliás, no próprio do Beck, já tinha burlado a minha regrinha particular e botado duas listas juntas. Daí, o texto do Céu de Suely, e fiquei achando que tava em um nível de cabeçudisse tão assim que não merecia fazer lista ali, a não ser que fosse uma lista de um ítem só tipo "o melhor cd do ano que não vai ser lançado" para a trilha sonora de forrós eletrônicos antropofágicos pop de empregada que - coincidência, quem ainda cai nelas? - chegou assim no fim do primeiro governo Lula. Tipo, o da responsabilidade fiscal.
      Mas sem querer embaralhar tudo que invade a cabeça um pouco antes da bebedeira que antecede o reveião de cada dia, ops, ano, fica aí com umas besteiradas das gavetas da minha cabeça. E aproveita 2007, o ano da consolidação da revolução. Se é que isso existe. Quem vai dizer é você. E o sobremusica tenta acompanhar. Na humildade, fingindo que sabe do que tá falando. Um beijo e um abraço,


      5 discos que só me apareceram em 2006 (sem ordem, naquele esquema)

      *) Coisas, Moacir Santos (1965)
      *) Céu, Céu (2005)
      *) Dimanche à Bamako, Amadou et Marian (2004)
      *) TNT, Tortoise (1998)
      *) Gipsy Punks: Underdog World Strike, Gogol Bordello (2005)

      5 expectativas/2007 de olho no myspace

      *) João Brasil
      *) Nervoso
      *) Canastra
      *) Binário
      *) Tortoise

      5 tristezas

      *) Moacir Santos
      *) James Brown
      *) Guilherme de Brito
      *) Braguinha
      *) Robert Altman

      5 alegrias de viver

      *) Céu
      *) Amy Winehouse
      *) a garçonete do Empório
      *) Hermila Guedes
      *) Lovefoxxx


      Feliz ano novo!

30.12.06

Profissionalizando uma banda

O Instituto Gênesis está abrindo na PUC-Rio esse curso de empreendedorismo para novos artistas. É um projeto bem bacana, coordenado por um pessoal que já vem há um tempo tentando organizar, formatar e estimular a produção musical do estado do Rio.

A equipe da Incubadora Cultural, coordenada pela Júlia Zardo e pelo Fábio Silveira vem num esforço, desde 2002/2003, de tentar mudar a forma como as pessoas enxergam a produção musical. A idéia é fazer com que passe a se encarar a música como um gerador de divisas, uma atividade economicamente importante para o Rio de Janeiro. Este curso é um desdobramento dessa filosofia e tenta incutir essa mentalidade nos novos artistas, interessados em tornar o próprio trabalho algo financeiramente viável. Uma visão de business para quem confia no próprio talento artístico.

Para mais informações, clique nessa imagem aqui embaixo.

29.12.06

Obituário


serviço:
Velório - 18hs
Sepultamento - 19hs

Foi bom enquanto durou (com a Astrid, a Cuca e a Sabrina).

Que venha o "SMS MTV"...

O Céu de Suely, a trilha

Os Forrós de Hermila, Karim, Kassin e Berna


      Os olhares e os sorrisos de Hermila, personagem de Hermila Guedes em O Céu de Suely, transmitem força a um primeiro plano do que o filme quer tratar como assunto. O segundo plano é o que o assistente de direção e roteirista, Felipe Bragança, descreveu como o “chão seco em que se pisa, para o céu lavado ao qual se olha”. E o terceiro é a música do lugar, fundamental para a abstração que vai levar o espectador a se aproximar dos sentimentos, aos afetos e à fé da forte personagem desse segundo longa-metragem de Karim Aïnouz, quatro anos depois de Madame Satã.
      Os super-closes do rosto, dos olhos verdes, e do sorriso de dentes certinhos e curtos de Hermila narram a perspectiva da história contada. Hermila está sempre em foco. É pela subjetividade dela que a cidade de Iguatu será apresentada. A relação entre a personagem e o meio ao qual ela chega e onde não quer ficar é que vai conduzir as decisões e os rumos da história.
       A pequena cidade do sertão de O Céu de Suely é um deserto estático, sem vento, cercada por todos os lados por luzes e sons de um mundo em transformação. O chão é árido, o céu é desolador: belo, porém melancólico. A informação corre rápida e rodeia Iguatu, mas Iguatu é de um passado e presente imóveis, parados. Por isso, Hermila perde o olhar no horizonte, à procura de uma fuga de um futuro que precisa ser sacudido. Essa é a missão que a personagem vai cercar. É circular que ela quer, é ir para fora.
       Daí a importância da música em O Céu de Suely. O presente do filme é cercado e imóvel, mas não isolado de todo. Há sinais de pontes, como as estradas, as bonitas motos... Mas o mais forte é a música. Forrós eletrônicos, versões de músicas em inglês, trazem para o mundo de Hermila tudo que ela ainda tem da São Paulo que deixou pra trás junto com o marido que não vai mais chegar para armar com ela, no sertão, uma banquinha de cds e dvds copiados.
       Quando a voz da ex-mulher de Odair José, Diana, soa em Tudo O Que Eu Tenho, versão de Everything I Own, conhecida na gravação de Boy George de há uns vinte anos, são dois mundos que estão se cruzando a partir do nordeste que o diretor quis apresentar. E, vale dizer, esse nordeste é pouco representado no áudio-visual brasileiro, embora seja um tanto autêntico. Tanto que nenhuma das músicas foi composta para o filme, elas foram pesquisadas e reunidas pelo diretor. O brega ultra-romântico toma para si um sucesso do rádio lá de fora e o adota com o sotaque que lhe soa melhor. Cada uma das músicas da trilha é um exemplo do tráfego de informações e de referências em uma dinâmica de mundo que não isola nenhuma localidade. Iguatu é longe de tudo, mas não é alheia a tudo.
       Ainda é o caso de Blábláblá, versão de Thorn (Natalie Imbruglia) cantada por Solange Almeida e tocada pelos Aviões do Forró. E da canção principal do filme, que fez o caminho inverso. Não Vou Mais Chorar – um sucesso no nordeste, também dos Aviões do Forró – já se viu transformada em tecnobrega, em axé, e no que mais permitiu a criatividade dos artistas nordestinos. A livre reapropriação, impulsionada na urgência de festas da região, são um efeito da ansiedade por movimentação, por circulação das vozes, no caso sempre femininas, que o filme retrata. Pirataria? Ou sinal dos tempos? A jovem mãe de Mateus é também, com a franja descolorida, uma filha de Iguatu transformada pelo que viu lá fora. A circulação que ela anseia não é o passeio dos forrós eletrônicos, o sucesso de novas versões am de antigos temas de fm. Mas uma nova busca por um conforto que pode estar sempre em outro lugar. Não é certo se Hermila tem uma opção ou algo maior.
      Hermila só é feliz quando a música está presente, mesmo que acompanhada por um vidro de acetona, cerveja ou um cigarro de maconha. A alegria e a paixão são o vislumbre do mundo fora do deserto de Iguatu, diz o sorriso da personagem. Ao decidir armar um plano de saída, Hermila veste-se em uma Suely que já dança outras músicas, tímida, sem sorrir. A música, agora, é a do rádio do motel, deslocada do ambiente, mal sintonizada. Há sofrimento na decisão pela rifa de uma noite no paraíso com ela. É a tempestade no deserto, todos querem uma rifa de Suely, e ninguém quer Hermila na sua venda, na sua casa, na sua companhia. A cidadezinha se mexe para desejar e repudiar a rapariga. A saída significa renúncia, coragem, e um árduo desapego. A circulação se confunde entre desejo e circunstância. Uma circunstância provocada, mas não planejada. Não é mais uma opção, mas algo maior.
      Os sentidos da maternidade, do carinho da adolescência, da família e da prostituição são todos enfraquecidos pelo olhar verde (o céu é azul, a poeira da terra é amarela) para fora, pela janela, de Hermila. Ela vai para o sul, para “o mais longe que estiver daqui”, e quando puder volta para buscar o filho, a avó e a tia.
       A música da despedida, do ônibus que some no céu acima da estrada, é a única que é de outra ordem, nem das antenas de São Paulo nem dos cds gravados dos forrós de Iguatu. Somebody Told Me, do grupo alemão Lawrence, é uma doce composição eletrônica que abre o destino para uma imprecisão etérea da realização de Hermila-Suely, agora confundidas e viradas de costas para a janela em movimento. Remixada, a música faz a ilha ficar para trás. O presente também. À frente, o céu.


      Em todo o material de imprensa do filme, a escolha das músicas da trilha aparece creditada ao diretor Karim Aïnouz, ao longo do processo de realização. Mas na ficha técnica, é a dupla Kassin e Berna Ceppas que aparece creditada a Música. Deve ser um crédito técnico de tratamento do áudio e de eventuais edições. Além da mixagem final. Para ouvir as faixas, o site do filme tem uma rádiozinha que dá pro gasto. Outra dica é uma matéria de Bianca Kleinpaul para o Globo Online.

27.12.06

The Information, Beck

Os Tempos, Eles São Uma Mudança (ii)


      Beck deu uma série de entrevistas para divulgar o lançamento de The Information, e como é regra nos dias de hoje, o disco vazou antes do tempo. Na melhor e mais comentada das entrevistas do artista, Beck contava à Wired que estava atrás do disco infinito, onde a interatividade chegasse ao ponto de que a música fosse apreciada como um videogame. Como é regra nos dias de hoje, a primeira impressão ao ouvir o disco (em mp3, baixado antes do lançamento) é uma impressão pronta: o trabalho era uma volta ao melhor de Beck, Odelay, mas deixava muitos caminhos abertos, faltava fechar o trabalho. Um raciocínio pré-fabricado, esperando só um audição para referendá-lo. Mesmo assim, foi muito publicada por aí, em papel ou um tela de computador.
      The Information não é um disco infinito, e nem pode ser jogado como videogame. No máximo permite a brincadeira do skip, aquela setinha que faz o ouvinte pular de música. Nem no site oficial há versões prontas para serem montadas, e até onde sei não foi lançado nenhum material alternativo para djs, pelo menos em escala industrial, que justifique uma idéia de personalizar o disco para cada consumidor. E isso certamente funcionou de dois jeitos, comercialmente. Atraiu atenção, posts, reportagens, trocas de arquivos, criação de tópicos, mash ups, etc. Mas a atenção gerou uma decepção.
      Nesse novo trabalho, Beck assume uma máscara diferente. Se tinha sido o indie com suingue de negão em Odelay, o gringo entre latinos de Guero, o Prince louro em Midnite Vulture e o turista na Bahia em Mutations, aqui ele vira tudo isso na forma de um leitor atento e perdido de jornais. O nome do disco é A Informação, e a partir de disso ele aponta excessos de textos, faz desenhos (charges?) de sons, sobrepõe texturas e aposta no non-sense de letras imprecisas, mas com certo tom entre o cinismo e a melancolia. Sobre a falta de sentido de tudo. Para que tanta notícia?
      O tempo, para Beck, é de interferências nos sentidos. Em Cellphone’s Dead, por exemplo, samples que soam aleatórios misturam tv ligada com ruídos de propaganda e de rádio. A voz de uma criança cheia de si ameaça arrebentar todos, um por um. A violência, para Beck, é vazia e só choca fora de contexto. A bateria de contra-tempo fechado e o baixo robótico, mas quente, remetem a um soul dos anos 70, seguidor dos primeiros sons de James Brown. Mas a produção de Nigel Godrich (OK Computer e Kid A, do Radiohead, por exemplo) e a intenção de Beck são o hip hop, e não dá pra dizer que não é isso. Também.
      Assim, Beck faz como a referência Bob Dylan e olha para si quando jovem. Só que Bob, em Modern Times, olha para fora – inclusive para o passado. E Beck olha para dentro, para o sentimento indie de desenturmado no mundo, para a eletrônica suja dos clubes baratos e para o hip hop de contadores de histórias, mais psicodélico do que bandido. Não se trata de uma descoberta da Tropicália, do terceiro mundo, nem da discoteca.
      O branquelo desajeitado tem diversos perfis no espaço dele, mas todos com a mesma senha: folk. Em uma época em que o formato canção parece ter ressuscitado em cima do álbum, Beck aposta justamente no contrário. Um disco que é melhor ouvido em conjunto. No fundo, em meio a texturas, samples e eletroniquices, o trabalho se versa sobre um sotaque sulita de americano, preocupado mesmo é com A Informação por trás de tudo. À espera por uma resposta, afinal de contas, hippie. E só. Muito boa de ouvir.



Nada a ver

      Para mim ainda valeu falar de discos, esse ano. Dizem que 2007 vai ser a revolução. Eu acredito. Mas enquanto isso vou te contar, meus olhos puderam ouvir, e o que me deixou algo feliz sozinho (ou acompanhado) nos últimos doze meses foram esses cinco aqui. Sem ordem, numa boa, só para puxar assunto.

      *) Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not; Arctic Monkeys
      *) Modern Times, Bob Dylan
      *) Pieces Of The People We Love, Rapture
      *) The Information, Beck
      *) Radiodread, Easy Star All-Stars

      Nenhum brasileiro, não leva a mal, fica à vontade pra xingar, mas não teve Marisa Monte, Tom Zé, Moptop ou Caetano Veloso que me sensibilizasse mais do que esses aí.

      E aproveitando que você veio até aqui, a lista do que não bateu em mim, em 2006.

      *) Hot Chip (clipes e músicas)
      *) Carioca, Chico Buarque (o disco, o cara ainda é o cara)
      *) Devendra Banhart (o conceito por trás... não, brincadeira, tudo)
      *) Bonde do Rolê (não vejo graça, mas a performance é boa)
      *) Show do dj Shadow na Marina da Glória (caidinho)

26.12.06

Shows 2006´:: Shows 2007

Fim de ano, aquela coisa. Todo mundo quer fazer sua listinha de melhores discos, melhores dvds, melhores nao-sei-o-quês, melhores músicas...

Como este foi o ano em que eu menos ouvi discos na minha vida, não me sinto habilitado a fazer uma lista dessas, apesar de ainda achar que o do Islands, lançado em janeiro(!!!) é genial e que o disco de sambas da Marisa Monte também é lindo. Já que não quero fazer uma lista de discos, poderia então fazer uma das melhores músicas. Mas eu sou preconceituoso e tenho medo de acabar sendo sincero e ter que incluir o Justin Timberlake ou a Beyoncé.

Então resolvi fazer a lista dos melhores shows que eu vi este ano, já que também vi uma quantidade excessiva deles, hehe... Vamos lá.


1) Franz Ferdinand (Circo Voador)
2) Strokes
3) Red Hot Chili Peppers (1) / (2)
4) Matisyahu
5) Paralamas (no Teatro Odisséia)
6) Roger Waters performing The Dark Side of The Moon
7) Bibi vive e canta Amália
8) Batalha de MCs (Hutúz)
9) Caetano Veloso
10) Hammond Rens


menção (mais do que) honrosa para The Racounteurs, Gogol Bordello, Arctic Monkeys, Wolfmother e Ms. John Soda.

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E que tal terminar esse ano de tantos shows bacanas aqui no Brasil sabendo que Wolfmother e Matisyahu (que show foda!!) vão tocar no Circo Voador ainda nesse verão, hein? Nada mal, né. Pois é, tá quaaase certo, mas você já pode espalhar. Pode até contar pro Lúcio Ribeiro, se você quiser.

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O Kinky e o Lee Perry também estão a fim de chegar por aqui... Mas isso você ainda não pode contar pra ninguém, tá?

25.12.06

Curtiu a vida adoidado


Se o diabo é o pai do rock, o capeta chamou o filho pra animar o natal...

24.12.06

Porque sim.

imagem encontrada em GoogleImage
Abrindo um precedente perigoso, um juiz do estado de Oregon, nos Estados Unidos, negou um pedido de defesa de uma ação para rebater a postura agressiva da RIAA de processar quem disponibiliza arquivos pela internet que infrigem propriedades do copyright. Mais do que a decisão em si, o perigo maior está na jurisprudência aberta no momento em que o juiz afirma ser suficiente o argumento da RIAA (Recording Industry Association of America).

Você, leitor sagaz do sobremusica, deve se perguntar "qual é o argumento da RIAA?". Pois bem, o argumento é aquele velho, de que qualquer arquivo musical protegido por copyright disponibilizado pela web lhe traz prejuízo e, sendo assim, cabe ação contra todos os que têm arquivos disponibilizados de alguma forma. Até aí, nada demais.

O problema é que essa é a primeira vez que um juiz dá um parecer favorável baseando-se no "porque sim". No texto, não há qualquer fundamento que justifique a decisão. Nenhum argumento sob a questão do copyright, nenhum fundamento acadêmico, caso jurídico anterior... Nada que explique essa decisão. Só um "porque sim".

Cuidado com a Cuca...

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Aliás e a propósito, esse cartaz tem a ver com aquele papo sobre uma possível vingança do comunismo, que surgiu entre Bernardo e eu no texto "Assunto: lonelygirl15".

crédito: Modernhumorist
E cada um tira as suas conclusões.

Primeira promessa ::

Primeira promessa de final de ano, pra cumprir ainda em 2006:
- Entrar em 2007 com o SOBREMUSICA zerado, sem dever nada.

Logo, preparem-se para uma última semana do ano frenética. Bem como foi esse ano todo por aqui.
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Feliz Natal a quem é de Cristo.
Boa troca de presentes, rabanada e bebedeira pra quem só curte a festa mesmo...

21.12.06

Enquanto a MTV abandona o videoclipe...


Primeiro, o Multishow entrou no mercado de videoclipes. Depois, resolveu ocupá-lo. Para tal movimento usou a estratégia de pensar um canal de clipe como uma rádio, supondo que hoje em dia, a música na televisao é consumida ao mesmo tempo em que se olha o computador ou outra atividade qualquer. Sendo assim, o ouvinte só viraria telespectador quando algo de muito inusitado passasse ali ou quando tocasse aquela música que ele já conhece. Da tática de transformar a tv em rádio e investir em clipes como os de Bob Sinclair, o Multishow parte para um novo momento, claramente conseqüente disso que foi falado aqui. O canal está anunciando a MultishowFM. Ao invés de explicar muito, vamos aos fatos, como circulam estão sendo divulgados desde semana passada...

A música da programação do Multishow chegou ao rádio. No próximo dia 19 [de dezembro]o canal lança, em parceria com o Sistema Globo de Rádio, a Multishow FM. O projeto já conta com a estrutura completa de uma FM: 2 locutores, 1 produtor, 1 programador e 2 DJs.

A idéia é tê-la, em breve, na freqüência FM.A Multishow FM tem como público-alvo os jovens de 18 a 29 anos. A rádio toca os diferentes estilos musicais que fazem a cabeça do público jovem, com predominância dos gêneros pop, rock, eletrônico e black music.

Sintonizada com o universo pop, a Multishow FM traz para o Brasil os lançamentos mais recentes do mercado mundial, além de revelar novos estilos e tendências, tocar sucessos e abrir espaço para novas bandas nacionais.

A Multishow FM está disponível, por enquanto, somente na internet: desde agora em
www.multishowfm.com.br e, a partir de 19/12, no site do canal (www.multishow.com.br).

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Em mar revolto, cada barco tenta fugir pra um lugar...

20.12.06

Show: Caetano Veloso (a banda)

Um Olhar Sobre As Companhias de Caetano


      Acabei conseguindo ir de última hora para o show do Caetano, que o Bruno já descreveu aí embaixo sem que eu discordasse de nada (a não ser pelo fato de que talvez eu goste menos ainda do disco). E fui com uma grande curiosidade, a de ver o comportamento de três pessoas na estréia à vera da turnê de Cê no Rio, na Lapa, na casa deles.
      Pedro Sá já teve a chance de se apresentar por aqui, mas eu vou adiante. Mais velho dos três integrantes do power trio de Caetano, ele era o mais encantado da noite de ontem. Antes de Nine Out Of Ten, a quarta da noite, já tinha trocado sorrisos e olhares com Ricardo e com Callado. O primeiro foi com Ricardo, no baixo, para quem vibrou e levantou o punho essquerdo com o indicador e o mindinho em riste. Toda aquela reação do público era punk mesmo, e se esperada ou não, estava batendo ali na hora. Ao longo do show, foi ocupando mais espaço no canto esquerdo do palco, até que no fim já solava com a guitarra de lado e abria o sorriso a cada base marcada, reta, marcial do rock caetânico. Ora Kassin, ora Lanny Gordin, muito bom.
      Ricardo Dias-Gomes, de cabeça raspada, era o mais tímido dos três, mas isso em momento algum significou insegurança. Magrinho, com passagens pelo lado mais alternativo e experimental do underground, tipo Z1bi do Mato e a Seleção Natural (banda de apoio de Lucas Santtana). Ou seja, nada exatamente igual a um Circo Voador lotado de gente a fim de adivinhar que música é a próxima. Quando buscava nos companheiros de palco alguma força, respondia com um aceno cúmplice quase imperceptível. Até Caetano foi a ele uma ou duas vezes, entre elas no belo solo de baixo de "Desde Que o Samba É Samba", tocado discreta, bela e tranquilamente.
      E Marcelo Callado, de cabeça também raspada, mas em moicano. Vindo de Canastra, Carne de Segunda, S. Futurismo (banda de apoio a uma peça infantil do titã Branco Mello), o menino na bateria era só contentamento. No bis, de You Don't Know Me, Odeeeeeeeeeio Você (de novo), Porquê? e Descobri que Sou Um Anjo, ele especialmente estrondou a bateria, com o consentimento dos companheiros.
      Show apoteótico.

Show :: Caetano Veloso, "Cê"

fotos: Bruno Maia
Desconsiderando-se o show surpresa no Tim Festival, aconteceu ontem, no Circo Voador, a abertura da turnê de Caetano no Rio. A apresentação foi surpreendentemente excelente. O show deu liga ao conceito de “trabalho rock” a que ele se propôs num sentido mais amplo e subversivo para o termo. O rock é a metáfora que Caetano escolheu para dialogar, ou quiçá, para se reaproximar da (sensação de) juventude; da ilusão de que o tempo pela frente é longo demais para haver qualquer preocupação.

Caetano deitou e rolou em cima de uma platéia que já tinha arrumado a cama com lençóis de seda pra ele se jogar. Este foi o terceiro show de Caetano que pude assistir. Coincidentemente os três estão ligados às passagens recentes da carreira dele. O primeiro foi no dia 14 de julho de 2004, no Theatro Municipal do Rio, turnê do "A foreign sound". O segundo foi um pocket na pré-estréia do filme “Lisbela e o prisioneiro”, no Estação Ipanema e o terceiro foi esse de agora. Engraçado pensar no paradoxo que essas três apresentações podem representar. Ao mesmo tempo que apontam, indubitavelmente, para um artista que ainda tem disposição de se arriscar.

Caetano gosta de desagradar, como ele mesmo disse no show: “Recentemente disse para o blog do jornalista Jorge Bastos Moreno que votei no Alckmin no primeiro turno e que talvez votasse no Lula no segundo. Aí, blog tem aquele negócio que você clica duas vezes, ‘dê sua opinião’... O pessoal ficou bravo comigo. Eu consegui o que eu sempre fiz, desagradar o governo e desagradar a oposição” .

A apresentação usa o disco “Cê” como esqueleto. Começa com “Outro”, passando em seguida para “Minhas lágrimas”, com sua letra torta da desolação de los Angeles e o pacífico turvo. Depois vem “Chão da Praça”, de Moraes Moreira e, em seguida, “Nine out of tem” é a primeira das músicas escolhidas para percorrer a carreira dele. É nesse momento que o conceito em torno de “Cê” ganha corpo e ajuda a celebrar a vida do artista. Nos ‘grandes sucesssos’, o público chega ainda mais junto. Isso o renova, o motiva. A releitura de arranjos para “Sampa”, “London London” e “Fora da ordem” são surpreendentes. A entrega de um instrumento para o outro é sempre feita com sintonia fina. Marcelo Callado voa na bateria. Sobra. Carrega o show com o tamanho exato. O auge é na versão emocionante de “Desde que o samba é samba”, que começa só com a guitarra de Pedro Sá fazendo uma espécie de funk-samba com timbre japonês. Depois vem a voz de Caetano. Ali, mais a frente, entra a bateria safada, de sorriso cínico, de Callado. Ficam os três. Só depois da repetição do refrão entra o baixo solando a melodia da música, acompanhada em uníssono pelo público. Foi uma das maiores ovações da noite. E olha que palmas não faltaram ao longo das duas horas de show. Caetano adorava: “Isso é o Rio de Janeiro“, como se uma reação diferente fosse descaracterizar os cariocas... Ai, ai... a vaidade.

Mas voltando... “Desde que o samba é samba” coroa a parceria dele com a meninada. As cerimônias excessivas que existem no disco caem quando os músicos são chamados a recriar aquilo que já existia. A perversão acontece. E nesse sentido, o ‘espírito rock’n roll’ faz diferença e se justifica. Não há cenários de fundo. Apenas alguns tubos coloridos que cortam o céu do palco. A calça jeans estilosamente rasgada também é atemporal. Diretos.

Engraçado o Bernardo ter falado no novo disco do Dylan, no dia da “estréia” do Caetano. Eles são contemporâneos e dois dos símbolos mais expressivos da cultura pop mundial na segunda metade do século XX. O formato de canções nunca foi o forte do baiano, como é com Dylan, apesar de ele se valer muito delas. O disco novo de Dylan pode ser excelente, mas a atual turnê peca pela falta de tesão que ele demonstrou no palco do Roskilde, em julho. Dylan parece estar trazendo um ranço de Johnny Cash, querendo se despedir, se introverter ainda mais. Com o Caetano é tudo exatamente o contrário. O disco não é lá essas coisas, mas o show é excelente, ele está com um tesão fudido pelo palco e ao invés de olhar pra dentro, se atira pra fora.


A seqüência “Homem Velho”, do disco “Velô”, e “Homem”, de “Cê” é o lado reflexivo do show. Os versos “o homem velho deixa a vida e morte para trás/(...) o homem velho é o rei dos animais/ a solidão agora é sólida” , da primeira, poderiam ser tomados como uma auto-referência, ou uma auto-provacacão. Mas não. Caetano nega se reconhecer a velhice, pois o homem velho “já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n roll”. Hehe, ele não está (ou não quer parecer) saturado disso tudo. Bem como canta na música seguinte, ele “só tem inveja da longevidade e dos orgasmos múltiplos”, da possibilidade de se afastar da morte, dos limites, da linha de ação.

No fim, ele entoou “Rocks”, a música que mais chega perto de um rock’n roll no disco. Durante o solo de guitarra de Pedro Sá, o cantor avistou seu filho Zeca na platéia, sentado nos ombros de um amigo e se destacando na galera. Sob a trilha guitarrística de Pedro, um dos momentos mais bonitos acontecia. Caetano olhava para Zeca com uma alegria ímpar: a de poder estar compartilhando um momento daqueles com um filho. Era o homem e o espelho. Voltou, então ao microfone e dedicou para Zeca aquela música. O menino, orgulhoso, olhava a platéia ao redor e batia no peito como se dissesse “sou eu, Zeca sou eu”. E, em seguida, uma troca de olhares e de beijos espalmados pelas mãos expôs a cumplicidade de pai e filho aos olhos de quem quis ver. Aquele papo de que o filho eterniza o sujeito, ali explodia em sentidos, pois o show causara a mesma sensação em relação à vida artística de Caetano. As músicas, suas filhas em outro aspecto, renovadas e ainda se mostrando possivelmente interessantes e vivas, deram lhe a sensação da eternidade. O beijo cúmplice do filho, idem. A sensação de eternidade - que o avanço da idade abreviara - revigorava o artista e o homem. O rock cumpriu o papel que Caetano esperava dele naquele beijo do filho. E ele descobriu que era um anjo.

sobremusicatv
Caetano Veloso - "Descobri que sou um anjo" (Jorge Ben)



E no fim, o show foi um simplesmente um grande show.

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ficha técnica
Caetano Veloso
turnê do disco "Cê"
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2006
Circo Voador

19.12.06

Modern Times, Bob Dylan

Os Tempos, Eles São Uma Mudança


      Bob Dylan nos apresenta os Tempos Modernos com uma visão muito particular. O tempo volta ao repertório dele mais uma vez. Começou em 63, quando se assumiu porta-voz de uma época de transformação, com os jovens prestes a bater de frente com o poder constituído no mundo, Guerra do Vietnã, e todas essas coisas. Modernos é a forma que Dylan encontra para tratar das incertezas 2.0, e para pensá-las faz uma volta à década de 20 do último século.
      Hoje, o rock voltou à moda, e o artista justamente abre mão à autoridade no assunto para fazer um disco pré-rock. Dylan foi auto-biografado, estudado, documentado, pirateado e relançado, desplugado pela MTV e antologisado. Logo mais será encaixotado. É atualmente gartoto-propaganda da ITunes, programador de uma rádio na Internet , é referência de discussões de pirataria pelas basement tapes de trinta anos atrás, e diante de tudo isso, procura uma saída no retrovisor.
      Ao conceber um disco em que a Internet, a pressa e as celebridades estão fora, Dylan elege o surgimento dos automóveis, das pistas de alta velocidade, dos rádios de quarenta polegadas e dos compactos feitos em série para apresentar a sua majestade, a melodia. O disco é todo de baladas, que tratam da contemplação, da reflexão, do pensamento solto, do fim de tarde com os pés cruzados em cima de uma mesa.
      Tudo soa espantosamente sem pressa, de outra ordem, acima de tudo de outro tempo. As músicas são longas, e docemente cantam as fusões de country, rythm n’ blues e bluegrass que virariam (e viraram, Dylan sabe) o percurso da inovação e do questionamento, ao longo do século. Uma pergunta há de ser feita, para que todo esse trajeto, em que se chegou? Com exceção da eletrificação; a distorção, o psicodélico, a sintetização, o progressivo, a negação, o sampler, a regurgitação, a reciclagem, a pasteurização e os mash ups, nada está ali mas é tudo de conhecimento do artista. Tudo isso, as diversas fases e faces de uma história da juventude a partir de sua criação nas duas guerras mundiais, é sim o tema dos Tempos Modernos, trigésimo primeiro de uma carreira sem igual.
      Por isso, esse novo trabalho nos soa tão familiar. Independente da idade ou conhecimento de mundo que cada ouvinte tenha, é natural reconhecer sensações e histórias ao que é apresentado, quase um século de reprocessamentos e releituras sobrepostas. Cada um com uma teoria própria para cada pequena coisa. Mesmo que sem um traço explícito de contemporaneidade, com a exceção da citação à Alicia Keys (que um cínico ou fugitivo Dylan explicou à Rolling Stone americana assim: “Não há nada que eu não goste nessa garota”), não dá pra se confundir. O tempo de Bob Dylan é hoje, e ele não duvida disso em nenhum momento.



Nada a ver

      Aproveito para botar a minha listinha de cinco músicas do ano, sem necessariamente uma hierarquia:
            *) Crazy, Gnarls Barkley
            *) Beyond the Horizon, Bob Dylan
            *) Rehab, Amy Winehouse
            *) Get Myself Into It, Rapture
            *) Da Noite, Coquetel Acapulco

18.12.06

Show :: Adriana Partimpim

fotos de divulgação
O Rio de Janeiro assistiu àquela que, em teoria, foi a última apresentação da primeira turnê de Adriana Partimpim. Nos próximos anos, ela deverá ficar escondida em algum lugar que Adriana Calcanhotto não deverá mostrar. Partimpim pode ter tido a vida de um álbum só, mas também pode ainda reaparecer. Mas acho que nessa, a coisa tá mais pra Ziggy Stardust mesmo.

A última apresentação da turnê não apresentou novidades ao que se vê, por exemplo, no DVD. Dentro de um cenário que reproduzia esculturas de origami, a crooner se protege com uma banda afiada. O processo de infantilização dos músicos lembra o que Manoel de Barros costuma fazer com a poesia. Por acaso (ou não), tinha lido a(s) entrevista(s) do poeta à revista Caros Amigos desse mês pouco antes de me dirigir ao Vivo Rio. E as palavras dele batem em cheio com a leveza dos brinquedos na mão do (ótimo) baterista e percussionista Guilherme Kastrup, por exemplo. O processo de desaprender, de chegar na essência do simples, é a chave da composição do trabalho dos músicos. Apesar disso, não há adornos no palco. Tudo que se vê entra alguma hora criando som.

Por mais simples que pareça, um olhar mais cuidadoso repara que o espetáculo é todo marcadinho. Os gestuais de Adriana não são tão espontâneo quanto o dos músicos parecem ser. Isso recupera o profissionalismo daquilo tudo. Destaque para a entrada e saída de Adriana, que é suspensa por cordas, como se voasse, lembrando aquele lance da nave da Xuxa chegando e indo embora. Xuxa, que aliás, é – bem ou mal – uma das últimas referências que se tem pra música infantil no país, sem falar na eterna Bia Bedran. E pensar nisso é esquisito, pois se parte do pressuposto de que há quase 20 anos essa linguagem infantil está meio abandonada. As últimas referências interessantes são os trabalhos de Toquinho no fim da década de 70, início dos anos 80. As crianças que viram Partimpim tiveram um espetáculo que a minha geração não teve.

A platéia, formada por uma enormidade de crianças, é uma delícia para quem está acostumado à vida de shows noturnos. Imagino que pra quem toque também. Poucos eram os que estavam lá desacompanhados de algum pequeno. Porém, ter mais de 18 anos não foi empecilho pra ninguém deixar de soltar a voz. O final do espetáculo foi emocionante, quando Partimpim se dirigiu à frente do palco pra cumprimentar todas aquelas mãos pequenas e encantadas.

Ponto baixo para a parada que a cantora fez na música “Fico assim sem você”. O hit, tão aguardado, foi interrompido no auge, na subida pro primeiro refrão. Adriana parou, reclamou do som, disse que estava difícil, mexeu em alguma coisa e recomeçou. Tudo bem, o público pode ouvir o hit querido mais de uma vez, porém, na segunda o climão já tinha ido pro beleléu. Por mais que houvesse dificuldades acontecendo, naquele momento faltou sensibilidade. Pra quem estava na platéia, não se percebia nada demais no som. A única vez em que isso aconteceu foi no último número da tarde, a música “Oito anos”. A guitarra da Adriana ficou muito alta e, por vezes, embolou com a voz.

Em relação ao CD, há a inclusão de quatro músicas feitas por Adriana para poesias de Ferreira Gullar. Elas já estão no DVD, mas ganham força dentro do show, onde parecem criar um capítulo próprio para elas, sob a temática dos gatos. Outra bela faixa, que também aparece no DVD, é “Quando Nara ri”, de Partimpim e Kassin, feita para a filha dele. Aliás, a parceria com o pai de Nara me parece ser um bom indício para esse gênero infantil. Explico-me. Talvez a geração de Kassin seja, desde o pessoal do início dos anos 80, a mais ligada ao universo infantil. Nos shows do Acabou La Tequila, as referências passavam um pouco por ali, o Los Hermanos já fez cover do Trem da Alegria, enfim... O que passa pela minha cabeça é que, agora que essa geração está na casa dos 30 anos, começando a ter seus filhos, ela possa se interessar por desenvolver mais essa temátic infantil. Kassin ter feito essa música pode ter sido mais um sinal disso.

Seria ótimo se isso acontecesse. Bem como seria ótimo se Partimpim voltasse. A experiência dela chegou ao fim depois de dois anos e deixou evidenciado que há uma demanda desse público. Por ora, foi uma ducha num deserto. O que era doce se acabou.

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ficha técnica
Adriana Partimpim
Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2006
VivoRio


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E já que a Partimpim é gaúcha, parabéns ao Internacional e à gauchada colorada da Graforréia Xilarmônica! Meu amigo Alexandre Oppermann também deve estar muito feliz.

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Aliás e a propósito, o tal do Alexandre Pato tá mais pra Monkey. Pra Arctic Monkeys! Repara só! Ele é igualzinho a qualquer um dos integrantes do grupo. Pode escolher.

17.12.06

Amy Winehouse

A Última de 2006

       Ela é uma judia grande, com um cabelão que pode estar todo armado para cima. Morena, com uma pinta/ verruga acima do lábio, tatuagens de si mesma nua no braço, tem um olhar que te deixa na defensiva. Ela é quem sabe o que quer, no máximo vai dar para acompanhar. Isso tudo antes de Amy Winehouse abrir a boca. Depois que se ouve a voz dela, inglesa entre Sarah Vaughan, Macy Gray e Lauryn Hill, só se presta atenção naqueles lábios. É aquela boca que vai comandar o jogo, que vai atrair todas as atenções, que vai provocar insônia e que vai fazer você perceber quantas vogais existem para além daquelas conhecidas.
       Amy canta uma entrega que não se ouve todo dia. Há uma escola de jazz ali por trás, daí a liberdade da voz, a maturidade de uma história que começou a uns cem anos, e que na voz dela é um pouco da alma dilacerada de Billie Holiday, a impetuosidade de Lauryn Hill e o girl power que as Spice Girls todas brincaram de ter. Sim, ela é do Norte da Inglaterra. E feminismo é por aí, esquece as teorias com Quebra-Barraco.
       Um pouco como uma jamaicana ou como uma aluna do scat sem fazer uso explícito dele (scat são aqueles solos de cantores de jazz improvisando, pense em Ella Fitzgerald), Amy decompõe cada sílaba que canta em um mar de fonemas diferentes. Com eles, forma frases melódicas que juntas compõem acordes ora simples ora não. Esses dialogam com a base da música. Muito mais do que cantar as letras próprias que tratam cruamente dos anseios de uma mulher livre, ela usa a voz para solar harmonias à frente de uma banda de timbres contemporâneos e arranjos retrôs.
       Não é sem querer que ela escolheu uma dupla de produtores como Salaam Remi e Mark Ronson. O primeiro já tinha assinado o trabalho do primeiro disco de Amy, Frank. Foi produtor de artistas importantes no hip hop como Nas e Fugees (opa, eu já falei em Lauryn Hill?). O segundo é o filho do guitarrista Mick Ronson, de David Bowie, e produtor de uma nova geração do chamado r’n’b, extremamente pop, mas com sonoridades a serem mais atentamente investigadas, como Robbie Williams, Christina Aguilera e Lily Allen. Nem só de Timbaland e Dangermouse vive o mundo.
       Como vinha-se dizendo, há um ar décadas de 50 e 60 nas músicas de Amy. O naipe de metais pontua os acordes com fraseados soul de um universo que cercava a primeira fase da lendária gravadora Motown. Dá-lhe sax barítono fazendo o grave e um trompete errante tentando furar o peito de quem ouve. E sempre um trombone costurado por ali. A bateria quebradinha e repetitiva é cheia de caixa e sublinha o groove que no fundo vem do baixo econômico e pulsante. Amy ainda toca com conhecimento de causa uma guitarra que pode ir da sofisticação de apartamento à beira-mar da bossa nova a uma batida preguiçosa enevoada de uma linha Bob Marley. Ou seja, a sensualidade do terceiro mundo ali transborda.
       A fuga declarada do jazz é apenas uma forma de disciplinar um excesso de liberdade que é muito difícil de ser compreendido por muitos. Ao se aproximar de acordes mais simples e de uma postura rapper, Amy mantém o atrevimento do qual não consegue se desfazer (depois de boatos na imprensa de que enfrentava problemas com álcool, ela escreveu a música de trabalho e faixa de abertura do segundo disco, Rehab: “they’re trying to make me go to rehab, but I say no, no, no”). Nessa linha de pensamento, andou falando com o site music omh: “Eu sou uma cantora de jazz, mas o meu álbum é puro hip hop... Eu diria que as pessoas criativas do hip hop atual são o jazz de hoje".

       Se ela prefere ser comparada a Mos Def e a Jill Scott do que a Jamie Cullum e a Norah Jones, há de se consentir. Eu não vou nunca discordar daquela boca. O fato é que Amy é uma garota (são 23 anos) que quer falar com mais gente, mas sem deixar de falar o que vem à cabeça. No clipe de I’m No Good, sutilmente coloca o parceiro para cobrir-se debaixo da coberta à meia luz. Elegância jazz sobra. Em Rehab, fala de alcoolismo com uma segurança de quem nem ligou para o problema porque está mesmo é à procura do próximo amor que vai enterrar o último ainda não superado. Elegância e terapia lado a lado. Sedução.
       No primeiro disco, já tinha ganhado prêmios e uma vendagem significativa com um jazz com palavrões de rap. Cantado por uma judia tatuada. Bem cantado. Judia bem tatuada. Agora dá mais um passo para fazer os admiradores da atriz Gina Gershon acharem alguém à altura em estilo, só que mais ligada á música. E a boca...

14.12.06

Mike Relm CANCELADO

Coisa rápida. Só pra avisar que o Circo Voador precisou cancelar o show de Mike Relm, anunciado ontem, aqui no sobremusica. O evento, que ainda contaria com apresentações de mais Tim Sweeney, Azia Lab e Eclectic Method, seria realizado no próximo sábado, dia 16. O problema é o de sempre: dificuldades de se viabilizar shows legais no Rio de Janeiro, sem grandes apoios. O jeito vai ser escolher entre La Pupuña, Los Hermanos e Festa Phunk.

13.12.06

Entrevista: MC Aori (sobre as Batalhas de MCs)

Hoje é o dia da final da Liga dos MCs 2006. Este, que é um dos maiores fenômenos pop musical carioca recente, chega a mais uma noite de apoteose. Nesta quarta edição, a Liga ajudou a firmar alguns nomes na cena de rap do Rio e do Brasil, como Negra Rê, Emicida, Psicopato, Gilmar 22, Gil, entre outros...

crédito: brazilica.nl / via Google Image
Para falar de como essa história chegou até aqui, uma conversa com MC Aori, fundador da Batalha do Real, integrante do duo Inumanos e um dos apresentadores da festa de hoje. Ele acompanhou de dentro toda a evolução do evento, que foi confirmado pelo segundo ano seguido na programação do festival Humaitá Pra Peixe, pouco depois do sucesso dentro do Hutúz Rap Festival.
(por Bruno Maia)

sobremusica – Vamos começar fazendo um histórico das batalhas? Aqui no Rio, começou quando e qual foi o momento em que isso deu um salto para virar um fenômeno como é hoje?

Aori : Resumindo, a parada começou numa noite de tédio, de ócio da galera. A gente morava no nosso estúdio na Lapa, o Campo de Concentração, eu, o Iky, o Babão... o Funk sempre freqüentava, a galera da Brutal Crew... o Marechal sempre ia lá, e numa noite de sexta, conversando sobre música, sobre o futuro do rap no mundo, não tinha nada pra fazer naquele fim-de-semana, surgiu a idéia: “Vamos fazer uma parada. Vamos fazer uma batalha amanhã, lá na sinuca do Baixinho”. Isso era 2003. O Baixinho era o dono da sinuca, que fazia a Zoeira e estava abrindo uma sinuca nova...

sm – Mas vocês já tinham visto o filme “8 miles”, do Eminem...

A: É, foi nessa época. A gente tinha visto o filme...

sm – E foi inspirado naquilo?

A: Cara, inspirado, inspirado... parcialmente... Não dá pra negar... O cinema é influência forte para o hip hop, desde o Wild Style... A gente já tinha participado de batalhas, eu e Marechal. Participamos de uma no do Duloko, em 1999, num evento que teve em São Paulo... Já tinha tido batalha na Hip Hop Rio...

sm: Mas aí tinha morrido um pouco, né...

A: É, tinha morrido e com o filme do Eminem voltou essa história, porque o filme foi o maior sucesso...

sm: Mas já tinha rolado algumas batalhas aqui no Rio...

A: Já, já. Tinha rolado. Na Hip Hop Rio tinha tido algumas, mas sempre coisas isoladas que não conseguiram gerar... Então resolvemos fazer a batalha. Pegamos os toca-discos que estavam ali, levamos pra lá. Chegou no dia seguinte, à noite, avisamos o Baixinho que nós iríamos fazer uma brincadeira na sinuca. Ligamos os equipamentos, microfone-tocadisco, eu e o Funk fomos lá debaixo dos Arcos pra chamar uma galera pra ver, ouvir, participar e aí a gente fez. Estávamos eu, Marechal, Negrone, Shawlin, Tigrão, todo mundo na sinuca do 73 da Lapa. Eu costumo dizer que eram seis pessoas e um cachorro, o Snoop Dogg.

sm: Snoop Dogg? (risos)

A: É, hehe… Na primeira semana tinha isso. Na segunda, tinham 30 pessoas. Na terceira, 50. Na quarta, 100. A parada começou a repercutir. Era, tipo, maio daquele ano. Foram uns três, quatro meses em que a parada ficou louca. A sinuca dava 200, 300 pessoas, tudo indo na Batalha do Real e esse virou o nome do evento. Isso porque nós inventamos essa regra de que cada um dos MCs dava R$ 1,00 e quem ganhasse levava o bolinho.

sm: Dava uns cinco, seis reais pra cada um, então?

A: É,quando passou a ter dezesseis, eu levava R$16,00 pra casa. (risos) Então... Mas aí a parada começou a crescer, a ficar muito grande e a surgir outros MC’s que usaram, e usam, a batalha de plataforma. Porque acaba funcionando como um show de talentos. Você põe o microfone na mão do cara e ele tem 45 segundos pra falar o que quiser. Não tem regra ali...

sm: Mas tem umas regras, né... quais são?

A: A regra da batalha é o seguinte: 45 segundos pra cada MC. Tipo MC “A” e MC “B”. O “A” rima 45’, o “B” responde. Daí volta com o “B” atacando 45’ e o “A” respondendo. Aí, no fim, o apresentador chama a galera pra decidir quem ganhou através dos gritos e dos aplausos. Se der empate, tem o terceiro round. Nunca quisemos colocar muita regra pra preservar a liberdade de expressão. A gente tem uns códigos, por exemplo: a gente fala que a regra número um é “Sem pederastia”. Evitar esses papos desnecessários de “vou comer sua bunda”, (risos)...

sm: hahaha!

A: É, esses papos de “você é um viado...” E isso envolve também “seu pai”, “sua mãe”, “seu avô”... Não é que não pode. Pode. Mas a gente instrui e o público da batalha, depois de um tempo, já percebe que isso é gratuito, que não está acrescentando. O negócio é dar um papo de cultura. Regra número dois é: “Sem xenofobia”. Sem preconceito se o cara é de São Paulo, do Rio, se o cara tá com roupa de marca, se tá de boné ou não tá... A parada é o talento do cara ali, na hora. Regra número três é, obviamente, “Sem contato físico”. E, regra número quatro, “sem ofender o DJ e o apresentador”.

sm: E já rolou a do contato físico?

A: Já... já rolou. Nada grave, mas... É...

sm: E eu tinha te perguntado quando foi que começou a crescer?

A: Então. A gente começou e três, quatro meses depois, a parada já estava com essa freqüência de 200, 300 pessoas... A gente pensou: “Porra”... Já estavam surgindo esses outros MCs que ninguém conhecia...

sm: Mas nessa época de 200, 300 pessoas, já tinha a cobrança de ingressos ou ainda era o R$1,00 de cada um?

A: Cobrava R$3,00, sei lá... Mas o prêmio sempre foi os R$16,00.

sm: Ah é??

A: É... o resto era pra pagar o transporte das paradas, custo de equipamento... Daí a gente viu aquilo e resolveu organizar um campeonato de MCs. Porque os caras batalhavam, ganhavam e na semana seguinte já tava tudo de novo... Então nós tentamos, com a Liga dos MCs, que surgiu já ali em outubro 2003, organizar um campeonato. Foi lá na sinuca mesmo. A idéia era criar um jeito de fazer os MCs aparecerem mais, ganharem mais voz... E a gente tinha essa estrutura de sempre ter um MC convidado, o BNegão, o Xis, o D2... Então, a gente lançou a filipeta uma semana antes de começar a liga, explicando “oh, vai rolar aqui, a Liga dos MCs”... A gente sempre teve um trabalho legal de arte, com o Cristiano Rafael, que faz os design... Quando chegou o sábado em que ia começar a Liga, eu me lembro desse dia até hoje, estávamos o Funk e eu nos arrumando em casa, e eu perguntando: “Pô, Funk, e aí... tu acha que vai dar uma galera?”, porque dessa vez já foi um pouco mais caro, em função dos custos de trazer o Xis, de São Paulo... E ele: “É, acho que vai, vai dar uma galera. O pessoal tá falando, tá comentando.. É, acho que vai dar, sim”. Quando a gente chega na porta da parada, parecia Hollywood: a rua estava fechada, não cabia mais ninguém dentro da sinuca, a gente chegando e um monte de câmera focalizando na gente.. Deu umas 700 pessoas nesse dia. O suor da galera condensava, batia no teto e pingava. Tava muito cheio.

sm E deu todo mundo?

Negra Rê (que assistia a entrevista, comenta) - Ficou muito quente...

Aori: Deu pra entrar... mas ficou todo mundo, né....

sm: (pra Negra Rê) E você já estava lá naquele dia?

NR: Eu já ia... Ia assistir, ficava lá fora tonteando pra entrar (risos)

Aori: E foi aí que eu vi, 'caralho, essa parada chegou pra ficar mesmo', impressionante.

sm: E de lá pra cá, já surgiu uma galera que trabalha a maior parte da carreira em função da liga?

A: Então, nesse primeiro ano da liga, 2003, batalharam eu, Marechal, o Negrone, o Slow, Nego Tema, MCs que começaram. HH H oje em dia já tem uma galera totalmente nova, voltada pra batalha.

sm: E como é que você avalia essa trajetória de consolidação da liga?

A: O grande salto foi que a gente fez o segundo ano da liga no Teatro Rival. Isso deu uma importância foda pra parada. Saímos de uma sinuquinha pra um puta teatro, clássico da mpb, mó palcão. Isso foi em 2004 e deu o maior destaque. Foi bem arrojado da gente de fazer lá... Acabou sendo bem válido, chamou bastante a atenção.

sm: Quem foram os campeões das ligas?

A: A primeira foi o Papo Reto, que agora tá morando na França, trabalhando por lá. É MC residente do Favela Chic. A segunda foi o Gil, que ganhou lá no Rival. Ele ganhou do Funk na final e também deu a maior repercussão. Os caras foram no Fantástico, no Domingo Legal... Duelaram com repentista na televisão. 2005, no Odisséia, foi o Beleza. Acho que ele foi o campeão mais técnico mesmo, que teve as rimas mais sólidas...
sm: E vocês já conheciam o MC Beleza ou ele foi um dos que apareceram no meio do caminho?

A: O Beleza foi um desses caras que o trabalho ainda não tinha aparecido.

sm: Ano passado a coisa já evoluiu a ponto de chamarem vocês para participar do Humaitá Pra Peixe de 2006. O que você achou dessa participação, da batalha acontecer dentro de um festival de outros gêneros?

A: Achei ótimo, cara. O HPP nos trouxe para um lugar geograficamente diferente, pessoas diferentes viram, uma faixa etária diferente, muita gente jovem... Normalmente a gente faz os eventos sábado à noite, quarta à meia-noite, então lá tinha muita molecada. Foi bem maneiro porque mostrou pruma galera diferente. E a Batalha foi muito boa naquele dia...

crédito: Joca Vidal / Humaitá Pra Peixe 2006


sm: De lá pra cá, em 2006, o que aconteceu com a Batalha ? Pergunto isso porque aumentaram em muito os convites pra levar a batalha pra outros lugares, não foi?

A: Com certeza. 2006 foi ótimo porque a gente fez uma parceria com o CIC, o Centro interativo de circo, do Geraldinho Miranda. Com isso, tivemos uma infra-estrutura que nunca tínhamos tido. A gente pôde fazer a Batalha do Real de graça, num espaço dentro da Fundição Progresso, com um som legal... O horário de terça às 19hs, nos fez pegar um publico mais jovem, renovado, que tinha começado a ir no Humaita Pra Peixe. Surgiram novos MCs e a gente chegou a fazer uma série na rua... Foram 6 ou 8 batalhas na rua. Montamos o palco no meio dos Arcos da Lapa e fizemos lá. Como a gente fala no CIC, foi cultura de acesso mesmo. Tinha gente de rua, mendigo, office-boy parava, gente saindo do trabalho, turistas... Todo mundo lá, ao redor da parada, curtindo. Porque o foco da batalha é maneiro lá no palco, mas ao redor estão acontecendo mil coisas. Os caras estão fazendo músicas, trocando idéias, estão surgindo grupos... Então esse ano foi bem legal...

sm: Já está dando esses frutos, né...

A: Já, já... Porque a batalha é uma fase na carreira do MC. Ali, ele pega uma cancha de palco, constrói o carisma... Mas uma hora evolui pra fazer sua musica, partir pro grupo, pra composição ..

sm: Em termos de público, a quanto já chegou?

A: Pô... maior público.... Cara, a gente já fez a Batalha do Real uma vez, na Fundição, abrindo para os Racionais, para umas 5 mil pessoas.

sm: Ano que vem vocês estarão voltando ao HPP e com isso a Batalha já começará o ano num novo palco, o da Melt, com quatro noites nessa que é uma das principais boates da zona sul carioca...

A: Esse ano vai ser muito legal, porque a gente vai estar na Melt, com uma infra total...

sm: Bem diferente daquela sinuquinha onde vocês começaram, né... (risos)

A: Totalmente... A história da Batalha tá aí, crescendo, sendo registrada... Os MCs estão crescendo junto... Então esse ano a gente quer fazer diferente. Vai ser a Batalha de Verão, parada bem interessante, com algumas coisas que a galera ainda não viu em batalhas. A gente quer trabalhar o lado da presença de palco, botar os MCs pra mostrarem as suas próprias músicas... Esse ano, nós vamos ter quatro noites, uma em cada semana. Então vamos estar muito mais a vontade pra mostrar as nossas próprias músicas. Vamos fazer umas festas temáticas... É a hora de ouvir não só as batalhas, mas o que os MCs têm a dizer. Ano passado não rolou porque estávamos num formatinho compacto ali dentro. O que a gente fez em duas horas no ano passado, nós vamos fazer em quatro semanas na Melt.

sm: E a galera que quer participar das batalhas chega e pede pra entrar ou rola uma seleção?

A: Na Batalha do Real, não tem convite. É livre. Só chegar e se inscrever. Na Liga dos MCs são os melhores do ano na Batalha do Real. A gente tem eliminatórias e tal... Agora, no caso do Humaitá, vão ser convidados. Vamos escolher uma galera que representou bem esse ano e aproveitar que é verão, que vai ter a maior galera de fora da cidade, pra se tiver alguém de São Paulo, do Sul, que esteja aí, a gente chamar...

sm: Você já percebe uma evolução técnica dos MCs em relação ao traquejo desde quando vocês começaram? Porque quando começou, era uma galera de alta estirpe. Depois veio um pessoal mais novo. Você acha que hoje é melhor do que era no início, especialmente em termos técnicos, ou não mudou muito?

A: Cara... Eu acho que no geral cresceu, né? Tem os caras excelentes, que não estavam naquela época... Acho que... Tá sim. Tá. Acho que dá pra falar que tá evoluindo, sim. Até por se ver MCs que surgiram na primeira liga, tipo o Gil, o Loco, o Bocão, o Sheep, o Gilmar 22. São os caras que começaram ali, em 2003, apanhando, apanhando e agora já estão aí, dando surra! Então tem uma evolução sim. E o lance da Batalha virou um bagulho muito louco, porque hoje em dia qualquer celular tem câmera. O YouTube... Então, às vezes eu chego pra fazer um show, sei lá, no interior do Rio Grande do Sul, e chega um moleque pra mim: “Caraaalho!!! Vi aquela tua batalha, 2004, tu contra o cara, tu esculachou ele, falou isso, isso e isso!!” Pô, e eu nem lembrava! Os caras acompanham, estudam e acaba virando um conhecimento popular, mesmo.

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Fica o toque pra quem está no Rio de Janeiro. Principalmente pra quem ainda nunca viu, não tem idéia do que tá perdendo e acha que isso aqui é só um texto exaltado, empolgado com um lance aí... Chega hoje lá e confere. Tô dizendo isso por você, hein. Pro seu bem. Vai que a batalha é rock'n roll puro!

Final da Liga dos MCs 2006
Teatro Odisséia - a partir das 23hs
R$15; R$13 (com filipeta)

Coméquefazsendoumsó?

O Rio de Janeiro é assim: semanas esquisitas, de marasmo, e outras completamente alucinantes e unstoppable.

Só esse sábado, dia 16, rolam, quase que ao mesmo tempo isso aqui:

La Pupuña!!!!!!!
de 'bônus', você leva, Nervoso e os Calmantes, Grenade, Fanfarra Paradiso, Supercordas, Luisa Mandou Um Beijo, e +...
Casa de Cultura Hombu + Casarão dos Arcos
20hs
R$30, R$15 / R$ 10 (com filipeta até 20hs!)


Mike Relm, no Circo Voador!
(mais Tim Sweeney, Az0ia Lab e Eclectic Method
22h
R$ 30, R$ 15 (estudante)





Los Hermanos, se despedindo da turnê do (eu ainda acho mediano) "4"
00hs
R$90,00 (passeio completo) R$62,50 (esporte fino)



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Vou tentar dar raça. Mas não prometo.

Até porque, domingo tem a Partimpim no Vivo Rio.

Humaitá Pra Peixe 2007


Pra começar o ano, já na primeira semana, começa mais uma edição do Humaitá Pra Peixe. Como todo ano, a produção dá uma ralada para conseguir um patrocínio que viabilize o festival. Este ano conseguiu um e ainda tenta outro. Se rolar esse 'mais um', parece que a escalação pode crescer. Por enquanto, está assim:

Programação Sérgio Porto
05/01 – A Filial / Curumin
06/01 – Ordinário Groove Combo / Rio Maracatu
07/01 – Rockz / Scracho
12/01 – Brasov / DuSouto
13/01 – Zé de Riba / Tom Bloch
14/01 – Revolucinnários / Fresno
19/01 – Rodrigo Bittencourt / Érika Machado
20/01 – Edu Krieger / Casuarina
21/01 – Reverse / Eletro
26/01 – Duplexx / Vulgue Tostoi
27/01 – Móveis Coloniais de Acaju / Turbo Trio
08/01 – Debate

Programação Melt
08/01 – Batalha de MCs
15/01 – Batalha de MCs
22/01 – Batalha de MCs
29/01 – Batalha de MCs

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Se liga que a Batalha vai ser na Melt, em quatro dias! Rock´n roll puro!

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Já que o mote do festival é esse, quem é o gato que olha os peixes hoje? ...

12.12.06

Morte Anunciada ii

Quem pensar um pouco mais, pode sair lá na frente.

      Já que as pretensões ensaísticas brotaram por aqui, a brincadeira está aberta a quem quiser chegar. O assunto é videoclipe e o futuro, né? Vamos a eles.
      A frase de alguns posts atrás dizia tudo. Zico Góes, atual diretor da MTV, afirmou em tons bombásticos que “apostar em clipe na tv é um atraso”. Seria o fim da tv dos videoclipes, e de tudo que isso significou. Essa segunda parte talvez não. Pois bem, uma pessoa que diz isso certamente sabe o que não é atraso, ou pelo menos sabe por onde tentar achar um rumo pra se adiantar.
      Pelo que tudo indica, e pelo que a história recente do canal indica, o rumo é acreditar que uma opção pelos shows de auditório e de calouros – em detrimento aos programas de videoclipe – é uma atitude de vanguarda. Algo tão fora de propósito quanto, sei lá, achar que o funk carioca agora vai porque o Roberto Carlos gravou Ela Dança Eu Danço com o MC Leozinho no Especial de fim de ano da tv. Primeiro o funk não depende de “agora vai”, segundo não é um Rei que vai trazer a real para os bondes. (É Pedro Alexandre?)
      Ora, francamente. Para usar uma língua hegemônica, e entrar na moda dos ensaios, “don’t believe the hype!”. A opção pelo fácil e imediato não é golpe genial, e não há de surpreender ninguém. E pior, é capaz de não se sustentar. Rápido, diga em voz alta o nome de três vjs da MTV que estejam no ar. Conseguiu? Pensou um pouco antes de falar? Então, vamos adiante: o que conta mais, o carisma deles ou o envolvimento que eles têm com o assunto do canal onde trabalham? Pensa e depois me conta se é por aí que se mede o futuro da televisão. E se você tá achando difícil saber o que conta mais diante de nada e nada, não perde tempo. Vem comigo.

      Os tempos modernos, eles são uma mudança. Quem sempre disse isso foi o Bob Dylan, e nele dá pra acreditar. Então sigamos. As gravadoras não vão deixar de existir. Elas vão deixar de ser como são, só isso. Também, pudera. São novos consumidores, novas músicas, novos suportes, novo rock, niu rave, nova reciclagem, e até novo dinheiro.
      Os mais espertos vêm com aquela saída interessante: música vai passar a ser serviço. A angústia é: mas música já não é, de certa forma, serviço? Porque as gravadoras que ainda dominam o mercado, hoje, têm quase todas uma característica em comum. Foi o que defendeu o Dr Eduardo Senna, no Urbe.
      As chamadas majors são empresas que, pelo menos no início, eram fábricas de eletrodomésticos. Sony, Polygram (era a Phillips), BMG (que foi RCA, da AT&T e da GE), a Victor (que já não existe, mas era a produtora das vitrolas) e a EMI (Electric and Music Industries) são todas frutos de uma estratégia de venda de serviços para abastecer rádios e toca-discos. Música era o serviço água baratinha que elas distribuíam para vender torneiras, canos e etc.
      Pois bem, o mundo girou e a água começou a ser um bem precioso, os discos começaram a ficar mais caros, o cd apareceu e as gravadoras perceberam que podiam vender de novo a mesma coisa para a mesma pessoa, o cross-marketing e a cultura de celebridade fez todo cantor ser um ator em potencial, e um milhão de outras histórias fizeram a indústria fonográfica andar bem e sozinha.
      Inclusive algumas histórias deram bem errado, como a aposta da Sony no mini-disc. Outras deram tão certo que ajudaram no problema: a criação do cd que mais vendeu nos últimos anos, o virgem, por exemplo.
      A questão é essa, com esse novo mundo em que a música não funciona mais em eletrodomésticos, quem pode entrar no lugar são os tocadores de mp3 e os celulares. Aliás, os celulares daqui a pouco serão tocadores de mp3. A não ser que o Ipod e o Zune virem telefones, o que é provável, eles também vão para o mesmo museu da MTV.
      Ou seja, as novas gravadoras terão alguma relação com as empresas de celular, e isso já começou com as casas de show do Rio de Janeiro e de São Paulo, com a estratégia de divulgação da Nokia, com os festivais de rock pelo mundo, com os ringtones e com a Pitty sendo sugada na propaganda da tv. Quer dizer, toma cuidado para não se arrastar no chão, mas eu aposto que você já pagou um ingresso para a mesma empresa que te deixa falar na rua com qualquer pessoa, enquanto você espera o ônibus ou até enquanto dirige (cuidado éim!). Os carros que davam status, liberdade, mobilidade e o bilhete de entrada no mundo adulto dos jovens do séc. XX é o celular do século XXI. E você já percebeu que os jovens são adultos cada vez mais cedo. Mas a gente fala disso daqui a pouco.
      Já que é um ensaio, eu vou pedir pra voltar de um ponto ali que eu acho que ficou bom. Dá uma ouvida e me diz se a gente incorpora isso no arranjo. A Pitty sendo sugada pelo celular, lembra? “Música ser jingle” é uma pergunta diferente de “jingle ser música”. O fato de o Seu Jorge cantar Sagatiba e isso tocar no rádio é só uma provocação boba, ou simplesmente uma picaretagem que deu certo, mais nada. E ainda por cima a música não é boa. Não há nenhum sinal dos tempos aí, só um cara querendo se dar bem com uma cachacinha que entrou na disputa com a Magnífica por meios de divulgação birutas. O Jorge Benjor fez uma WBrasil que era bem melhor, um retrato non-sense dos anos Collor. E divulgava o amigo Olivetto. E teve gente que detestou. As pessoas pensam, os consumidores reagem, o espírito não morre. Música, de certa forma, vai ser sempre serviço, entre outros para o espírito. Não jingle.
      Música vai sempre ser um lugar para o relacionamento, e você pode chamar isso de contemplação, de sexo, de dança, de fim de tarde ensolarado, de reflexão, de venda de roupa, de almanaque do bem viver... Ou até chamar cada hora de uma coisa. Usar combinado com fumaça ou com pílula, sei lá. O fato é que até as novidades não afetam o centro da coisa.
      Se o Tom Zé fala em Era do Plagicombinador e o Beck em cd videogame, isso é muito legal. Só que os álbuns são bons não pelo que os artistas falam para jornalistas ou para leitores de encarte, no fim das contas.
      The Information é um bom disco porque o Beck voltou a ser o bardo folk branquelo sendo loser em terra de negão. Assunto para um próximo texto, prometo. O fato de o disco poder ser reprocessado é um detalhe que pode incentivar djs, dar argumentos para o povo do creative commons, e só. Ou quase só, vá lá. Um disco que oferece uma possibilidade a mais pode ser algo mais interessante (os dualdiscs não são, por exemplo). Mas os djs conseguiriam remixar e fazer mash ups com ou sem essa forcinha. E por mais que a cultura do seja você mesmo o protagonista da sua diversão esteja aí, a maioria das pessoas não vai querer pilotar um disco. Da mesma maneira que um monte de gente ainda prefere não pilotar um filme. Agora, a indústria do videogame só cresce, e isso tem que querer dizer alguma coisa. E tira esse sorriso do canto da boca.

      Essa volta toda faz o texto chegar de volta onde começou. A MTV. O Dossiê Universo Jovem, da MTV, elaborado há pouco mais de um ano.
      O estudo traçou um perfil do que é o jovem consumidor brasileiro, e vem sendo usado como referência no mercado publicitário e nas tomadas de decisões em mesas de reunião. Nele, o retrato da geração de brasileiros que começa a entrar no mundo adulto é a de pessoas individualistas (os computadores são essencialmente pessoais...), sem maiores envolvimentos políticos, receosas em relação à maturidade já que observam de perto a crise dos pais estressados com o trabalho e com a necessidade de, eles também, parecerem jovens para se manterem assim competitivos no trabalho e nos meios sociais.
      A impaciência e a pressa são, portanto, características principais dessa nova galera, acima de tudo bem informada.
      E isso pode ser interpretado de duas formas por um canal de tv que nasceu com Música de nome e missão. Uma, é a de Zico Góes: a ansiedade atrapalha o momento de assistir clipes a ponto de não trocar o canal na hora da propaganda. Se os reality shows e os auditórios salvam, só perguntando para ele. A segunda maneira é apostar em um novo formato de programa de videoclipes, não um que o voto decide a programação, onde o resultado suspeitamente não corresponde à realidade do orkut e do MSN que está ali na tela concorrente, no quarto do mesmo moleque. Tem gente tentando esse segundo caminho.

      Pois é, olha que incrível. A conclusão desse texto, depois de tudo isso, é a seguinte: MTV, na boa, quem é você para anunciar qualquer morte que não seja uma que já tinha rolado?

11.12.06

Entrevista: Pedro Sá (2)

Fotos: Divulgação


A segunda (e última) parte da entrevista com Pedro Sá também foi feita por e-mail. Nela, o foco está sobre o mais recente trabalho do músico, a produção do disco roxo do Caetano, "Cê". A relação afetiva e quase familiar com um dos maiores nomes da cultura pop do século XX - revelada na parte 1 - foi se estreitando até chegar ao estágio atual.

Um disco de indie-rock, disse David Byrne. "O melhor do ano". No ano em que o Arctic Monkeys quebrou recordes históricos da chart inglesa, trazendo o indie direto da internet para o re$$$to do mundo, Pedro revela ter concebido "Cê" desconsiderando todas as referências tecnológicas e de facilidade de comunicação que marcam essa geração do rock. Contradições que, de certa forma, não surpreendem. Afinal, o disco nem é tão rock assim.

Vamos lá então...

(por Bruno Maia)

sm: De que forma se desenvolveu a relação profissional entre você e o Caetano, até chegar no convite para produzir o disco? Você conseguiria elocubrar a razão de ele ter te escolhido ?

PS: Me escolheu por tudo isso que falamos. Sou um cara de bandas e ele queria fazer uma. Então me chamou e agora tenho mais uma. Tenho um diálogo criativo muito rico com o Caetano e ele é muito bom de criar junto, pois é muito generoso e criativo. Mas o fato de eu tocar com o Lenine nos projetos "Na Pressão" e "O Dia que Faremos Contato" foi fundamental para o Caetano me chamar para fazermos o “Noites do Norte”, que foi o começo da nossa parceria.

sm: A caminhada para a função de produtor é um trabalho que se deu especificamente pelo amadurecimento da sua relação profissional com o Caetano ou é mais um direcionamento de carreira seu, que independe do fato de ter sido com ele ou não? Você já tinha trabalhado com o Rubinho Jacobina e com o próprio Caetano antes, mas é nesse trabalho que se afirma essa particularidade do seu trabalho: o de produtor?

PS: Olha eu não defino muito as coisas assim tão estruturadas. Eu gosto de produzir, mas sou um pouco preguiçoso, tanto que, se você reparar bem, sempre divido a produção com alguém. O Kassin é um produtor nato, o Chico Neves é um grande mestre da produção musical. Eu adoro ter idéias e pensar o projeto com um todo, mas sou lento e preguiçoso.

sm: A montagem da banda com o Marcelo Callado e o Ricardo Dias Gomes foi orientada pelo que?

PS: Sempre vi esses garotos tocando com o meu irmão, o Jonas Sá. Conheço-os desde criança praticamente. Lembro do Marcelo, com 12 anos, indo assistir ao MQDS em Botafogo. É muito lindo isso, fazer uma ligação entre o Caetano e eles. Os leoninos se deram muito bem.

sm: Nesse álbum o Caetano volta a trabalhar com o conceito de álbum de banda. Como você mesmo falou, além de produtor, é músico da banda também. Como essas funções se diferenciam dentro de estúdio. Qual é o limite de uma e de outra?

PS: Eu catalisei e organizei as coisas e os papéis. É claro que o Caetano é mesmo o Caetano e já vem com muitas coisas definidas e trabalhadas. Mas eu chamei o Moreno para ajudar na produção, pois ele é gênio e seria impossível fazer um trabalho que exige tanto da minha performance de instrumentista, sem ter uma visão de fora da banda. Chamei também o Daniel Carvalho, que tem uma ligação linda com o Móca e é um técnico de som fabuloso. "Móca" é um apelido muito antigo do Moreno, da época da Escola Parque.

sm: Falou-se muito que "o Caetano lançou um disco de rock". Ouvindo “Cê”, percebe-se, sim, essa referência, mas ele não é, definitivamente, um álbum musicalmente calcado em puras referências do rock. Talvez as figuras do discurso e do texto do Caetano sejam mais próximas do que o rock "pregou" ao longo dos anos do que as soluções musicais. Você concorda com isso? De que forma vocês buscaram essas “soluções” sonoras e as referências para os arranjos das músicas?

PS: Cara, esse negócio de ser Rock ou não é muito louco. Não é um disco de Rock, mas tem o formato de banda de Rock e ao final é também Rock. O David Byrne disse que é "provavelmente o melhor disco de indie rock do ano". Engraçado, né? Fiquei feliz com esse comentário. Na verdade tudo o que é criativo e que tem força é inclassificável, inclusive o próprio rock é assim. De todo jeito, eu sou também um cara do rock, toco guitarra e tudo, mas isso tudo é muito relativo.

sm: Inevitavelmente, a "'época mais rock" do Caetano, a qual ele próprio se refere, é tão longínqua que nem você, nem nenhum dos músicos da banda, viveram. Sobretudo os anos 60 e 70 causam uma espécie de nostalgia em muitos artistas e até no público que defendem aqueles tempos como os melhores e blablabla... O Caetano é um artista que representa essa época, essa força, e ainda tem consigo todo o peso de uma carreira inconteste, de extrema relevância e, imagino eu, os músicos tinham essa consciência de que estavam participando do trabalho de um ícone da cultura do século XX. Você acha que isso, em algum momento, gerou uma certa parcimônia ou um excesso de reverência?

PS: Olha, como já disse, o Caetano é o Caetano. Mas ele mesmo define muito bem aonde acaba o dele e começa o nosso, de uma maneira muito simples e natural. E tudo rolou mesmo de modo simples e natural, como dois e dois...

sm: Em entrevistas, o Caetano citou bandas como Arctic Monkeys, Grandaddy, etc, e até falou de conversas que teve com você sobre elas. O que esse chamado "novo rock" tem de mais interessante pra você?

PS: Acho que a sonoridade é muito boa, principalmente o Arctic Monkeys, que achei parecido com o MQDS. Sinceramente achei Grandaddy meio farofa. O Strokes é muito bom também, o Devendra é fabuloso. Wilco é foda e os Los Hermanos arrebentam muito. O som é estético, não é só "bem gravado", mas faz sentido poético, musical, isso eu acho legal e com isso me identifico.

sm: Essas novas linguagens e ferramentas de comunicação que dinamizaram a música, como YouTubes, MySpaces, Orkuts, softwares de homestudios, ringtones, etc, se comunicam de alguma forma com o novo trabalho do Caetano? Me pergunto se é possível falar-se em um disco de indie-rock, em 2006, sem se considerar essas questões que acabam influenciando esteticamente toda a produção desta nova geração a que nos referimos.

PS: Sinceramente não pensei em nada disso quando fiz o disco.

sm: Vocês todos, da atual banda do Caetano, têm seus outros projetos, bandas, etc. Como é que é partir pra estrada, para um trabalho tão grandioso como esse, e ter que parar essas outras atividades?

PS: Não temos de parar nada. Como diria o Marovatto, tudo converge. Talvez tenhamos de deixar de fazer um show ou outro. Mas o Caetano não faz assim milhões de concertos num ano. Acho um trabalho bem humano e as coisas vão se ajeitando.


sm: Por fim, como é, afetivamente pra você, estar realizando esse trabalho tão grande com o cara que sempre foi uma referência estética e, ao mesmo tempo, pessoal pra você, aos 34 anos?

PS: Uma linda Honra.

10.12.06

Adendos ao ensaio (1)

A tentativa de ensaio sobre as perspectivas da música ainda vai se desdobrar muitas vezes por aqui. Na indústria da música de hoje, onde até nós estamos risivelmente inseridos, o grande capital é a dúvida. Certo? E por aqui, por mais que às vezes se pinte o contrário, ninguém tem certeza de nada.

Nos momentos pós-texto, continuei algumas reflexões sobre o tema. Algumas foram motivadas pelos comentários ao texto anterior - aos quais respondi no espaço reservado a eles. Ainda devo fazer esses adendos algumas vezes.

Vamos lá então... Adendos.


Depois de publicado o texto, pronto. Já era. Algumas das coisas que já tinha observado no que escrevi e que precisariam de ajustes foram observadas nos ótimos comentários que apareceram por aqui. O principal deles foi o do Corcunda, ao reiterar que o videoclipe morreu na TV. É isso aí. Achei que tivesse dito isso, mas talvez esse conceito do videoclipe-na-tv não tenha ficado mais tão claro quanto eu queria. Porém, acho que o fato de ter morrido na TV faz com, inevitavelmente, morra a linguagem que era utilizada. Não dá pra achar que o fato da MTV parar de passar não muda nada, ou que muda pouca coisa. Muda a cadeia produtiva inteira, pois, apesar de ser muito legal bombar no YouTube era a exibição na MTV que conferia “legitimidade” ao vídeo. É só ver a quantidade de bandas que, ainda em 2006, cediam exclusividade dos seus vídeos por um tempo à emissora paulista, ainda que isso comprometesse a divulgação do trabalho, já que a rotatividade na MTV era baixa.

É ingênuo acreditar que o Multishow, por exemplo, ganha com isso. Não ganha. O foco do canal não é o videoclipe. Lá, o trabalho das bandas ocupa só algumas faixas de programação, como já existia desde a década de 80, em vários canais nacionais. Isso não sustentará a linguagem. O Multishow é um dos que mais perdem com a decisão da MTV. Era a MTV quem impulsionava essa indústria toda. O lugar da MTV no inconsciente coletivo quando nos referimos a videoclipe não será substituído. Videoclipe virou peça de marketing das gravadoras. Em tempo de vacas magras, se o espaço para a exibição das tais “peças de marketing” sofre um baque desse, certamente haverá um corte de investimento nessa atividade. I

O termo videoclipe foi cunhado sob um significado mainstream. Nunca soube exatamente o porquê do termo “clip” ter sido “anexado” ao vídeo. Não sei o que isso significava na origem, mas creio que se criou um conceito para esse termo. Talvez seja esse conceito que esteja morto e que a MTV abandonou por não se sentir atraída pelos novos sentidos que os vídeos estão tomando.


Vou pensar mais um pouco.

*************************
O vídeo (clipe?) do fim-de-ano é o indefectível "O jardineiro é Jesus e as arvóreses somos nozes", bombadaço. Sugiro que se perca dez minutinhos vendo a quantidade de desdobramentos que esse vídeo já teve, navegando pelo YouTube. Genial.

8.12.06

Ensaio sobre as perspectivas da música no século XXI

A notícia não chega a ser um choque, como dizem alguns por aí. Mas é suficientemente impactante pra gerar discussão. Prepare-se pois isso é, como o título diz, (a tentativa pretensiosa de fazer) um pequeno ensaio sobre o que vai ser a música no século XXI. É texto longo, sem ilustrações no meio, ok? Se estiver com pressa, melhor voltar depois. Mas volta mesmo, que vai ser legal.

Vamos lá então. Um pouco com atraso, mas com o tempo necessário para a reflexão que o tema merece. A partir de 2007, a MTV não exibirá mais videoclipes. Legal. Desde o último dia 5, estou pensando a respeito. Não quis tratar rapidamente disso, pois acho que há seriedade demais no assunto. O Bernardo já deu a palinha, o André Monnerat já fez um comentário muito pertinente. A MTV é o novo Youtube. Será? E aí, Bernardo? Inclui essa idéia no meu pensamento antes de sentar e tentar escrever a respeito.

É um absurdo a MTV parar de exibir videoclipes. Afinal, cadê a música? MUSIC é música até onde o meu inglês me permite. TELEVISON é televisão. MUSIC TELEVISION, oras!!! Se não tem clipe, vai ter música como?? Vai mudar de nome? A MTV já vinha numa linha descendente há algum tempo, agonizando, agonizando... até morrer agora.

Well... Not exactly. Ou você também é desses que acham que isso é a confirmação de uma morte anunciada? O parágrafo acima pode ser a explosão de qualquer um que se forjou musicalmente assistindo desde Thunderbird até Marina Person, passando, sobretudo, pelo Massari. A Marina Person foi a última VJ a entrar quando a emissora ainda tinha alguma relevância. Tudo bem. Vá lá que o “Piores Clipes do Mundo” foi um sopro com Marcos Mion e que o “Sinhá Boça” do Hermes e Renato é genial. Mas ainda estou falando da época em que a MTV tinha, e queria ter, relevância musical.

Só que mais do que a raiva da explosão de qualquer um que emita esse discurso, por trás da decisão da MTV há uma outra coisa muito mais séria: a afirmação de que o videoclipe é um formato morto. O videoclipe, como ele era conhecido morreu. E aí, não tem YouTube ou Revver que dêem jeito.

A MTV está certíssima na sua decisão e, com ela, mais uma vez, se coloca na vanguarda. A decisão de parar de passar videoclipes foi um golpe genial. Xeque-mate. Depois de anos de baboseiras, a emissora voltou a pensar a frente de todo mundo e deu um tchauzinho. “Fui”, ela parece dizer. Com o advento de ferramentas que dinamizaram a troca de vídeo e a produção destes, sobretudo em 2006, a MTV fez o que as gravadoras ainda não fizeram: viram que o seu produto já era e, rapidamente, sinalizam com a troca. Sem receios, corajosamente. As gravadoras ainda não se ligaram que o seu velho produto, o fonograma, já não tem mais valor e continuam tentando se manter num negócio que não existe mais. A MTV não. Ao assumir que não havia como competir com a evolução do mundo, mudou o rumo do barco e vai para outro lugar. Com o lançamento do Overdrive, ela se permite continuar com seu velho objeto, mas apenas no viés que ele ainda é rentável, no caso, via internet. Ela deixa um bracinho nos videoclipes, mas levanta vela, gira o mastro e se manda pra outro lugar.

Se o destino da MTV vai ser acertado ou não, só o tempo dirá. Mas é fato que o videoclipe está morto, pelo menos na forma como ele foi concebido. Depois do boom desse formato nas décadas de 80 e 90, os artistas começaram a se interessar cada vez mais por ele e a ver ali uma possibilidade de aumentar a comunicação com os fãs. Disso surgiu o investimento alto em clipes concentuais e tal. Com a evolução e barateamento do acesso à produção da linguagem audiovisual, muitos desses artistas começaram a trazê-la para ainda mais próximo do trabalho musical. A música eletrônica fincou o pé e anunciou a era dos VJs, cada vez mais presentes, inclusive nas bandas de rock. Vale lembrar que, no início da MTV Brasil, a emissora investiu cerca de 400 mil dólares, bancando 20 clipes de qualidade para artistas nacionais. O tempo democratizou tudo. Veio o DVD. Vieram artistas que souberam inovar com a possibilidade do DVD (atenção às datas!). As mudanças chegaram até o ponto de agora, quando tiraram o último bastião que mantinha o antigo formato da emissora: a transmissão e o selo de qualidade que ela representava no assunto “videoclipe”. Agora, perdeu playboy. Pra isso, o Youtube é a nova referência. O seu amigo é a sua maior referência. O MySpace é referência. Já tem louco achando que o sobremusica é referência... Brincadeira, esse último tem não...

(Abre janela) [[É isso mesmo: "O videoclipe não é tão televisivo quanto ele já foi. Apostar em clipe na TV é um atraso". Bernardo pode dizer melhor de quem é essa frase, mas ela é precisa, exata. Como um médico que diagnostica o câncer no momento que ainda pode ser tratado. A MTV não está mais morta. Pelo contrário, essa medida ressuscitou a emissora. Por mais que isso doa em quem queira dizer o contrário.]] (Fecha janela)

Vamos mais. Além de ter perdido tudo que lhe conferia status, o formato videoclipe mergulhou numa ladeira que ainda não chegou ao fim. Todas as referências estéticas desse início de século passam pela supremacia da agilidade à qualidade. Mais importante do que o vídeo em alta resolução é vê-lo antes de todo mundo. Isso, de certa forma, legitimou um certo amadorismo, que é saudável, para o gênero. Hoje, qualquer um pode criar um videoclipe genial, sem esforço. O vale-tudo tá aí. Mas esse vale-tudo é um pouco de nada-vale também. Minha namorada sempre se lembra de uma professora do primário que lhe dizia: “o que é de todos, parece não ser de ninguém”. Com videoclipe tá meio por aí.

Em algum outro momento eu escrevi aqui que o YouTube iria renovar a linguagem dos videoclipes, que já estavam começando a surgir os clipes com “cara-de-you-tube”. Não retiro o que disse, mas hoje em dia duvido um pouco mais que essa mudança estética vá acontecer a partir do referencial “YouTube”. O anúncio da MTV mostra que, não importa o formato em que se edita, filma ou monta, o conceito de videoclipe morreu.

E aí vem outro conceito, que é o da interatividade. Virou lugar comum dizer que hoje o consumidor quer interagir, participar. É verdade, sim. Tudo se encaminha pra isso. A passividade da tela não interessa mais a quem tem 13 anos e pode virar fã de uma banda que responde os seus e-mails ou que o guitarrista deixa um scrap pra você no Orkut. MTV for fuckin-what?!

Por fim, aquela frase do Chico Buarque de que a canção pode vir a ficar marcada como o formato consagrado da música no século XX e não mais que isso, ainda ressoa para mim. Mesmo considerando toda genialidade do rapaz, tenho lá minhas dúvidas até que ponto ele pensou sobre a profundidade dessa questão e sobre o leque de outras questões que ela abre. A música virou jingle. O Seu Jorge lançou “Sagatiba” dia desses. As empresas de telefonia são as maiores investidoras em eventos musicais no Brasil. O ringtone já é a principal fonte de receita para alguns artistas. Todo mundo pode produzir música. Cria-se o excesso e o limbo, onde o grão de ouro se perde em meio à terra batida. Alguns grãos sempre vão ser encontrados.

Faço a suposição de uma analogia entre o esvaziamento que as artes plásticas sofreram ao longo do século XX aos olhos do público e o que pode estar sendo o início de um processo para a música no século XXI. Não que as artes plásticas tenham perdido o seu valor intrínseco, mas o espaço para manifestação daquilo que era considerado especial (no sentido mais amplo que o termo pode assumir) cresceu e se ramificou. Desde as intervenções urbanas, passando pelos cartoons, chegando aos desenhos animados e ao grafismo de massa dos videogames, cortando caminho pela cultura do grafite, as pinturas a céu aberto e as obras coletivas. Tudo satura um pouco. Passa a ser natural. Todo mundo vê arte plástica o tempo todo. O jornal de todas as manhãs é arte plástica – no Brasil, principalmente depois das intervenções do gênio Amílcar de Castro nos anos 50. O metrô que se pega tem a logotipo, sinais pra todos os lados. O ônibus tem layout. Que família ainda manda alguém desenhar um brasão? O valor da arte, como um todo, me parece, se perdeu um pouco nessa banalização. Os grandes artistas plásticos (e aí incluo toda classe deles, desde escultores, até pintores, etc, etc, etc) eram financiados por mecenas e certamente não gostaram quando as técnicas começaram a se difundir e a lei de oferta e demanda chegou à seara deles. Hey boy, você quer ser músico mesmo se não for ter o carro do ano, se não for viajar por hotéis cinco estrelas e ser amado por uma infinidade de mulheres? Quer? É música ou é status? Criou-se um filtro de novo? Acho que as artes plásticas passaram por um processo parecido. Ainda não estou certo desse meu pensamento. Não tenho grandes conhecimentos, nem embasamentos teóricos para tal. É só uma impressão. Aceito questionamentos e topo mudar de opinião fácil fácil.

Acredito, sim, que com a música pode estar se iniciando um processo parecido com esse que supus para as artes plásticas de outrora. Hoje, há diferença de um jingle para um hit? Se ainda há, haverá sempre? O que a música eletrônica e seus minimals sub-graves querem ao transformar os sons em massa, em sensação física, manipulando o impacto direto que isso tem no corpo? Qual é o papel da música, se o Beck lançou o álbum infinito? É virar videogame? Posso remixar a sua? Posso fazer mash-ups? A música vai virar um jogo, um quebra-cabeça? O que é mais bacana: montar o quebra-cabeça ou contemplá-lo quando pronto?

A música é, cada vez mais, só uma grife. Um lugar. Uma idéia. Um sugestionamento. Por enquanto, o videoclipe morreu e isso faz parte do processo de se redimensionar do valor da música. Não ache que fui contraditório ao falar que o videoclipe morreu por enquanto. Náo. Ele vai voltar de alguma forma, renovado. Talvez com outro nome. A música não vai morrer. A evolução na vai parar. As novas linguagens vão sempre surgir, aperfeiçoando o que já se fez antes. A fusão sem volta da imagem com o áudio também não vai desaparecer, mas vai se renovar e incluir novos elementos na mistura.

Enquanto isso, a MTV larga na frente e deixa até os blogs sobre música (olha o trocadilho aí, gente!!!), ditos up-to-date, tentando especular e entender. Eles, da MTV, já estão lá na frente. Mas deixaram alguns buracos por aí pra serem ocupados. Quem pensar um pouco mais, pode sair na frente. O som não vai parar.


Enfim, a casa própria
Perda :: Dorival Caymmi
Dorival Caymmi :: Compilação de vídeos
Show: Momo, no Cinemathèque
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Agenda :: Momo, Hoje!
Aviso: Última Digital Dubs na Matriz
Entrevista: Fabrício Ofuji, produtor do Móveis Col...
Vídeo: Reckoner, de Gnarls Barkley
Vídeo: L'Espoir des Favelas, de Rim'K

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